Com
base em informações produzidas pelo principal fornecedor de equipamentos da
tecnologia de informação e comunicação, governo vai investir 150 milhões de reais em tablets para professores. Enquanto
o MEC alardeia o piso fenomenal de pouco mais de 1400 reais para os educadores - cujo valor é questionado na
Justiça por alguns Estados - tenta fazer a população acreditar que um
computador em sala de aula é a solução para a qualidade da educação no
país.Isso é um tremendo engano.Isso é crime de lesa- pátria. Precisamos de uma
revolução na educação. O principal elemento do processo de ensino-aprendizagem
é o professor, que a cada dia é menosprezado, sub-valorizado e agredido em sua
dignidade e integridade.A valorização do magistério não cabe na agenda política
do governo. Não rende votos. A propaganda enganosa e a desinformação, sim.
Não haverá mudança na educação
enquanto não houver a quebra dos paradigmas marxistas nas escolas e nas
universidades. Isso só tem provocado o atraso da educação no Brasil. A China dá
um exemplo ao mundo ao desprezar ideologias e paradigmas educacionais que não
dão resultados. A arma para vencer a corrida no ranking mundial do conhecimento
é a educação. A promoção tanto do professor quanto do aluno é o MÉRITO. Isso
não acontece no Brasil. O bom professor e o bom aluno não têm mérito. São
nivelados com os demais.
Gustavo Ioschpe
A tecnologia não nos
salvará (por enquanto)
A ideia de um laboratório de informática, um lugar
aonde se vai para estudar computação, é uma estupidez: ou o computador está
presente em sala de aula e é apreendido por professores e alunos como parte da
matéria, ou é inútil
Computador na sala
de aula é bom, mas nada substitui um professor bem preparado e
com proposta pedagógica sadia (Roberto Setton)
Durante
décadas, o Brasil ignorou suas carências na área educacional. Hoje, quando há
falta de gente qualificada e superlotação de presídios, consolida-se a
percepção de que o país não progredirá sem uma melhora radical no setor. Vem
também a percepção de que esse é um problema gigantesco e urgente, cuja solução
por vias normais levará tempo e demandará muito esforço. Surge então a busca
por uma “bala de prata”, uma solução potente e rápida que nos permita atalhar o
caminho. A bola da vez é a tecnologia.
Apesar
de ser um entusiasta das novas tecnologias, uma busca na literatura empírica me
obriga a concordar com um empresário que dizia: “Eu acreditava que a tecnologia
podia ajudar a educação. Mas tive de chegar à inevitável conclusão de que esse
não é um problema que a tecnologia possa ter a esperança de resolver. O que há
de errado com a educação não pode ser solucionado com tecnologia”. Seu nome?
Steve Jobs.
A
primeira saída milagrosa proposta por alguns de nossos líderes é simplesmente a
distribuição de hardware nas escolas. O tablet criado por Jobs é uma das ondas
do momento: nosso Ministério da Educação vai gastar 150 milhões de reais neste
ano na distribuição de 600 000
engenhocas a professores. Perguntei ao MEC quais os estudos que embasam a ideia
de que a distribuição desse material terá algum impacto sobre a qualidade do
ensino, mas não houve resposta. Nem poderia. Praticamente toda a pesquisa sobre
o assunto, não apenas no Brasil como no exterior, mostra que não há relação
entre a presença de computadores na escola e o aprendizado do aluno. Imagine
então um aparelho dado ao professor. O programa surgiu por vias tortas. A
primeira intenção era distribuir laptops a todos os alunos da rede pública. Mas
a experiência internacional tem mostrado que essa medida é muito custosa e
pouco eficaz, a ponto de cidades americanas que a implementaram já a terem
cancelado há anos. Os alunos estavam usando os computadores para colar em
provas e baixar pornografia. Mesmo no Brasil, o estudo sobre o impacto do
programa Um Computador por Aluno em sua fase piloto mostrou que só se
beneficiavam do laptop aqueles alunos que o levavam para casa; aqueles usados
apenas na escola não produziam melhorias no aprendizado. O MEC fez então essa
mudança de curso e resolveu destinar a verba aos professores, em uma medida que
certamente agradará à categoria mas não tem sustentação na pesquisa nem na
lógica.
No
mesmo momento em que Brasília anunciava a medida, o governo do estado de São
Paulo mostrou que desperdício pouco é bobagem. Ao mesmo tempo em que briga na
Justiça para não cumprir a (inócua, diga-se) lei do piso salarial dos
professores, o estado divulgou um investimento de 5,5 bilhões de reais, ao
longo de dez anos, para equipar suas salas de aula com lousas digitais. Chama
atenção a envergadura do projeto, em um momento em que também há farta
divulgação de que experiências pioneiras nos EUA têm mostrado que os distritos
que receberam essas máquinas vêm tendo desempenho pior do que a média de seu
estado. (Toda a bibliografia mencionada neste artigo está na íntegra em
twitter.com/gioschpe.) Para não ser leviano, pedi à Secretaria da Educação que
enviasse os estudos que embasam essa decisão. Inacreditavelmente, o material
encaminhado foi uma carta do presidente da Dell, fornecedora das lousas,
remetida ao secretário da Educação com um resumo de suposto estudo da Unesco
demonstrando o impacto positivo da tecnologia em projeto piloto na cidade de
Hortolândia. Depois de dias pedindo para receber esse estudo, a secretaria me
informou que não o possuía (!). O que leva a crer que tomou uma decisão
bilionária com base em uma carta do principal beneficiário do programa.
Acompanhando
essa obsessão já consolidada por maquinário, surge uma nova esperança de
revolução educacional através do ensino a distância. Seus proponentes sonham
com um cenário em que os melhores professores do Brasil dão uma aula e ela é
acompanhada por milhões de alunos, quer em sala de aula, quer em casa,
aprendendo em seu próprio ritmo. Assim nos livramos dos maus professores,
cortamos gastos e imediatamente damos um salto na qualidade do ensino ofertado.
Que eu saiba, nenhum lugar do mundo implementou sistema assim na educação
básica, de forma que não há estudos para comprovar a exequibilidade desse
plano, mas tenho fortes suspeitas de que é inviável. Se fosse possível
simplesmente transmitir conhecimento remotamente, a televisão já o teria feito.
A ideia é mais antiga ainda: em 1925, Thomas Edison, o inventor da lâmpada e do
fonógrafo, previa que a presença de livros em escolas estava prestes a acabar:
seriam substituídos por filmes. A tese segundo a qual a educação é um processo
unidirecional de transferência do conteúdo do professor para o aluno é
equivocada. Mesmo sem entrar em discussões pedagógicas, que não são a minha
praia, os estudos econométricos mostram que muitos dos principais fatores de
uma escola de sucesso — como a realização e a correção de dever de casa, provas
constantes, formato pergunta e resposta em aula — dependem de interatividade e
atenção ao progresso do aluno. O bom professor precisa conhecer profundamente a
matéria que ensina e, além disso, modular constantemente a maneira como a
transmite, levando em conta o estágio de aprendizado de seus alunos. Mesmo que
a internet tenha a interatividade que a TV não tem, é patentemente impossível
que um professor interaja com milhares ou milhões de alunos.
Uma
terceira área em que a tecnologia pode ajudar a educação é através de redes
sociais, para que alunos e professores se auxiliem mutuamente. Desconheço
pesquisas a respeito, dada a novidade da tecnologia, mas o potencial é
tremendo. Porém o fundamental certamente não é a tecnologia, e sim a decisão
que a antecede: na China, professores se reúnem constantemente em suas escolas
e, depois, em seu distrito para trocar idéias e melhores práticas. O Brasil
poderia fazer o mesmo. A tecnologia pode facilitar e potencializar esse
convívio, mas não é necessária nem suficiente para o seu surgimento.
Por
último, uma área que tem mostrado resultados positivos em educação é a da
utilização de softwares específicos para o aprendizado, especialmente no campo
da matemática. As intenções dessa utilização não são revolucionárias, nem os
resultados, mas pelo menos aí há evidências positivas. Algumas delas estão
postadas no meu Twitter.
O
fracasso da tecnologia em sala de aula, vinte anos depois do seu início, não
quer dizer que ela não possa trazer resultados no futuro. Há um consenso na
literatura de que inserir elementos tecnológicos usando o mesmo currículo e com
a mesma pedagogia — como normalmente são desenhados esses programas — é um
desperdício. A própria idéia de um laboratório de informática, um lugar aonde
se vai para estudar computação, é uma estupidez: ou o computador está presente
em sala de aula e é apreendido por professores e alunos como parte da matéria,
ou é inútil. A tecnologia é uma ferramenta pedagógica, assim como o
quadro-negro e o livro didático. Talvez mais poderosa, mas ainda assim apenas
uma ferramenta, que trará resultados se for usada por um professor preparado em
proposta que faça sentido pedagógico. O melhor software em educação continua
sendo, disparado, o cérebro de um bom professor.
Não
duvido de que um dia tenhamos máquinas que passem no teste de Turing,
demonstrando inteligência indistinguível da de um humano. Até esse dia chegar,
nossa batalha precisa ser a de ter bons professores dando boas aulas, sem
pirotecnias ou geringonças. O fato de o Brasil estar embarcando em mais esse
diversionismo é sintomático da falta de foco, de lógica e de ambição que domina
nosso diálogo nesse setor. Falaremos sobre isso nos próximos artigos.
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