quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Vírus Mortais

O Dr. Dadin Bonkole trabalha na Zona Vermelha de Ébola do Hospital Ingende.

Foto: Alex Platt / CNN
 

Médico que descobriu o ebola alerta para vírus mortais que ainda estão por vir


De Sam Kiley e Alex Platt, da CNN
23 de dezembro de 2020 às 16:04

Kinshasa, República Democrática do Congo – Apresentando os primeiros sintomas de febre hemorrágica, a paciente senta-se calmamente em sua cama, tentando acalmar duas crianças pequenas desesperadas para fugir do quarto de hospital em forma de célula. A cena acontece em Ingende, uma cidade remota na República Democrática do Congo (RDC).

A mãe e as crianças aguardam o resultado de um teste de ebola.

A paciente só pode se comunicar com seus parentes por meio de uma janela de observação de plástico transparente. Sua identidade é secreta, para protegê-la de ser condenada ao ostracismo por moradores locais com medo de uma infecção por ebola. Seus filhos também foram testados, mas, por enquanto, não apresentam sintomas.

Existe uma vacina e um tratamento para o ebola, que diminuíram a taxa de mortalidade do vírus.

Entretanto, a questão na cabeça de todos ali era: e se essa mulher não tiver ebola? E se, em vez disso, ela for a paciente zero da “Doença X”, a primeira infecção conhecida de um novo patógeno que poderia varrer o mundo tão rápido quanto a Covid-19, mas com a taxa de mortalidade de 50% a 90% do ebola?

Isso não é coisa de ficção científica. É um medo científico, baseado em fatos científicos.

“Todos nós devemos ter medo”, disse o médico da paciente, doutor Dadin Bonkole. “O ebola era desconhecido. A covid era desconhecida. Temos que ter medo de novas doenças. "

Ameaça à humanidade

A humanidade enfrenta um número não estimado de vírus novos e potencialmente fatais emergindo das florestas tropicais da África, de acordo com o professor Jean-Jacques Muyembe Tamfum, que ajudou a descobrir o vírus ebola em 1976 e tem estado na linha de frente da caça por novos patógenos desde então.

“Estamos agora em um mundo onde novos patógenos surgirão”, disse ele à CNN. “Isso é uma ameaça para a humanidade."

Quando jovem pesquisador, Muyembe coletou as primeiras amostras de sangue das vítimas de uma doença misteriosa que causava hemorragias e matou cerca de 88% dos pacientes e 80% da equipe que trabalhava no Hospital Missionário Yambuku.

Os frascos de sangue foram enviados para a Bélgica e os EUA, onde os cientistas encontraram um vírus em forma de verme. Eles o chamaram de “ebola”, em homenagem ao rio próximo ao surto no país, que na época se chamava Zaire.

A identificação do ebola contou com uma rede que conectou as partes mais remotas das florestas tropicais da África a laboratórios de alta tecnologia no Ocidente.

Agora, o Ocidente deve contar com cientistas africanos no Congo e em outros lugares para atuar como sentinelas para alertar contra doenças futuras.

Em Ingende, o medo de encontrar um novo vírus mortal continuou muito real, mesmo após a recuperação da paciente do primeiro parágrafo deste texto, com sintomas semelhantes aos do ebola.

Suas amostras foram testadas no local e enviadas para o Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (INRB) do Congo em Kinshasa, onde foram testadas para outras doenças com sintomas semelhantes. Todos os testes deram negativo. A doença que a afetou permanece um mistério.

Falando com exclusividade à CNN na capital da RDC, Kinshasa, Muyembe alertou para muitas mais doenças zoonóticas (aqueles que saltam de animais para humanos) por vir.

Febre amarela, várias formas de gripe, raiva, brucelose e doença de Lyme estão entre as que passam de animais para humanos, muitas vezes por meio de um vetor, como um roedor ou um inseto.

Eles já causaram epidemias e pandemias antes.

O HIV emergiu de um tipo de chimpanzé e se transformou em uma praga moderna mundial. SARS, MERS e o vírus da Covid-19, conhecido como SARS-CoV-2, são coronavírus que se espalharam para os humanos de “reservatórios” – o termo que os virologistas usam para designar os hospedeiros naturais do vírus – desconhecidos no reino animal. Acredita-se que a Covid-19 tenha se originado na China, possivelmente nos morcegos.

Perguntamos ao doutor Muyembe se ele acha que futuras pandemias poderiam ser piores do que Covid-19, mais apocalípticas. “Sim, sim, acho que sim”, afirmou.

Novos vírus em ascensão

Desde que a primeira infecção de animal para humano, a febre amarela, foi identificada em 1901, os cientistas encontraram pelo menos outros 200 vírus conhecidos por causar doenças em humanos.

De acordo com a pesquisa de Mark Woolhouse, professor de epidemiologia de doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo, novas espécies de vírus estão sendo descobertas a uma taxa de três a quatro por ano. A maioria tem origem animal.

Especialistas dizem que o número crescente de vírus emergentes é em grande parte resultado da destruição ecológica e do comércio de animais selvagens.

Conforme os habitats naturais desaparecem, espécies como ratos, morcegos e insetos sobrevivem onde predadores maiores são exterminados. Eles podem viver ao lado de seres humanos e são frequentemente suspeitos de serem os vetores que podem transmitir novas doenças.

Os cientistas relacionaram os surtos de ebola anteriores a uma forte incursão humana na floresta tropical. Em um estudo de 2017, os cientistas usaram dados de satélite para determinar que 25 dos 27 surtos de ebola localizados ao longo dos limites do bioma da floresta tropical na África Central e Ocidental entre 2001 e 2014 começaram em locais que haviam sofrido desmatamento cerca de dois anos antes.

Segundo eles, surtos zoonóticos de ebola apareceram em áreas onde a densidade populacional humana era alta e o vírus tem condições favoráveis, mas que a importância relativa da perda de floresta é parcialmente independente desses fatores.

Nos primeiros 14 anos do século 21, uma área maior que o tamanho de Bangladesh foi derrubada na floresta tropical da bacia do rio Congo.

As Nações Unidas alertaram que, se as tendências atuais de desmatamento e crescimento populacional continuarem, a floresta tropical do país pode desaparecer completamente até o final do século. Quando isso acontecer, os animais e os vírus que eles carregam irão colidir com as pessoas de maneiras novas e frequentemente desastrosas.

Só que não precisa ser assim.

Um grupo multidisciplinar de cientistas com base nos EUA, China, Quênia e Brasil calculou que um investimento global de US$ 30 bilhões por ano em projetos para proteger as florestas tropicais e interromper o comércio de vida selvagem e a agricultura seria suficiente para compensar o custo de prevenção de futuras pandemias.

Escrevendo na revista “Science”, o grupo disse que gastar US$ 9,6 bilhões por ano em esquemas de proteção florestal global pode levar a uma redução de 40% no desmatamento global em áreas com maior risco de disseminação de vírus.

As medidas podem incluir dar incentivos às pessoas que vivem nas e das florestas e proibir a extração de madeira em geral e a comercialização do comércio de animais selvagens.

Segundo cientistas, um programa semelhante no Brasil levou a uma queda de 70% no desmatamento entre 2005 e 2012.

Embora US$ 30 bilhões por ano possam parecer muito, os cientistas argumentam que o investimento se pagaria rapidamente. A pandemia de coronavírus custará apenas aos EUA cerca de US$ 16 trilhões nos próximos 10 anos, de acordo com os economistas de Harvard David Cutler e Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA.

O FMI estima que, globalmente, a pandemia custará US$ 28 trilhões em produção perdida entre 2020 e 2025, em relação às projeções pré-pandemia.

O sistema de alerta precoce

Muyembe agora dirige o INRB em Kinshasa.

Alguns cientistas ainda estão sentados nos escritórios apertados no antigo complexo do instituto onde Muyembe trabalhou pela primeira vez com o ebola nos anos 1970, mas outros estão em novos laboratórios, abertos em fevereiro.

O INRB é apoiado pelo Japão, Estados Unidos, UE, Organização Mundial da Saúde e outros doadores internacionais, incluindo ONGs, fundações e instituições acadêmicas

Com laboratórios de nível de biossegurança 3, capacidade de sequenciamento de genoma e equipamentos de altíssimo nível, as instalações não são um ato de ajuda beneficente: são um investimento estratégico.

Apoiados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e pela Organização Mundial da Saúde, os laboratórios INRB são o sistema de alerta precoce do mundo para novos surtos de doenças conhecidas como o ebola e, talvez mais importante, para aquelas que ainda não descobrimos.

“Se um patógeno emergir da África, levará tempo para se espalhar por todo o mundo”, disse Muyembe. “Portanto, se este vírus for detectado precocemente – em lugares como na minha instituição aqui – haverá oportunidade para a Europa [e o resto do mundo] desenvolver novas estratégias para combatê-los”.

Muyembe tem unidades de reconhecimento na linha de frente da guerra contra novos patógenos. Médicos, virologistas e pesquisadores estão trabalhando bem no interior da RDC, procurando vírus conhecidos e desconhecidos antes que possam causar novas pandemias.

Dois deles são Simon Pierre Ndimbo e Guy Midingi, ecologistas e caçadores de vírus na província de Équateur, no noroeste da RDC, onde fica a cidade de Ingende. Eles são a primeira ponta para sinais de doenças infecciosas emergentes (EIDs na sigla em inglês).

Em uma expedição recente, a dupla coletou 84 morcegos, retirando-os meticulosamente de suas redes e amarrando em sacos os animais que guinchavam e os beliscavam.

“É preciso ter cuidado. Caso contrário, eles mordem”, explicou Midingi, com as mãos em luvas duplas para proteção.

Uma única mordida de morcego pode ser o momento de uma nova doença fazer o salto dos animais para os humanos.

Ndimbo afirma que a prioridade deles é procurar sinais de infecção por ebola nos morcegos. O último surto da doença na província de Équateur foi atribuída à transmissão de pessoa para pessoa. Ao mesmo tempo, presume-se também que ele tenha vindo de uma nova cepa gerada em um animal reservatório da floresta. E ninguém sabe onde está ou o que é esse reservatório.

De volta ao laboratório em Mbandaka, os morcegos passam por testes de swab e amostras de sangue são coletadas para testar o ebola antes de serem enviadas ao INRB para testes adicionais. Os morcegos são então soltos.

Dezenas de novos coronavírus foram encontrados em morcegos nos últimos anos. Ninguém sabe o quanto eles podem ser perigosos para os humanos.

Exatamente como o ebola infectou os humanos pela primeira vez permanece um mistério, mas os cientistas acreditam que doenças zoonóticas como a febre hemorrágica do ebola e a Covid-19 dão o salto quando animais selvagens são estripados.

A carne de caça é a fonte tradicional de proteína para as pessoas que vivem nas florestas tropicais, mas atualmente é comercializada longe de onde é caçada, em esquemas globais de exportação. Estimativas da ONU mostram que até 5 milhões de toneladas de carne de caça são retiradas da bacia do rio Congo a cada ano.

Em Kinshasa, um comerciante brandia a carcaça defumada de um macaco colobus, com os dentes expostos em um sorriso horrível e petrificado. O ambulante vende os pequenos primatas por US$ 22, embora o preço, diz ele, seja “negociável”.

Os macacos colobus foram caçados até a extinção em algumas partes da RDC, mas o vendedor disse que poderia exportar muitos deles para a Europa de avião.

“Tenho que ser honesto, é proibido enviar macacos”, explica. “Temos que cortar suas cabeças e braços e embalá-los entre as outras carnes”.

Ele diz que recebe entregas todas as semanas, muitas vezes da cidade de Ingende, cerca de 650 quiômetros rio acima - a mesma aldeia onde os médicos vivem com medo do surgimento de uma nova pandemia.

Adams Cassinga, CEO da Conserv Congo e investigador de crimes contra a vida selvagem, disse que “só em Kinshasa, temos entre cinco e 15 toneladas de carne de caça exportada [por ano]. Algumas vão para as Américas, mas a maior parte vai para Europa. Principalmente para Bruxelas, Paris e Londres”.

Macacos defumados, partes enegrecidas de píton e presuntos de sitatunga, um antílope aquático, são macabros. Mas é improvável que carreguem vírus perigosos, que seriam mortos pelo processo de cozimento, embora os cientistas tenham alertado que até mesmo a carne de primata cozida não é totalmente segura.

Os animais vivos nos chamados mercados “úmidos” representam uma ameaça maior.

Neles, crocodilos jovens (com seus focinhos fechados com arame e as pernas amarradas) se contorcem um em cima do outro. Os comerciantes oferecem barris de caracóis terrestres gigantes, jabutis e tartarugas de água doce. Em outros lugares, há mercados negros de chimpanzés vivos e animais mais exóticos, alguns negociados em coleções particulares, outros indo para a panela.

A “Doença X” pode estar fazendo tique-taque dentro de qualquer um desses animais, trazidos para a metrópole por pessoas pobres que nutrem o gosto dos ricos por comidas e animais de estimação exóticos.

“Ao contrário do que diz a crença popular, carne de caça aqui, em áreas urbanas, não é para os pobres, é para os ricos e privilegiados. Há até altas autoridades que acreditam na superstição de que se você consumir um certo tipo de carne de caça, vai ter força”, contou Cassinga. “Há também pessoas que consomem como símbolo de status.

Além disso, tivemos também nos últimos 10 a 20 anos um afluxo de expatriados, principalmente do Sudeste Asiático, que exigem comer certos tipos de carne, como tartarugas, cobras e primatas”.

Cientistas já vincularam esses tipos de mercados úmidos a doenças zoonóticas. O vírus da influenza H5N1, conhecido como gripe aviária, e a SARS surgiram a partir deles.

A origem exata do coronavírus que causa a Covid-19 não foi confirmada. Mas a maior suspeita de sua origem recai sobre os mercados "úmidos", onde animais vivos são vendidos e abatidos para obter carne.

A comercialização do comércio de carne de caça é uma rota potencial de infecção. É também um sintoma da devastação da floresta tropical do Congo, a segunda maior do mundo depois da Amazônia.

A maior parte da destruição é conduzida por agricultores locais, que dependem da floresta economicamente: 84% do desmatamento da floresta é para abrir espaço para agricultura familiar.

No entanto, as técnicas de corte e queima usadas pelos habitantes locais aumentam a exposição humana a esse território outrora virgem e seus animais selvagens, um importante fator de risco para doenças.

“Quando alguém entra na floresta, muda a ecologia; e os insetos e ratos sairão deste lugar e irão para as aldeias, e com eles a transmissão dos vírus, dos novos patógenos”, disse Muyembe.

De volta ao Hospital Ingende, os médicos estão usando todos os equipamentos que podem ser encontrados: óculos de proteção, macacão de risco biológico amarelo, luvas duplas fechadas com fita adesiva, capuzes na cabeça e nos ombros, galochas sobre os sapatos e máscaras complexas.

Eles ainda estão preocupados que a paciente possa estar apresentando sintomas de uma doença semelhante ao ebola que não é, na verdade, o ebola. Pode ser um novo vírus, também pode ser uma das muitas doenças que afligem as pessoas aqui e que já são conhecidas pela ciência. Mas nenhum dos testes feitos aqui explicou sua febre alta e diarreia.

“Recebemos casos que se parecem muito com o ebola, mas quando fazemos os testes, eles dão negativo”, afirmou o chefe dos serviços médicos em Ingende, doutor Christian Bompalanga.

“Temos que fazer exames adicionais para ver o que realmente está acontecendo. No momento há alguns casos suspeitos por lá", acrescentou, apontando para a ala de isolamento onde a jovem e seus filhos estão sendo tratados. Semanas depois, ainda não havia um diagnóstico claro de sua doença.

Assim que um novo vírus começa a circular entre humanos, as consequências de um breve encontro na borda de uma floresta ou em um mercado úmido podem ser devastadoras.

A Covid-19 mostrou isso. O ebola provou isso. Na maioria das publicações científicas existe a suposição de que haverá mais contágios chegando, à medida que os humanos continuam a destruir os habitats selvagens. Não é um caso de “se” e sim de “quando”.

“A solução é clara. Proteja as florestas para proteger a humanidade – porque a Mãe Natureza tem armas mortais em seu arsenal.

Ingrid Formanek e Ivana Kottasová, da CNN, contribuíram para esta reportagem. Edição de vídeo por Mark Baron. Agradecemos aos doutores Meris Matondo e Richard Ekila do INRB, o Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica do Congo, por sua orientação durante o relato desta história.

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Correntes Marítimas


 As correntes marítimas correspondem às massas de água que migram em distintos rumos ao longo dos oceanos e mares. As massas de água que se locomovem não interagem com as águas dos lugares que percorrem, desse modo detêm suas características particulares como cor, temperatura e salinidade.

A formação das correntes marítimas, de acordo com diversas pesquisas, é resultado, dentre outros fatores, da influência dos ventos. Outro fator determinante na configuração das correntes é em relação aos movimentos terrestres, especificamente o de rotação, que faz com que as correntes migrem para direções contrárias, ou seja, no hemisfério norte movem-se no sentido horário e no hemisfério sul no sentido anti-horário, essa dinâmica das correntes é denominada de efeito de Coriolis.

As correntes não são homogêneas quanto à suas características e origem, elas podem ser: correntes quentes e correntes frias.

Correntes quentes: massas de água originadas de áreas da zona intertropical ou zonas tórridas da Terra, essas deslocam com destino às zonas polares.
Correntes frias:
 correntes marítimas com origem nas zonas polares e migram em sentido às regiões equatoriais.

Eduardo Henriques

Fonte: www.colegionap.com.br

Correntes Marítimas

Correntes marítimas são deslocamentos de massas de água oceânicas geradas pela inércia de rotação do planeta e pelos ventos. As correntes se movimentam por todos os oceanos do mundo, transportando calor e por isso apresentam influência direta na pesca, vida marinha e no clima.

As principais correntes marítimas da Terra são conhecidas como, por exemplo, a Corrente do Golfo, Corrente do Brasil, Correntes de Humbolt, entre outras. Por essas massas de água estarem em deslocamento, carregam consigo energia cinética. Essa energia cinética pode ser captada por turbinas, semelhantes às turbinas eólicas ou turbinas com pás dispostas como uma turbina de avião, que quando submersas são movimentadas pela corrente de água que passa por suas hélices.

Estima-se que a potência total das correntes oceânicas de todo mundo esteja por volta de 5 mil gigawatts, ou seja, com uma densidade de potência por volta de 15 Kw/m2. Estimou-se que captando apenas milésimo da energia disponível na Corrente do Golfo, isso representaria 21 mil vezes mais energia que toda energia concentrada na vazão das Cataratas do Niagara e atenderia a 35% da necessidade energética do estado da Florida.

Apesar das correntes marítimas se moverem apenas com 2% da velocidade dos ventos que as influenciam, a diferença de densidade entre o ar e a água do mar é muito grande, 835 vezes, com isso é necessário uma corrente marítima de menor velocidade que o vento para gerar uma mesma quantidade de energia. Para ser ter uma idéia uma corrente marítima de 19,2 km/h é equivalente a ventos de 176 km/h.

Além dessa vantagem sobre a energia eólica, também existem outras vantagens como: de colocar as turbinas mais próximas umas das outras, necessitando-se de menos espaço, isso devido a densidade e a velocidade da água; por estarem submersas, as turbinas não teriam impacto visual; as correntes oceânicas são relativamente constantes em relação a direção e velocidade.

A utilização da energia das correntes oceânicas como fonte alternativa está no início de seu desenvolvimento. O primeiro protótipo foi uma turbina de 350Kw, instalado em 2000 na costa de Cornwall, sudeste da Inglaterra. Mas muitos países já mostraram interesse neste tipo de fonte energética alternativa, como os Estados Unidos, China, Japão e países da União Européia.

Por este tipo de fonte energética estar num estágio inicial de aproveitamento e estudo, não existem turbinas sendo comercializadas, com isso é difícil dizer se a exploração desse tipo de recurso é viável. O maior gasto com este tipo de exploração é com os cabos submarinos que levam a energia da turbina até a costa.

Além disso, existe o problema de se evitar a proliferação de moluscos no equipamento e também de diminuir os efeitos de corrosão do material.

Impactos ambientais potenciais precisam ser no desenvolvimento e na utilização desta tecnologia, assim como a análise dos recursos necessários para a construção e operação. Para isso o planejamento do projeto necessita levar em consideração a proteção da vida marinha como, por exemplo, peixes e mamíferos.

Apesar das pás possuírem baixa velocidade, o que possibilita a passagem dos peixes com segurança, poderiam ser instalados cercas ou sonares, para a proteção de mamíferos como baleias e golfinhos. Além destes problemas, é necessário a monitoração da temperatura e da salinidade da água, pois elas podem ser influenciadas.

William Kubaski

Fonte: www.dee.ufrj.br

Correntes Marítimas

As grandes correntes marítimas influem sobre o clima, aumentam ou diminuem a temperatura costeira e as precipitações e podem auxiliar ou dificultar o trajeto dos navios.

Correntes marítimas são verdadeiros rios de água salgada e constituem um dos três principais tipos de movimentos oceânicos, juntamente com as ondas e as marés. As correntes são o único movimento do mar que determina o transporte de grandes massas de água até regiões muito afastadas de seu ponto de origem.

Podem aparecer tanto junto aos litorais como em pleno oceano; podem ser pequenas e locais, de interesse apenas para uma área restrita, ou de grandes proporções, capazes de estabelecer trocas de água entre pontos distantes; podem ainda ser de superfície ou de profundidade. Neste último caso, sua trajetória é vertical, horizontal e, em certos casos, oblíqua. Como possuem salinidade, temperatura, densidade e, às vezes, até cor características, podem ser individualizadas.

Sua velocidade e direção, em geral, variam durante o ano.

Causa das correntes

Dois grupos de forças podem ocasionar correntes marinhas. O primeiro abrange as forças que se originam no interior das águas oceânicas, devido a diferenças de temperatura, salinidade e, conseqüentemente, de densidade, o que implica diferenças de pressão. Quando, numa mesma profundidade a pressão é igual, o que raramente acontece, o líquido mantém-se estável. Se, ao contrário, houver diferenças de pressão ao longo de um mesmo nível, estabelece-se um declive e o deslocamento de massas de água. Devido ao movimento de rotação da Terra, esse deslocamento sofre um desvio que, no hemisfério norte, se faz para a direita e no hemisfério sul para a esquerda. Essas correntes são denominadas correntes de densidade.

O segundo grupo abrange forças como os ventos e a pressão atmosférica, que atuam sobre as águas, imprimindo-lhes movimentos. Os ventos, quando sopram numa mesma direção durante certo tempo, provocam deslocamento de águas e originam correntes. Estas, tal como as correntes de densidade, sofrem em mar profundo um desvio de 45o, para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no hemisfério sul. A velocidade da corrente diminui gradativamente com a profundidade.

Para estudar a formação de correntes pela ação direta dos ventos, basta comparar a carta da repartição dos ventos com a das correntes marinhas. Aos ventos alísios correspondem as correntes equatoriais; aos ventos de oeste das regiões temperadas correspondem as correntes de leste; aos ventos violentos de oeste do oceano Antártico corresponde a deriva para leste.

Os ventos podem também criar correntes ao impelir águas que, ao se acumularem numa área do oceano, ocasionam desníveis locais e, conseqüentemente, a formação de correntes para restabelecer o equilíbrio.

A pressão atmosférica age de modo semelhante: a alta pressão provoca o abaixamento do nível das águas; a baixa pressão tem efeito contrário. Tanto uma como outra provocam uma diferença de nível das águas e a conseqüente formação de correntes. As correntes originadas pelas diferenças de nível denominam-se correntes de descarga; as impulsionadas diretamente pelos ventos chamam-se de impulsão.

Tipos de correntes

Os oceanógrafos distinguem dois tipos de correntes marinhas de superfície: as verdadeiras correntes ou streams, que têm aspecto de rios, são profundas e deslocam-se com uma velocidade de, pelo menos, 0,5 nó (nó = 1.852m) por hora; e correntes menos caracterizadas, chamadas derivas ou drifts, espécie de lençóis pouco profundos, que deslizam à superfície do oceano com velocidade inferior a 12 milhas marítimas por dia (milha marítima = 1.852m).

A corrente que circunda a Antártica, no sentido oeste-leste, é excelente exemplo de deriva.

A temperatura das streams e drifts permite distinguir dois grupos de correntes: as quentes e as frias.

As quentes provêm da região intertropical e penetram nas regiões temperadas e frias (exemplos são a corrente do golfo do México ou Gulf Stream e a corrente do Brasil); as frias podem originar-se nas altas latitudes, caso em que se dirigem para as regiões tropicais, ou nas grandes profundidades, ascendendo para a superfície (exemplos são a corrente do Peru e a do Labrador). Essa disposição da circulação oceânica, que estabelece trocas de água entre as regiões quentes e as frias, ajuda a manter o equilíbrio térmico do planeta.

Correntes de superfície do Atlântico

No Atlântico há dois grandes circuitos de correntes marinhas superficiais: um ao norte e outro ao sul do equador.

Em ambos, exercem papel primordial as correntes da região equatorial, onde a ação dos alísios de nordeste e de sudeste criam duas grandes correntes quentes: a equatorial do norte e a equatorial do sul, que transportam, da África para a América, grandes massas de água com temperatura aproximada de 25o C. Entre as duas desloca-se, de oeste para leste, uma contracorrente, que compensa a saída de águas da costa leste.

Correntes do Atlântico norte

A corrente equatorial do norte nasce na altura das ilhas de Cabo Verde e é percebida nitidamente entre 5 e 10o de latitude norte. Dirige-se para oeste, reunindo-se, ao norte da América do Sul, à corrente quente das Guianas, que provém do hemisfério sul. A corrente resultante penetra no mar das Antilhas, atravessa os estreitos existentes entre o continente e as ilhas e adquire grande velocidade. Parte das águas dessa corrente escoa-se pelo sul das ilhas; pequena porção penetra no golfo do México e forma um turbilhão; e a maior parte dirige-se para o estreito entre Cuba e a Flórida, onde tem início a corrente do Golfo.

Dos vários ramos em que se divide a corrente do Golfo, destacam-se o setentrional e o meridional. O ramo meridional dirige-se para os Açores e a Espanha, envia turbilhões para o golfo de Gasconha e uma ramificação para o Mediterrâneo, através de Gibraltar.

O ramo setentrional, que é o mais importante, por exercer grande influência sobre o clima do noroeste da Europa, transporta águas que são uma mistura das do Golfo e da corrente do Labrador. Dirige-se para o mar da Noruega e envia uma ramificação para o sul da Islândia. Em seu percurso, passa pelas ilhas Britânicas, pela costa da Noruega, penetra no mar de Barents e margeia o sudoeste do Svalbard (Spitzbergen), onde suas águas tépidas se misturam às frias e pouco salgadas da corrente da Groenlândia, que, vinda do norte, percorre o litoral dessa ilha. O ramo setentrional, quando penetra no mar da Noruega, tem temperatura de 8o C e, à saída, de 1o C.

Essa soma considerável de calor perdido pela corrente incorpora-se, em grande parte, à atmosfera, o que explica o aquecimento das costas da Escandinávia, do mar de Barents e do litoral de Svalbard, com temperaturas mais elevadas do que as regiões da América do Norte situadas nessa latitude. Graças também à corrente do Golfo, Paris e Londres têm invernos mais moderados que o sul de Labrador, na mesma latitude. O circuito do Atlântico norte completa-se com a corrente das Canárias, que se dirige para o sul, acompanhando o norte africano. É uma corrente fria, por originar-se na subida de águas profundas e tem influência sobre o clima das costas do Marrocos.

Correntes do Atlântico sul. A circulação superficial do Atlântico sul é mais simples que a do norte. Na região equatorial, nas proximidades da costa africana, tem origem a corrente equatorial do sul, que corre de leste para oeste e é percebida de 2 a 3o de latitude norte até 20o de latitude sul, entre a África e o Brasil.

Sua velocidade, que é, no início, de 15 milhas por dia, aumenta em direção a oeste, chegando a atingir sessenta milhas.

Chocando-se com o litoral do Nordeste brasileiro, bifurca-se: um ramo segue a costa das Guianas (corrente das Guianas); outro, corrente do Brasil, dirige-se para o sul, margeando a costa da América do Sul, com velocidade de vinte milhas por dia, até além do estuário do Prata. Empurrada pela corrente fria das Falklands ou Malvinas, que vem do sul, costeando a Argentina, encurva-se em direção à África, sob a ação dos ventos de oeste; margeando a costa africana, desloca-se a corrente da Benguela, que transporta para o norte águas muito frias (às vezes inferiores a 1,5o C), provenientes do oceano Antártico e da subida de águas.

Influi sobre o clima das costas africanas, abaixando as temperaturas e tornando escassas as precipitações. À medida que a corrente avança em latitude, vai-se afastando da costa e desviando-se para oeste, até se confundir com a corrente equatorial do sul, completando o circuito do Atlântico sul. No litoral africano, é substituída pela corrente quente, proveniente do golfo de Guiné.

Correntes de superfície do oceano Pacífico

A circulação superficial das águas do Pacífico está intimamente relacionada com a circulação atmosférica e apresenta grandes semelhanças com as correntes do oceano Atlântico.

Essas correntes formam dois grandes circuitos: um no hemisfério norte, com sentido horário, e outro no hemisfério sul, em direção contrária. Na região equatorial, as águas, sob a ação dos ventos alísios de nordeste e de sudeste, deslocam-se de leste para oeste formando a corrente equatorial e a equatorial do sul.

Separando as duas correntes quentes, corre de oeste para leste uma contracorrente, que nasce da acumulação de águas na região ocidental do oceano. O volume de águas transportado pela contracorrente é de 25 milhões de metros cúbicos por segundo, o que demonstra a grandiosidade das correntes do Pacífico.

Correntes do Pacífico norte

A corrente mais importante do Pacífico é a Kuroshio ou corrente do Japão, equivalente ao Gulf stream do Atlântico norte. É uma corrente quente que, como a do Golfo, tem cor azul-escura, donde seu nome, que em japonês significa corrente negra. Transporta 25 milhões de metros cúbicos de água por segundo; sua velocidade, na altura da ilha de Formosa (Taiwan), é de dois nós e sua salinidade pouco elevada (34,5 por mil).

A temperatura das águas de superfície é sujeita a grandes variações anuais: no inverno é de 13o C (ao largo da ilha de Hondo ou Nippon, no Japão) e no verão eleva-se a 25o C.

A Kuroshio nasce do desvio para norte e depois para nordeste das águas quentes da corrente equatorial do norte, em virtude da conformação do litoral oriental da Ásia. Apresenta-se bem individualizada de Formosa ao Japão; afastando-se, então, do litoral, encurva-se e toma a direção de nordeste e depois leste.

Divide-se em vários ramos, destacando-se dois: o setentrional, que entra em contato com a corrente fria Oyashio, proveniente do mar de Bering, e transporta uma mistura de águas dessas duas correntes; e o principal, denominado por alguns autores corrente do Pacífico norte, que segue a direção oeste-leste, vai perdendo velocidade e acaba por se transformar numa corrente de deriva a deriva do Pacífico norte.

Junto ao litoral da América do Norte, a 50o de latitude norte, a corrente de deriva dá origem a duas correntes: a das Aleutas, que se dirige para noroeste, margeia a América do Norte e vai até as Aleutas, para onde leva temperaturas mais suaves que as que se registram na Ásia, à mesma latitude; e a corrente da Califórnia, margeia a península do mesmo nome e desvia-se para sudoeste. É uma corrente fria, por originar-se da subida de águas profundas.

Correntes do Pacífico sul

A mais importante das correntes do Pacífico sul é a corrente de Humboldt, ou do Peru, que margeia as costas da América do Sul, de Valdívia até o cabo Branco, com direção sul-norte. É mantida pela ação contínua dos ventos do sul e sudeste, que sopram nas costas da América do Sul, provocando uma diferença de nível nas águas do mar. A característica principal dessa corrente é a baixa temperatura (15 a 19o C), atribuída à subida de águas frias do fundo do oceano. Sua salinidade é fraca, e sua cor verde contrasta com o azul do restante das águas.

Exerce influência marcante sobre o clima do norte do Chile e do sul do Peru: as baixas temperaturas das águas impedem as precipitações nessas áreas, tornando-as áridas. Às vezes, durante o verão, a corrente de Humboldt é interrompida, em seu trecho mais setentrional, por uma corrente que se dirige para o sul, costeando o Peru até 15o de latitude sul. Essa corrente (El Niño), faz desaparecer temporariamente as águas frias do litoral, e ocasiona fortes chuvas no Peru.

Nas proximidades do Equador, as águas da corrente de Humboldt desviam-se para oeste, misturando-se às da corrente equatorial do sul, que atravessa o Pacífico até a Ásia. Um ramo dessa corrente quente dirige-se para o sul, passa ao largo do litoral oriental da Austrália (corrente da Austrália) e vai reunir-se no sul do Pacífico à fria deriva antártica. No centro do Pacífico sul, existe um vasto movimento de turbilhão.

Correntes do Índico

O oceano Índico possui, como o Atlântico e o Pacífico, duas correntes quentes na região equatorial, que se deslocam de leste para oeste e têm entre elas uma contracorrente. As águas da corrente equatorial do sul dirigem-se para a costa africana, entre o continente e a ilha de Madagascar, dando origem à corrente quente das Agulhas, que corre para o sul, com a velocidade de dois a cinco nós, indo incorporar-se às águas da corrente de deriva antártica. As águas dessa deriva, ao encontrar o litoral da Austrália, desviam-se para o norte, completam o circuito do Índico meridional e juntam-se à corrente equatorial do sul. Entre a corrente equatorial do sul, a das Agulhas e a deriva Antártica, ocorrem numerosos turbilhões.

Correntes do oceano Glacial Antártico

O oceano Glacial Antártico apresenta uma circulação superficial original. Nele existe uma corrente que se desloca de oeste para leste, e constitui um anel em torno do continente Antártico — é a deriva da Antártica, que exerce papel importante no sul do Pacífico, Índico e Atlântico. É ocasionada pela ação dos ventos dominantes. Junto ao continente, uma contracorrente se desloca de leste para oeste.

Fonte: www.biomania.com.br

Correntes Marítimas

As correntes marinhas podem ser consideradas autênticos rios de água salgada, que se deslocam na própria massa líquida dos mares e dos oceanos. São responsáveis pelo transporte de grandes massas de água e de detritos de um lugar a outro, às vezes pontos bem afastados.

Suas dimensões são variadas. Umas afetam áreas muito restritas, mas outras, de grandes proporções, chegam a deslocar-se por muitos milhares de quilômetros, interessando, de uma forma ou de outra, às terras situadas nas orlas oceânicas. Localizadas em pleno oceano, ou próximas às faixas litorâneas, as correntes podem ainda ser superficiais ou de profundidade. Neste último caso, sua trajetória pode ser horizontal, vertical ou mesmo oblíqua.

Os estudiosos da oceanografia distinguem duas categorias de correntes marinhas de superfície: as correntes verdadeiras e as derivas, que são menos caracterizadas.

As correntes verdadeiras deslocam-se com velocidades acima de 0,5 nó (um nó equivale a 1.852 metros por hora), enquanto as derivas apresentam-se como lençóis pouco profundos e deslizam na superfície dos oceanos.

As correntes e as derivas podem ser quentes ou frias:

As quentes originam-se nas regiões intertropicais (ou delas provém), e deslocam-se para as regiões temperadas e frias. Exemplos: a corrente do Golfo (Gulf Stream, em inglês) que tem origem no Golfo do México, segue a costa leste dos Estados Unidos e se dirige rumo à costa oeste da Europa; a corrente do Brasil, ao largo do sudeste brasileiro, e a corrente das Agulhas, ao largo da costa sudeste da África.

As correntes frias originam-se nas latitudes altas ou nas regiões oceânicas profundas, como as das Canárias, que flui do Atlântico Nordeste para sudoeste ao longo da costa noroeste de África, até à região do Senegal, desviando-se então para oeste e afastando-se da costa; da Califórnia, que banha as costas ocidentais da América do Norte; da Benguela, ao longo da costa sul da África, estendendo-se desde o Cabo da Boa Esperança até Cabinda, em Angola; e a do Labrador, que vai do sudoeste da Groenlândia até o norte, continua pela costa leste do Canadá, do norte até o sul, e se encontra com a corrente da Flórida.

Dois grupos de forças são responsabilizados pela formação das correntes e derivas: as que se originam no interior das próprias massas líquidas dos oceanos, ou seja, as diferenças de temperatura, salinidade, densidade e pressão; e as forças externas, como os ventos e a pressão atmosférica, que atuando sobre as águas são capazes de movimentá-las. Os ventos, soprando em uma mesma direção durante algum tempo, podem originar correntes marinhas de dimensões por vezes consideráveis.

As correntes marinhas, sobretudo as de grandes dimensões, exercem influência sobre o clima, provocando a elevação ou o abaixamento da temperatura nas costas por onde passam. Influem na formação das precipitações e dos nevoeiros; tomam parte no deslocamento dos icebergs das regiões polares; interferem na distribuição dos animais marinhos sensíveis à temperatura; exercem papel importante na modelação e configuração dos contornos dos litorais, no transporte dos sedimentos, etc.

Entre as correntes marinhas conhecidas destacam-se, além das já citadas, as correntes quentes Equatorial do Norte e Equatorial do Sul (que atravessam o oceano da África para a América, transportando grandes volumes de água à temperatura de 25 graus centígrados); a corrente das Guianas; a corrente fria das ilhas Falklands, ou ilhas Malvinas; a corrente da Guiné, todas no oceano Atlântico. No oceano Pacífico, a corrente de Kuroshio, ou corrente do Japão (também conhecida como corrente Negra, por causa da cor de suas águas), a corrente do Pacífico Norte, a deriva do Pacífico Norte, a corrente das Aleutas, a corrente do Peru, ou de Humboldt, e a corrente El Niño.

Ao soprar em direção ao oeste, os ventos alísios empurram as águas superficiais em direção ao lado oeste dos oceanos, fazendo com que haja acúmulo de água nessas regiões, com um valor médio de 4 centímetros acima do nível normal para cada 1000 quilômetros. Esse acúmulo de água, devido a força da gravidade quando retorna, fluindo “montanha abaixo”, gera as contra-correntes equatoriais, comuns a todos os oceanos. Os ventos do oeste formam as correntes que retornam para a região equatorial, completando o giro subtropical. Estes giros ocorrem no Pacífico e Atlântico norte e sul e Oceano Índico. Nas regiões subpolares, o mesmo não ocorrendo no hemisfério sul, pois não há barreiras de terra para obstruir o fluxo de água e criá-los. Assim, a corrente Circumpolar Antártica flui completamente em volta do planeta.

Em algumas áreas, as correntes oceânicas podem formar meandros que por sua vez podem originar anéis. A presença destes meandros e anéis foram primeiro descritos na corrente do Golfo (Atlântico norte), mas logo se percebeu que chegam a ser comuns em diversas correntes superficiais marinhas. As fortes correntes em torno desses anéis, isolam suas águas e organismos das águas adjacentes. Podem persistir por um bom tempo, possuindo uma vida média de 4 a 5 meses, embora já se tenha encontrado anéis que durariam por 2 anos ou mais.

Os maiores volumes de água transportados pelas correntes oceânicas superficiais ocorrem na corrente do Golfo e na Circumpolar Antártica que transportam cada uma cerca de 100 milhões de metros cúbicos por segundo. A maior parte das outras correntes são bem menores, como a do Brasil, que transporta no máximo 14 milhões de metros cúbicos por segundo. Mesmo assim, são volumes bastante significativos se comparados ao volume transportado pelo rio Amazonas, que atinge apenas 225 mil metros cúbicos por segundo.

A corrente Sul-Equatorial do oceano Atlântico, que se movimenta no sentido leste-oeste na altura do equador, bifurca-se ao alcançar a costa nordestina brasileira. A que se desvia para o norte, é denominada corrente das Guianas, e a que se volta para o sul, corrente do Brasil. Esta, ao se encontrar com a das Malvinas, afasta-se da costa, fluindo em direção leste. Na região sudeste, a velocidade da corrente do Brasil na primavera e verão é cerca de 1,4 nós (2,5 quilômetros por hora); no outono e inverno, sua velocidade se reduz a metade. Esta corrente desempenha, no hemisfério sul, o mesmo papel da corrente do Golfo no hemisfério norte, especialmente na geração de meandros.

FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

Fonte: www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br

Correntes Marítimas

As correntes marítimas conseguem influenciar o clima de uma região em função das características térmicas das águas que as compõe. Quando uma corrente se forma em uma região quente, ela levará consigo estas características e inlfuenciará locais longínquos. É o caso da corrente do Golfo que chega até ao continente europeu e ameniza o clima desta região.

O contrário pode acontecer, quando temos a passagem de uma corrente fria. Além das temperaturas, pode acontecer uma mudança drástica nos níveis de precipitação e contribuir desta maneira para a formação de um deserto. É o que acontece no deserto do Atacama, que é uma das regiões mais secas do mundo, pois temos no litoral do Chile a passagem da corrente fria de Humboldt. Ainda devemos lembrar que não chega umidade do continente, pois temos uma grande barreira geográfica – a Cordilheira dos Andes.

Fonte: professoralexeinowatzki.webnode.com.br

Correntes Marítimas

Introdução

A imensa quantidade de água que cobre a superfície da Terra constitui a característica mais impressionante e mais evidente do nosso planeta quando visto do espaço. Por isso mesmo é muitas vezes chamado de «o Planeta da água». O vapor e as partículas atmosféricas, embora formando nuvens bem visíveis, não representam senão uma ínfima fração do seu volume total.

A maior parte da água faz parte dos oceanos, distribuindo-se a pequena percentagem restante pelos lagos, rios e calotes glaciares, assim como pelos poros e anfractuosidades das rochas.

A interação entre a água, a atmosfera e a superfície da Terra, dá origem às nuvens, à neve, à chuva, às correntes, à evaporação e à infiltração.

A água constituinte dos oceanos não é estática, ou seja, existem movimentos de massas de água mais ou menos intensos, como são o caso das vagas, marés e correntes marinhas. As vagas e as marés são apenas movimentos oscilatórios, que em nada interferem na distribuição das temperaturas e da salinidade. Pelo contrário, as correntes marinhas propriamente ditas formam uma verdadeira circulação, que modifica o estado físico e químico da massa oceânica e cuja influência até se faz sentir de forma marcada no clima dos continentes.

Nas águas profundas, os movimentos são muito lentos tendendo a uniformizar as condições térmicas e de salinidade. A circulação nas camadas mais superficiais, muito mais rápida e com contrastes mais acentuados, merece particularmente a nossa atenção.

Um dos primeiros exploradores da América do Norte, Ponce de Leão, tendo ancorado nas costas da Flórida, viu uma das suas caravelas quebrar a amarra e partir ao sabor da corrente, depois descrita como a corrente do Golfo. Não são raras as velocidades de 1 m/seg., na corrente da Flórida observam-se 2 e até 2,5 m/seg, velocidades comparáveis às de um grande rio no período de cheia. Geralmente as maiores velocidades observam-se na proximidade das costas, nomeadamente nos canais, diminuindo no alto mar. O mesmo se pode dizer em profundidade, pois a velocidade diminui muito rapidamente, quase se pode dizer em progressão geométrica, à medida que nos afastamos da superfície; abaixo de 100 metros raramente é apreciável, e é apenas pelas diferenças de temperatura e de salinidade que seguimos as correntes abaixo de 200 metros.

II – AS CORRENTES MARINHAS

Ao contrário das vagas e marés cujos efeitos muitas vezes espetaculares não fazem senão transporte de águas a pequenas distâncias, os oceanos são o centro de movimentos permanentes podendo arrastar as partículas líquidas muito longe do seu local de origem: são as correntes marinhas (Fig. 1). Com velocidades fracas (não ultrapassam geralmente os 2 nós) a sua influência é considerável tanto para a navegação como para a economia geral dos mares e para o clima. O seu estudo não se pode separar dos outros numerosos domínios da oceanografia e está mesmo ligada à das correntes atmosféricas. Os problemas postos receberam soluções por vezes diversas ou controversas.

Distinguem-se em geral as correntes propriamente ditas, caracterizando-se unicamente pelas suas velocidades superiores a meio nó, a salinidade, a cor, a temperatura, a sua regularidade, etc., e as derivas de velocidades inferiores, muitas vezes irregulares e mal localizadas. Bem entendido que as correntes de maré ajuntam os seus efeitos, mas são intensas sobretudo na proximidade das costas e por outro lado o seu carácter alternativo torna o seu efeito nulo numa observação de longa duração.

Correntes Marítimas
Fig. N.º 1 – As Correntes Marinhas

As correntes marinhas designam-se sempre pela direção segundo a qual se dirigem, estando assim em oposição direta com o método de denominação dos ventos. Um vento Oeste, leva o ar do oeste para o leste, contudo, uma corrente Oeste leva a água do leste para o oeste. Mas também, há que ter em conta que a velocidade e a direção de todas as correntes são muito inconstantes, quase num grau igual ao da velocidade e direção do vento. Inclusive as correntes mais pronunciadas e mais constantes, como a corrente do Golfo e a corrente das Agulhas, podem sofrer, local e regionalmente grandes, variações. Abandonemos desde já a ideia de que as correntes marinhas são fenómenos bem definidos, à maneira dos rios terrestres.

II.1- Evolução Histórica do Estudo das Correntes Marinhas

Os marinheiros e navegadores desde há muito que conheciam o efeito das correntes marinhas nas rotas dos navios, caracterizando-as como «grandes rios dentro dos oceanos», houve contudo, alguns investigadores que se interessaram pelo assunto, estudando-o por conta própria, tal foi o caso de B. Franklin, ao qual se deve a primeira carta da corrente do Golfo (Fig. 2). M. Maury, foi um dos primeiros investigadores a preocupar-se com o estudo dessas correntes de uma forma mais aprofundada, pelo que em 1832, começou a reunir e a classificar uma série de informações. No entanto, estes estudos não passavam de descrições com pouco valor científico.

Foi W. Ekman em 1905, o primeiro a edificar uma teoria das correntes de deriva tendo em conta a rotação da Terra e uma «viscosidade turbulenta» vertical. Em 1936, C. G. Rossby introduziu um coeficiente de turbulência lateral, depois foram feitos progressos com os trabalhos de H. V. Sverdrup (1947) e R. O. Reid (1948) sobre a corrente equatorial do oceano Pacifico, que mostram que o vento é o principal motor das correntes marinhas. Por outro lado, M. Stommel, num estudo do modelo de oceano fechado retangular, mostrou que a intensificação oeste das correntes é derivada à variação da aceleração de Coriolis com a latitude.

Correntes Marítimas
Fig. N.º 2 – A Primeira Carta da Corrente do Golfo, traçada por B. Franklin

Em 1950, W. H. Munk e K. Hidaka apresentaram uma teoria de conjunto, permitindo representar o aspecto geral da circulação dum oceano fechado comparável ao oceano Pacífico. Munk empregou coordenadas retangulares e apresentou uma equação dando a função da corrente do transporte de massa, supondo-a constante; o gradiente seguinte, a latitude da constituinte vertical, a velocidade angular da rotação terrestre e o coeficiente lateral de turbulência. Hidaka operou com coordenadas esféricas, admitindo um coeficiente inversamente proporcional ao cosseno da latitude, obteve de seguida a função da corrente com a ajuda de um desenvolvimento em série e dum método de multiplicadores com cálculos muito extensos.

II.2- Correntes de Superfície

As verdadeiras correntes não ocupam mais que uma pequena porção dos oceanos, sendo a maioria unicamente a origem de derivas mais ou menos imprecisas, por outro lado, a direção, a velocidade e os limites de correntes estão longe de apresentar uma determinação absoluta, as variações, por vezes sazonais são bastante imprevisíveis e de causas mal conhecidas.

II.2.1- Métodos de Observação e Determinação das Correntes

Existem vários processos para determinar a presença ou não de correntes, e se os resultados forem positivos, estes processos permitem determinar não só a sua direção e sentido mas também a velocidade do movimento da massa de água, os quais se passam a discriminar.

II.2.1.1- Procedimentos Simples de Determinação

Perto das costas a determinação das correntes pode fazer-se pela observação de flutuadores donde se marca a posição em relação à costa, podem ser prendidos a uma linha ligada a um barco ancorado, permitindo assim uma medida bastante precisa da velocidade. Ao largo, o procedimento mais simples consiste em comparar a rota seguida por um navio tal como resulta do ponto feito todos os dias com a rota estimada conforme a velocidade e o rumo. Verifica-se sempre um desvio, devido à corrente, de que se pode calcular a direção e medir aproximadamente a velocidade. Na navegação a partir dum ponto A bem determinado (Fig. 3), o ponto realmente atingido B (obtido por observação astronómica), e o ponto estimado B’ deduzido do cabo e da marcha do navio. O vetor B’B representa a deslocação devida à corrente durante o intervalo de tempo considerado. A dificuldade reside na determinação correta de B’ tornada mais precisa com os instrumentos tais como o compasso giroscópico que possuem os navios modernos.

Um outro procedimento muito antigo consiste na observação dos pontos atingidos pelos objetos flutuantes abandonados em certos lugares dos oceanos. A operação é evidentemente morosa, necessita o emprego de um grande número de flutuadores e os resultados são falseados pela ação do vento. Este procedimento foi empregue sistematicamente pelo príncipe do Mónaco (1885-1890).

Correntes Marítimas
Fig. Nº 3 – Desvio esquemático da rota dum navio devido à intervenção duma corrente marinha

Os flutuadores são os dispositivos mais simples e práticos de medir as correntes marinhas. Normalmente utilizam-se dois tipos de flutuadores; amarrados aos navios ou deixados à deriva. Quanto aos primeiros consistem num pedaço de madeira com a forma de um setor circular, lastrado com chumbo ao longo da margem curva e preso ao navio por uma linha, por forma a que flutue verticalmente na água e se desloque na corrente afastando-se do navio, estando este imobilizado. Tomando nota da linha que se deixou correr ao fim de um certo tempo, calcula-se facilmente a velocidade da corrente.

Quanto aos flutuadores deixados à deriva, tem que se saber de antemão o local e a data da largada e o local e a data da chegada para se poder determinar o percurso, ou seja, a direção da corrente e a sua velocidade com base na relação do trajeto com o tempo necessário para fazer esse percurso, mas não nos devemos esquecer que estes resultados não são totalmente fiáveis e objetivos, pois diversas causas exteriores às próprias correntes podem influenciar esses resultados, tais como o vento, a saída da zona de correntes para outra zona onde haja ausência delas. Estes flutuadores são constituídos, normalmente, por garrafas contendo uma nota escrita em várias línguas com indicação do local e da data da largada. O achado de um único documento pouco significa, mas se ao longo de alguns anos se recolherem centenas destes documentos e se se estudarem, oferecem um meio útil para a determinação das correntes marinhas, e especialmente quando num espaço limitado do oceano se deixam ao mesmo tempo grandes quantidades destas garrafas em diferentes estações do ano. Ensaios sistemáticos deste género fizeram-se perto dos Açores, no golfo da Biscaia e no mar do Norte.

Nesta mesma ordem de ideias, a observação de restos de naufrágios, sabendo o seu local de origem, também nos pode dar resultados interessantes. Alguns casos ficaram célebres, como o do Jeannette (naufrágio dum navio americano) cuja deriva trouxe as primeiras luzes sobre as correntes do Oceano Glacial Árctico. Assinalemos igualmente a célebre deriva do Farm aprisionado pelos gelos (1893), e a proeza dos exploradores russos construindo um observatório sobre um iceberg à deriva (1937-1938).

II.2.1.2- Mensuradores de Correntes

Aqueles procedimentos não permitem mais do que determinações aproximadas das correntes superficiais. Têm-se procurado construir aparelhos que permitam uma medida da direção e velocidade da corrente a uma certa profundidade. O aparelho de Ekman, o correntómetro, possui um leme que lhe permite orientar-se seguindo a direção da corrente; no interior encontra-se uma agulha magnética de direção fixa, uma hélice posta em movimento pela corrente e munida de um conta-rotações. O envio de um precursor desbloca esta hélice e permite ao mesmo tempo a queda de uma bola no centro da agulha magnética. Esta bola segue uma goteira ao longo da agulha e vai alojar-se numa das trinta e seis casas dispostas sobre o contorno da caixa que contém a agulha. Um segundo precursor permite bloquear de novo a hélice. Logo que o aparelho é elevado, o exame do compartimento alcançado pela bola dá-nos a direção da corrente com 10º de aproximação, e o número de voltas dadas pela hélice dá-nos a sua velocidade.

O aparelho de Idrac (construído em 1928) contém igualmente um leme, uma agulha magnética e uma hélice, mas a direção é registada duma maneira continua pela fotografia sobre um filme desenrolando-se um movimento uniforme da imagem duma fonte luminosa através de uma placa circular contida na agulha magnética e portanto duas circunferências e uma espiral transparente (Fig. 4). A cada momento o valor CA/CB dá a direção da agulha magnética em relação ao aparelho, o filme obtém dois lugares das imagens A e B e uma curva sinuosa local da imagem de C. O registo da velocidade é obtido pela inflamação de uma lâmpada produzindo uma marca no filme ao fim de um certo número de voltas da hélice. São contudo aparelhos complicados e delicados. Mas um aparelho mais robusto foi proposto por Makaroff, medindo a velocidade da corrente pelo choque dum martelo sobre uma placa metálica ao fim de um certo número de voltas da hélice., o som podia ser ouvido a 500 metros de profundidade.

Contudo as dificuldades surgidas pela necessidade de subtrair a agulha magnética a todas as causas perturbadoras, o grande inconveniente de todos estes aparelhos é de exigir uma fixação do instrumento, quer dizer do navio, ora a largada de uma âncora em grandes profundidades apresenta grandes dificuldades técnicas (tem-se todavia chegado a fazer em locais com 5000 metros de profundidade), além disso, o navio oscila sempre em volta do seu ponto de amarragem.

Propuseram-se várias soluções para este problema (medida da corrente estando o navio a navegar à mesma velocidade em várias direções, medida simultânea da corrente à profundidade encontrada e a uma grande profundidade onde se pode considerar como bastante fraca, etc.). De qualquer maneira não se pode esperar uma grande precisão.

Correntes Marítimas
Fig. N.º 4 – Representação do aparelho de Idrac (segundo Rouch)

II.2.1.3- Determinação das Correntes por Métodos Indiretos

Os procedimentos anteriores são bastante imprecisos à medida que a profundidade aumenta. Não se pode ter uma ideia da circulação marinha profunda sem interpretar os resultados das medidas de temperatura, salinidade, etc. ; há contudo uma certa arbitrariedade e incerteza, o que explica certas opiniões contraditórias. O exame de perfis oceanográficos sobre os quais se traçam isotérmicas e isoalinas (linhas que unem pontos de igual salinidade), e das suas modificações (diurnas, sazonais, de longa duração), o traçado de diagramas temperatura-salinidade, igualmente a análise das quantidades de oxigénio dissolvido, do PH, de outros sais dissolvidos, permitindo seguir o movimento das águas de origens diferentes. Tem-se tendência a admitir atualmente o princípio da imiscibilidade das águas, em que grandes quantidades de águas com características diferentes têm tendência a guardar a sua individualidade (segundo Sandström).

O oceanógrafo Wüst pôs em evidência camadas características de origens diferentes, permitindo construir um quadro de conjunto da provável circulação marinha profunda. Bjerknes procurou precisar algumas noções precedentes, apresentando um verdadeiro método matemático de medida das correntes devidas às diferenças de densidade.

II.2.2- Causas das Correntes Marinhas

A massa oceânica é constantemente deslocada e misturada por movimentos mais ou menos rápidos, provocados pela interferência de dois mecanismos fundamentais: os ventos e as diferenças de densidade, cuja origem se encontra na superfície de contato entre a atmosfera e o mar.

Os especialistas estão longe de um acordo sobre a importância relativa de cada uma dessas causas. Evidentemente, os antigos autores deixaram-nos opiniões bastante fantasistas. Muitos, mesmo ainda atualmente, atribuem uma influência preponderante ao movimento de rotação da Terra. É um erro grave, a força centrífuga complementar que representa a sua ação, sendo nula para um corpo em repouso, não podendo produzir uma deslocação, mas antes, tem um papel importante na perturbação do movimento devido a outras causas. O vento foi durante muito tempo considerado como a única causa (correntes de impulsão); sem negar a sua influência, acrescenta-se também a importância das diferenças de densidade (correntes de descarga). Enfim, há a considerar todas as numerosas influências perturbadoras, pois estão todas relacionadas umas com as outras.

II.2.2.1- Correntes de Impulsão sob a Influência de Agentes Externos

Os ventos regulam as correntes, tanto em direção como em velocidade, não tendo em conta as diferentes correntes de ar locais e de contínua variação, mas sim os grandes sistemas de circulação atmosférica. Os ventos que têm maior influência, são os das zonas temperadas (lat. entre 30 e 60º) que sopram de oeste para leste e os alísios que, nas zonas equatoriais, têm uma importante componente de leste para oeste. Estes ventos combinados com a existência de barreiras continentais, vão dar origem, nas zonas subtropicais, a largas correntes marinhas que circulam no sentido retrógrado no hemisfério norte e no sentido direto no hemisfério sul.

Assim os ventos regulares tendem a arrastar na sua direção as águas superficiais, produzindo assim uma impulsão contínua e geradora duma corrente permanente.

O comportamento do vento pode explicar-se por duas causas principais: a pressão atmosférica e a rotação da Terra. A pressão atmosférica está intimamente relacionada com a temperatura, o efeito calorífico do sol na zona equatorial obriga o ar a expandir-se, por isso sobre cada unidade de superfície nesta zona da Terra, há menos ar do que nas zonas para o norte e para o sul, formando-se deste modo aí uma zona de baixa pressão. Inversamente, nos pólos, onde o efeito de aquecimento do sol é menor, o ar não se expande tanto, e forma-se aí uma zona de alta pressão.

Como o ar sopra de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão, poderia pensar-se que os principais ventos à superfície da Terra soprariam em linha reta dos pólos para o equador. Há, porém, dois fatores que complicam a questão. O primeiro, é que, os ventos polares tendem a dividir-se em torvelinhos logo no inicio da sua viagem. Os centros destes formam bolsas de baixa pressão atmosférica, e a presença de muitos torvelinhos em duas zonas, uma em cada pólo, produz o efeito de abaixamento de pressão nessas latitudes, semelhante ao que se encontra na zona equatorial. Daí resulta que o ar entre as zonas equatorial e polares, em cada hemisfério, está a relativamente alta pressão, e por isso tende a soprar, ou para fora em direção da faixa de torvelinhos do seu próprio hemisfério, ou para dentro, em direção do equador.

Contudo, há ainda um segundo fator perturbador a considerar, o movimento de rotação da Terra, deflete os ventos de maneira a que soprem ao longo duma linha orientada para, sudoeste e nordeste no hemisfério norte, e para sueste e noroeste no hemisfério sul. Assim estas direções donde sopram os ventos predominantes, explicam em grande medida o comportamento das correntes marinhas mais importantes, e especialmente, os grandes remoinhos que se encontram nos Oceanos Atlântico e Pacífico.

Numerosas fórmulas empíricas foram propostas para calcular a velocidade da corrente produzida pelo vento, mas variam bastante segundo os lugares de observação, a viscosidade da água (dependente da temperatura) tendo uma certa influência.

Por outro lado, essas fórmulas não resolveram os problemas das correntes em profundidade. Uma primeira teoria de Zöppritz deu resultados pouco satisfatórios, pois não tinha em conta a força centrífuga complementar que tem por projeção horizontal (para um corpo provido de uma velocidade horizontal) uma força perpendicular a esta velocidade, dirigida para a direita no hemisfério norte, mesmo fraca, tem tendência a encurvar uma trajetória retilínea.

Ekman criou uma teoria tendo em conta as considerações precedentes e também a viscosidade. Resulta que num oceano de grande profundidade o vento dá origem a uma corrente superficial, cuja direção faz um ângulo de 45º (para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no hemisfério sul) em relação à do vento. Este desvio, independentemente da latitude, aumenta nas camadas profundas (que a viscosidade arrasta a seguir o movimento das camadas superiores com uma velocidade mais fraca). À medida que o movimento se propaga em profundidade, a sua velocidade diminui e o desvio aumenta, de tal maneira que a deslocação média da massa transportada faz, nas bacias profundas, um ângulo de 90º com a direção do vento. A espessura afetada é maior perto do equador do que nas altitudes altas, mas, mesmo com vento forte e constante, não ultrapassa algumas centenas de metros.

A uma certa profundidade, designada profundidade limite da corrente, o desvio é de 180º em relação à corrente superficial, a velocidade não ultrapassa os 4% das da superfície, atingindo no máximo 500 m para as velocidades usualmente observadas. O desvio inicial diminui com a profundidade do oceano logo que esta seja inferior à profundidade limite. A não homogeneidade da água (diferenças de densidade) arrasta também uma diminuição desta profundidade. As correntes de impulsão não passam assim de fenómenos relativamente superficiais.

Ao contrário das diferenças de densidade, o vento não atua sobre toda a massa de água, mas somente à superfície. Sempre que as moléculas da superfície são arrastadas, vão arrastar outras, por atrito, mais profundas e que estão em contato com elas, e assim sucessivamente. O vento tem então uma ação sobre uma certa espessura de água, mas esta espessura não é infinita, porque a velocidade de impulsão diminui muito rapidamente devido ao atrito, normalmente uma corrente superficial com uma velocidade de 1 m/seg. é nula a 600 metros de profundidade.

Em contrapartida, intervém também, a força de Coriolis, que imprime à massa de água um desvio para a direita no hemisfério norte e para a esquerda no hemisfério sul, estando diretamente relacionada com o movimento de rotação da Terra.

Por outro lado, o vento, arrastando as partículas de água superficiais, determina um movimento de compensação que vai restabelecer o equilíbrio, a água de substituição pode vir de partes superficiais vizinhas da toalha oceânica, dando assim origem a uma corrente de compensação.

Mas a água de substituição pode ser igualmente fornecida pelas camadas imediatamente inferiores; é o processo de ascensão (upwelling) (Fig. 5).

Correntes Marítimas
Fig. N.º 5 – O processo de ascensão das águas profundas (upwelling)

A força de Coriolis, provoca igualmente dois outros fenómenos mais importantes, primeiro, quando o vento sopra sobre o oceano durante muito tempo, imprime às correntes velocidades e direções que se escalonam segundo uma espiral, chamada espiral de Ekman, cujo resultado é o de arrastar as águas numa direção perpendicular à do vento. É assim que os alísios do nordeste e os ventos do setor oeste contribuem para acumular a água no Mar de Sargaços. Consoante as variações da força de Coriolis em função da latitude empurram contra as margens ocidentais das bacias oceânicas, os turbilhões tornam-se mais estreitos e mais rápidos. Uma corrente de bordo ocidental, como a do Golfo, é inicialmente uma corrente litoral e estável, mas à medida que se afasta para o largo, o seu percurso torna-se sinuoso.

II.2.2.2-Correntes de Descarga sob a Influência de Agentes Internos

Estas correntes podem ser excepcionalmente produzidas por uma verdadeira desnivelação devida ao vento forte de um ciclone, a grandes diferenças de pressão atmosférica entre pontos vizinhos, a grandes descargas de águas fluviais, etc. Mas são essencialmente causadas pelas diferenças de densidade das massas de água, originadas por variações da temperatura ou da salinidade (devidas a diferenças de aquecimento, evaporação, presença de águas com origens diversas, descargas de águas doces, etc.), ou ainda de convergências e divergências entre as correntes superficiais.

Nas regiões equatoriais, a água aquece muito, resultando um efeito duplo: em primeiro lugar, faz com que a água se expanda e, por consequência, se torne menos densa; em segundo lugar, o calor evapora parte dela para a atmosfera, fazendo com que a que não é evaporada se torne mais salina. Pois que, um aumento de salinidade provoca um aumento de densidade, contrastando este aspecto com o anterior, mas o primeiro predomina sobre o segundo e, afinal, a água superficial no equador torna-se cada vez menos densa em virtude do aquecimento solar.

Nos pólos, o ar frio tende constantemente a manter a temperatura da água a um nível baixo, tornando-a mais densa. Ao mesmo tempo, a salinidade vai crescendo com a congelação, pois que, quando a água do mar congela, uma grande proporção dos sais são segregados da solução (efetivamente, o gelo marinho é quase doce), de maneira que a salinidade da água aumenta, e torna-se, por este fato, mais densa.

Assim, à medida que a água equatorial se expande, tende a elevar o nível do mar nessas regiões. Ao mesmo tempo a elevada densidade das águas frias, temperadas e polares, obriga-as a afundarem-se, resultando daqui, que a água superficial, no equador, tende constantemente a fluir para os pólos.

As convergências fazem mergulhar as águas superficiais e contribuem assim para a oxigenação das massas profundas, as divergências permitem, pelo contrário, a subida de águas ricas em matérias minerais (fosfatos e nitratos), que, chegando até à camada superficial penetrada pela luz, alimentam um plâncton abundante.

Ao longo dos litorais, consoante a direção do vento, as águas em movimento acumulam-se na superfície submarina inclinada ou afastam-se dela: em consequência, as águas litorais tendem a mergulhar ou a subir.

A origem principal dos movimentos verticais reside, no entanto, nas diferenças de densidade que o contato com a atmosfera provoca nas águas superficiais através das variações de salinidade e temperatura. Quando a salinidade aumenta (nos lugares onde a evaporação é superior à alimentação em água doce através das precipitações, dos rios ou da fusão dos gelos), as águas tornam-se mais pesadas e tendem a mergulhar.

O Mediterrâneo e o Mar Vermelho são dois exemplos grandiosos deste fenómeno: injetam respectivamente no Atlântico e no Índico massas de água salgada e pesada, que mantêm bastante tempo a sua individualidade antes de se misturarem pouco a pouco com as águas profundas de outras origens. Pelo contrário, os grandes rios e as barreiras de gelo originam películas superficiais de águas leves e pouco salgadas, que se espalham sobre as águas oceânicas mais pesadas.

Mais importante, no entanto, como fator de diferenciação da densidade das águas superficiais é o seu aquecimento ou arrefecimento em contato com a atmosfera, por afetar zonas inteiras. As águas frias, sendo mais pesadas, tendem a mergulhar para os fundos oceânicos, ao passo que as águas quentes e leves se espalham à superfície numa película delgada. Como consequência, os mares polares apresentam uma circulação vertical ativa e as suas águas são poderosamente remexidas e homogeneizadas, ao passo que as extensões marinhas intertropicais são caracterizadas por uma estratificação térmica estável muito acentuada. Uma superfície de descontinuidade nítida, a termoclina, separa uma delgada camada quente (50 m a 200 m de espessura) das águas profundas alimentadas lateralmente a partir das águas frias das latitudes elevadas.

Este fato explica que os mares tropicais sejam semidesertos do ponto de vista biológico: as águas superficiais penetradas pela luz encontram-se empobrecidas em minerais nutritivos pelos animais e plantas pouco abundantes que nelas vivem, sem possibilidade de renovação pelas águas profundas. Apenas escapam a esta pobreza os lugares de divergência superficial entre as correntes, onde a subida de águas profundas (upwelling) renova constantemente a riqueza mineral; aí se encontram alguns dos grandes pesqueiros.

A velocidade dos movimentos que afetam as águas marinhas é muito variável. Certas correntes localizadas e temporárias, como as que as marés originam nos estreitos, chegam a alcançar dezenas de quilómetros por hora, mas as grandes correntes superficiais permanentes são muito mais lentas, atingindo alguns quilómetros por hora no máximo.

II.2.2.3-Influências Geográficas Terrestres

A forma das costas tem influência nas correntes locais. Quando uma corrente marinha chega a um canal estreito, estreita o seu corte transversal, ficando logo em equilíbrio com o que perde em largura, e também em profundidade por um aumento considerável de velocidade. De modo que numa determinada unidade de tempo, passa o mesmo volume de água como se fosse em mar livre. Temos como exemplos, a Corrente do Golfo, nos estreitos da Flórida; a Corrente Equatorial Atlântica do Norte, no bordo exterior das Pequenas Antilhas. Um dos fenómenos mais comuns é o aumento de velocidade naquele bordo da corrente, que é comprimida pela terra.

A terra pode produzir também uma divisão da corrente, como o caso da Corrente Equatorial Atlântica do Sul, que na proximidade do cabo de S. Roque, divide-se em dois ramos, dos quais, um se dirige para NW até à região da Corrente do Golfo, e a outra para SW, formando ali a Corrente do Brasil.

Por esta influência das formas das costas, as correntes de impulsão devidas ao vento (correntes forçadas), saem fora da esfera das forças que as condicionam em primeiro lugar, para seguirem logo como correntes livres para regiões cujos ventos não apresentam nenhuma relação com a direção do movimento das águas.

As correntes livres apresentam-se quase sempre como correntes de impulsão e compensação, pois segundo a condição de continuidade, toda e qualquer massa de água, levada de um lugar para outro, deve ser restabelecida de novo, seja por descargas à superfície ou por subidas das profundezas. Todo o movimento de água produz por sua vez outro movimento.

Os grandes movimentos equatoriais da zona tropical, dirigidos para W, podem existir somente se receberem constantemente uma compensação: as correntes das Canárias e de Benguela, são por esta razão movimentos de compensação. Provavelmente também existiriam, se na região não prevaleceriam, os ventos de NE e SE, que lhe comunicam a primeira força impulsiva.

Em pequena escala, tais movimentos de compensação, chamam-se também correntes de reação. Caracteriza-as uma direção retrógrada, em relação à corrente principal, e assim podem apresentar-se também, além dos movimentos horizontais, movimentos verticais de reação.

Suponhamos A (Fig. 6) na direção de uma corrente principal que passa ao longo duma costa, na reentrância da costa (em B) ocorrerá uma corrente de sentido retrógrado.

A Fig. 7 representa o corte vertical da desembocadura do Congo, por cima corre até ao mar, formando uma delgada camada, a água doce do rio Congo, de cor amarelada, enquanto por baixo, a água esverdeada e pesada do mar é atraída por sucção para a desembocadura pelo movimento de afluência da água fluvial. A água chega assim muito próximo da superfície, de maneira que a hélice de um barco de grande calado revolve a água esverdeada do mar entre as águas argilosas e amareladas do rio.

Correntes Marítimas
Fig. N.º 6 – Origem das correntes de reação

Correntes Marítimas
Fig. N.º 7 – Processo de ascensão das águas marinhas, por influência da descarga de águas fluviais

II.2.3- Considerações Gerais da Circulação Oceânica Superficial

Se olharmos para um mapa de conjunto da distribuição das correntes superficiais (Fig. 1), verificaremos que não existem, como na circulação atmosférica, zonas onde predomine inteiramente uma direção de movimento. A atmosfera é una, ao passo que o mar está dividido em oceanos.

Dois fatos devem, em especial, chamar a nossa atenção:

1º, as correntes formam circuitos turbilhonares separados nos diferentes oceanos e nos dois hemisférios
2º, 
o movimento realiza-se em sentido inverso de um e do outro lado do equador.

Devemos concluir que a circulação é influenciada por:

1º, pela forma das bacias oceânicas
2º, 
pela rotação da Terra. Qualquer que seja a origem do movimento superficial das águas, deveremos ter em conta esta dupla conclusão.

Analisando mais pormenorizadamente, verificamos que as correntes que vão de encontro às massas continentais sofrem uma espécie de reflexão e são obrigadas a dividir-se, dependendo a importância relativa dos ramos assim formados do ângulo segundo o qual o obstáculo é abordado.

Quando o espaço é limitado, as águas deslocadas tendem a voltar ao ponto de partida: é uma das causas dos circuitos turbilhonares. Mas o regresso das águas pode fazer-se mais diretamente; deparam-se-nos na zona equatorial correntes dirigidas em sentido contrário ao do movimento geral e a que podemos chamar correntes de compensação.

Há duas espécies de correntes: correntes forçadas, diretamente submetidas ao impulso que as produz e, correntes livres, que são a sua consequência. Estas últimas desenvolvem-se cada vez mais, espalhando-se e acabando os circuitos. É evidente que o desvio devido à rotação da Terra deve exercer-se especialmente nas correntes livres, é uma força independente da direção do movimento, que atua sobre todas as deslocações produzidas à superfície da Terra, e proporcional à velocidade do movimento e da latitude. A tendência para os circuitos turbilhonares parece mais vincada nas latitudes elevadas.

Quanto aos ventos, há numerosas provas da sua influência na formação das correntes superficiais, em particular o exemplo de certas regiões onde as variações sazonais dos ventos são acompanhadas de variações análogas das correntes marinhas (Oceano Indico Setentrional). No entanto é nas baixas latitudes onde reinam os ventos regulares que esta influência aparece preponderante. Mas as correntes assim formadas podem prosseguir o seu caminho para fora de regiões dominadas pela ação destes ventos, tomando assim o comportamento de verdadeiras correntes livres cada vez mais desviadas da sua direção inicial pelo movimento de rotação terrestre.

A presença dos continentes é também um elemento perturbador importante, nalguns casos a presença de obstáculos conduz a acumulações de águas, dando às correntes resultantes características de correntes de descarga. Os movimentos de águas produzidas por estas correntes dão origem às correntes de compensação mais horizontais que verticais (consistindo na subida de águas frias das profundezas); estas correntes verticais ascendentes são particularmente nítidas ao longo das linhas de divergência das correntes superficiais (onde duas correntes tendem a levar as águas em direções diferentes), ao contrário, as linhas de convergência (encontro de duas correntes), ao longo dos obstáculos, pode-se assistir à descida de águas superficiais para os fundos.

Mas, nas latitudes médias, os fenómenos são mais complexos e, as correntes de densidade têm um papel importante. Numerosas circulações superficiais são assim devidas a causas múltiplas, pode-se concluir em particular que a direção varie pouco com a profundidade, a variação terá sentido contrário, segundo Ekman, seguindo que a causa é o vento ou a densidade.

Por outro lado, os fenómenos estão ligados, uma corrente (mesmo devida ao vento) contribuindo para a aproximação de águas de natureza diferente criando variações de densidade, em particular a corrente devida à rotação da Terra tende a acumular para a direita (no hemisfério norte, o contrário no hemisfério sul) as águas leves da superfície que transporta, produzindo para a esquerda uma porção de águas pesadas do fundo. Explica-se assim a presença de águas frias à direita de numerosas correntes quentes (nomeadamente na Corrente do Golfo). Segundo Buchanan, as densidades terão mesmo um papel na formação das correntes equatoriais, o calor e o vento produzem uma evaporação intensa, donde um aumento de densidade das águas mais salgadas que tendem a descer e a serem substituídas pelas águas costeiras (mais leves devido à dissolução de águas doces dos rios).

Nas latitudes elevadas, as diferenças de densidade são preponderantes. Petterson atribui à fusão dos gelos polares um papel importante, as suas experiências mostraram que uma corrente de água salgada quente se dirige em direção à parte inferior dos bancos de gelo, enquanto à superfície uma corrente de água fria leve pouco salgada e em profundidade uma corrente de água fria pesada se dirigem em sentido contrário ao da primeira. Segundo ele as correntes não são puramente locais, tendo uma grande influência na circulação das águas dos oceanos vizinhos. De qualquer forma, assiste-se à sobreposição de camadas de águas de características diferentes, segundo as experiências de Sandström, todo o movimento da camada superficial determina uma inclinação da superfície de separação com transporte por atrito da camada inferior. Podem-se assim produzir verdadeiros circuitos de sentidos de rotação opostos (Fig. 8).

Correntes Marítimas
Fig. 8 – Experiências de Sandström (segundo Rouch)

A superfície de separação das duas camadas de água de natureza diferente apresenta por outro lado variações periódicas em altura, da ordem da dezena de metros, postas em evidência por Petterson que lhe deu o nome de marés internas, sendo reveladas pela variação periódica da temperatura e da salinidade a este nível, mas pode-se por em evidência o movimento interno através de um flutuador. Os períodos são variados mas na maioria são meio-diurnos, o que parece revelar a influência das marés.

Há todavia outras causas, em particular meteorológicas estando o fenómeno longe de ser totalmente elucidado. Os limites das grandes massas de águas de características diferentes apresentam igualmente variações sazonais de grande amplitude.

II.2.4- Influência das Correntes Marinhas nos Climas

As trocas constantes de calor e humidade na superfície de contato entre as águas marinhas e a atmosfera dão origem a desequilíbrios de densidade, provocando assim os movimentos de conjunto do oceano. A repercussão destas trocas nas camadas inferiores da atmosfera diferencia também as massas de ar, cujo comportamento é um dos fatores determinantes da variedade climática do Globo. Em relação aos continentes, o oceano fornece parte da humidade e modera a temperatura. Para entender este duplo papel é preciso ter ideia dos mecanismos de troca entre o oceano e a atmosfera, que são bastante complexos e diferentes dos que atuam à superfície dos continentes.

Por um lado, os vários movimentos que agitam as camadas marinhas superiores fazem com que o calor recebido da atmosfera penetre até várias dezenas de metros de profundidade, a despeito da tendência das águas mornas e leves para permanecerem à superfície, tornando assim o aquecimento superficial lento e demorado. Mais lenta ainda é a restituição do calor armazenado e o arrefecimento invernal muito moderado, já que as águas frias mergulham à medida que se formam.

Este fato constitui uma diferença marcante em relação aos continentes, onde o aquecimento diurno e o arrefecimento nocturno das rochas não penetra além de escassos centímetros e onde a própria variação anual se atenua e desaparece em poucos metros.

Por outro lado, as trocas de calor são interdependentes das trocas de humidade, que modificam as características da atmosfera, absorvendo ou restituindo grandes quantidades de calor. Se é preciso em média uma caloria para aquecer de 1ºC um grama de água, são absorvidas 80 cal pela fusão e 596 cal pela evaporação da mesma quantidade. Quando a temperatura da água do mar é mais elevada que a da atmosfera, a evaporação é forte, uma vez que o ar aquecido na base se torna instável em vários milhares de metros de espessura, havendo renovação constante da camada de ar em contato com a água, que nunca chega assim à saturação. O arrefecimento mecânico progressivo da massa de ar ascendente dá origem a nuvens de grande desenvolvimento vertical, donde provêm as precipitações.

Pelo contrário, sobre águas frias, a camada atmosférica inferior arrefece e torna-se muito estável, chegando assim facilmente à saturação; formam-se nevoeiros, incapazes de provocar chuva, devido à sua pouca espessura. A temperatura das águas mais quentes é moderada diretamente pela forte evaporação e indiretamente pela nebulosidade provocada. A fusão estival dos gelos mantém nos oceanos polares uma temperatura superficial muito baixa e regular. Daí resulta que, de uma maneira geral, a amplitude anual da temperatura das águas marinhas superficiais seja muito fraca, sobretudo entre os trópicos e nas altas latitudes, onde nunca atinge 5ºC, ficando em muitos lugares abaixo de 2ºC. Mesmo nas latitudes temperadas é raro ultrapassar 10º.

A evaporação é fraca nas latitudes polares porque o ar frio não é capaz de absorver muita humidade; entre os trópicos é sobretudo forte na parte ocidental mais quente dos oceanos e, nas latitudes temperadas, maior no Inverno do que no Verão. Os máximos absolutos são registados nas latitudes médias do hemisfério norte, à superfície das águas quentes da corrente do Golfo e do Kuro-Shivo, sobre as quais, nos meses de Inverno, sopra o ar frio proveniente da América e da Ásia cobertas de neve. Pelo contrário, sobre as águas frescas da parte oriental dos oceanos intertropicais, a evaporação não ultrapassa, em média anual, a das grandes florestas húmidas das regiões equatoriais.

Sendo a evaporação no mar em média muito mais ativa do que em terra, os oceanos fornecem aos continentes uma parte da humidade que transmitem à atmosfera. Quase um terço da precipitação nos continentes provém diretamente da evaporação marinha. O ciclo fecha-se pela restituição desta água ao mar, através dos rios e dos glaciares.

O efeito das correntes marinhas nos climas é um dado adquirido. O exemplo clássico, sempre citado, é o efeito da Corrente do Golfo, que faz com que as zonas mais setentrionais da Europa ocidental sejam habitadas (a temperatura média do mês de Fevereiro no norte da Noruega é aproximadamente 20º superior à temperatura normal a esta latitude), no entanto, ao contrário, do outro lado do Atlântico, as águas geladas da corrente do Labrador torna toda a cultura impossível a latitudes que correspondem às da Irlanda e Inglaterra.

Se os ventos têm uma influência determinante em bastantes correntes marinhas, indo influenciar o estado da atmosfera. É indiscutível que, se a circulação marinha tem vindo a mudar, os climas dos continentes também têm sofrido modificações importantes. Esta mudança na circulação marinha é uma das causas que se invocam para explicar as modificações dos climas da Terra ao longo da história geológica.

Esta influência incide tanto ao nível das temperaturas como das precipitações. Quanto ao papel térmico, o mais importante, as correntes exercem uma influência marcante pelos locais onde passam e nas zonas limítrofes. As correntes quentes geram massas de ar quente em toda a sua espessura, pois o aquecimento na base arrasta uma convecção que a agita. É a este fenómeno que se deve a anomalia positiva das fachadas ocidentais dos continentes entre 40 e 60º lat. N. As correntes frias e a ascensão de águas frias exercem o efeito contrário, de tal forma que, a camada fria é pouco espessa, de 200 a 300 metros, o suficiente, contudo, para refrescar singularmente os climas onde se fazem sentir.

Quanto ao efeito nas precipitações, dois fenómenos conexos estão em causa: a evaporação mais ou menos grande e a estabilidade forte ou nula, segundo a temperatura da água. Quando a água é mais quente que o ar ambiente, a evaporação é ativa e o vapor de água, por causa da convecção, é difundido em toda a espessura da massa de ar sobrejacente. O aquecimento permite-lhe o acréscimo da capacidade de saturação.

Quando a água é mais fria que o ar ambiente, não há, ou há pouca evaporação e a humidade fica instalada nas baixas camadas onde provoca nevoeiros persistentes mas pouco espessos, de 200 a 300 metros de espessura.

Quando o ar é aquecido pela base, o gradiente aumenta e a sua instabilidade é grande. Quando o ar é arrefecido pela base é o contrário.

Resumidamente, as correntes quentes geram massas de ar quente, húmidas e muito instáveis, ou seja, susceptíveis de originar grandes precipitações. As costas com correntes quentes são sempre bem irrigadas e verdejantes. Estas correntes constituem lugares de ciclogénese, formando a origem das perturbações ciclónicas tropicais e temperadas. Ao contrário, as correntes frias, originam massas de ar frio ou fresco e seco, muito estáveis, ou seja incapazes de gerar precipitação. Os piores desertos do mundo são banhados nas suas costas pelas correntes frias e, mesmo no oceano é raro chover.

Assiste-se de tempos a tempos a flutuações ou modificações na circulação marinha, que se traduzem imediatamente por invasões ou desaparecimento de espécies marinhas, e cuja ação no clima não é menos importante.

Entre as modificações recentes, das quais fomos testemunhas, assinalemos o desenvolvimento anormal ao longo da costa ocidental da América do Sul, durante o Inverno de 1925, de uma corrente quente vinda do norte, corrente que fez desaparecer praticamente a corrente fria dita de Humboldt, que banha estas costas.

Durante o mesmo Inverno, constata-se na costa ocidental da África do Sul um fenómeno idêntico: a corrente fria, de Benguela, foi reenviada ao largo, e as águas quentes vindas do golfo da Guiné aqueceram de uma maneira anormal as costas do sudoeste africano.

Estas modificações nas correntes marinhas tornam-se por vezes visíveis nas latitudes médias pelos gelos que transportam. Entre 1892 e 1897, por exemplo, ocorreu uma verdadeira invasão de gelos antárcticos, que se encontravam à latitude de Montevideo.

Da mesma forma, em 1901, assinalou-se no norte da Rússia, uma invasão de gelos polares, que bloquearam durante todo o verão o Mar de Barentz. Ao contrário, em 1922, uma corrente quente excepcional fez reinar temperaturas relativamente altas nas altas latitudes.

É difícil dar uma explicação indiscutível destas flutuações da circulação oceânica, dependendo, sem dúvida, de flutuações paralelas na circulação atmosférica ou da variação da radiação solar.

II.3- Correntes Profundas

Os movimentos da massa profunda dos oceanos, apesar da sua lentidão, são também correntes, pois arrastam a água numa direção definida.

Este movimento deve-se a diferenças de densidade, a qual depende, por seu turno, da temperatura e da salinidade.

Um centro de alta densidade forma-se no Atlântico Norte ao largo da Terra Nova, onde as águas salinas da Corrente do Golfo arrefecem e descem para profundidades de 4000 a 5000 metros. Outro centro de alta densidade surge no Atlântico Sul junto à Antárctida. Aqui a formação de gelo não salgado aumenta a salinidade da água residual, já fria, por isso mais pesada, que desce para as zonas abissais.

A descida de águas mais densas é reconhecida pelo teor de oxigénio das águas profundas; um teor relativamente alto indica uma descida recente de água superficial. A partir destes centros, a água fria e salina desloca-se em profundidade ao longo da margem ocidental do Atlântico até à latitude de cerca de 40º S, aqui a deslocação passa a fazer-se para leste, entrando uma corrente no Indico e outra no Pacífico.

Quanto à sua velocidade é naturalmente difícil de conhecer e as estimativas variam muito. Algumas centenas de metros por hora parecem um máximo, o que significa que a renovação das águas profundas das grandes bacias oceânicas leva anos, senão dezenas de anos, nos lugares onde a circulação é mais fácil, e muito mais nas bacias fechadas entre as dorsais submarinas contínuas e nas estreitas e profundas fossas abissais.

A idade média das águas profundas, entre 700 e 2000 m, foi avaliada em 500 a 800 anos no Atlântico e em 1000 a 2000 no Pacifico. Pensa-se, no entanto, que nas margens abruptas de certos relevos submarinos devem produzir-se de vez em quando deslizes brutais de águas e sedimentos misturados, que renovam as águas e explicam a presença de oxigénio e sedimentos relativamente grosseiros até às maiores profundidades.

II.4-Circulação Oceânica Geral

No Oceano Atlântico Norte, os ramos oeste e norte da circulação subtropical formam a Corrente do Golfo, que leva as águas quentes do Golfo do México até às costas da Europa. Estas águas entram depois na circulação subpolar e vão banhar as costas das Ilhas Britânicas, a Noruega e a Islândia. O ramo oriental do vortex subtropical forma a Corrente das Canárias. No Atlântico Sul, a circulação subtropical forma a oeste a Corrente do Brasil e a este a Corrente de Benguela.

No Atlântico há ainda a assinalar a Corrente do Labrador, ramo da circulação subpolar, que passa junto à Terra Nova, e a Corrente das Caraíbas, que é um ramo da Corrente Equatorial do Sul, penetrando entre as Antilhas e juntando-se, de seguida, à Corrente do Golfo.

No Pacífico Norte, a crista das Ilhas Havaianas divide a circulação subtropical em dois vórtices distintos. A corrente da Califórnia faz parte do vortex oriental e a Corrente do Japão (ou Kuroshio) do ocidental. No sul, a circulação é regular junto à América do Sul (Corrente do Peru), mas está um tanto distorcida do lado da Austrália, em virtude da existência de numerosas ilhas. Na circulação subpolar do norte, as Aleutas provocam também a divisão em dois vórtices, um ramo do vortex ocidental, chamado Oyashio, prolonga-se pelas Curilhas, até se unir ao Kuroshio.

No Índico, a existência de continentes a norte do equador não permite o desenvolvimento típico da correspondente circulação subtropical. Um ramo da Corrente Equatorial do Norte inflete para o Canal de Moçambique e vai juntar-se à Corrente das Agulhas, que é um ramo da circulação subtropical do sul.

II.5- A Corrente do Golfo

É a mais célebre e a conhecida à mais tempo de todas as correntes marinhas, a sua primeira carta foi desenhada por Franklin. A sua origem não se encontra realmente no Golfo do México, mas é resultante da fusão da Corrente das Antilhas, naturalmente desviada para a direita quando encontra o continente americano, com a água do Mar das Antilhas, que se escoam pelo canal da Flórida (estreito situado entre a Flórida e Cuba), com uma velocidade que o estreitamento deste canal faz passar de 2 nós para 3,5 nós, e às vezes até 5 nós no centro do canal (Fig. 9).

As suas águas são nitidamente mais quentes e salgadas que as que se encontram ao largo, com uma cor azul escura, temperaturas de 27 a 28ºC à superfície, arrastando consigo cachos de algas, com marulho e remoinhos por vezes visíveis. Em profundidade, o movimento é sensível até quase 800 metros, mas, sob a influência da rotação terrestre, as águas quentes concentram-se à direita, onde a 300 metros ainda apresentam 17ºC. Diminuindo em seguida constantemente de velocidade e de temperatura, alargando-se e fletindo em direção a Este.

Correntes Marítimas
Fig. N.º 9 – Batimetria do Canal da Flórida

À esquerda brevemente se passa a uma zona costeira fria, a Parede Fria ou Cold-Wall devido à subida das águas frias e também à chegada de águas doces frias dos rios e, ainda a junção das correntes do Labrador e da Gronelândia. Estas águas podem-se misturar com as águas quentes da Corrente do Golfo, podendo-se constatar diferenças de temperatura na ordem dos 10ºC entre pontos vizinhos.

Na realidade, a Corrente do Golfo e o Cold-Wall, não estão rigorosamente separados, o seu encontro produz turbilhões, resultando daí, ao sul do Banco da Terra Nova, uma mistura de águas, que originam, à superfície, uma série de bandas alternadas de águas quentes, salgadas e azuis, e de águas relativamente doces, mais opacas e que muitas vezes transportam gelos. Tal fenómeno levou a falar-se de um delta da Corrente do Golfo, como se da corrente se desprendessem múltiplas ramificações nas águas frias.

O eixo geral do movimento, cada vez mais desviado para a direita, afasta-se do bordo do continente americano. A toalha quente perde pouco a pouco as características de uma corrente de origem equatorial, os fios de água que se afastam da direção geral, contribuem para formar a massa quase estagnante e altamente salina, que é o Mar de Sargaços, por causa da enorme quantidade de algas, que jamais poderão sair do centro do circuito para onde foram conduzidas.

Ao largo da Terra Nova, a Corrente do Golfo entra em conflito com a corrente do Labrador transportando águas frias vindas do mar de Baffin, e deixa de existir como verdadeira corrente. Não se pode mais falar de uma deriva transportando águas quentes até às costas da Noruega. É aqui segundo a teoria clássica que admite um verdadeiro desprendimento destas águas, encobertas superficialmente pelas correntes variáveis originadas pelos ventos, mas perceptível em profundidade (200 m).

Le Danois levantou-se contra esta concepção, baseando-se no fato de que é impossível de assinalar ao sul um limite preciso desta deriva, o único limite discutível é a norte, que Le Danois considera simplesmente como a fronteira entre as águas frias de origem polar e as águas quentes de origem tropical. As primeiras têm tendência a acumular-se no limite ocidental da bacia (costa da Gronelândia), as segundas afluem no limite oriental.

O limite destas duas zonas será animado de variações periódicas sazonais, as transgressões, amenizando assim no verão um avanço das águas quentes ao longo das costas da Europa ocidental. Estas transgressões apresentarão amplitudes variáveis consoante os anos, pondo em evidência a influência de períodos astronómicos.

A importância da anomalia térmica positiva continua a ser o principal índice de um afluxo certo de águas estranhas, que persiste até ao norte da Noruega, onde os fiordes escapam à congelação. Por mais fraca que seja a velocidade do movimento, este é sensível à rotação da Terra, que o desvia para a direita, de encontro às costas da Europa.

III – CONCLUSÃO

As correntes marinhas não têm um significado tão preponderante como muitas vezes lhe atribuem. Sob o aspecto morfológico, foram muitos os que se deixaram levar por ideias fantasiadas no que se refere ao efeito mecânico da água corrente dos oceanos, acreditando que estas águas poderiam criar estreitos marítimos completos, como os de Gibraltar, Mancha ou das Antilhas. Isto é falso, embora não se possa negar o efeito modelador e erosivo das águas correntes, pois ao longo dos séculos e com a ajuda das vagas e torrentes fluviais, efetuaram uma imensa atividade modificadora do litoral.

As correntes marinhas exercem a sua atividade no sentido de transportar os materiais mais ou menos finos que as vagas arrancaram, repartem esse material por outros lugares, depositando-o depois de certo tempo, segundo o tamanho das partículas. Trata-se geralmente de pequenas regiões, mas às vezes são vastas as regiões abarcadas. A região pouco profunda que se estende em frente à costa da Guiana, supõe-se devida em grande parte aos sedimentos do Amazonas, cujas águas são levadas para NW pela rápida corrente equatorial do Sul. Os materiais de aluvião que o Amazonas transporta numa hora, estimam-se em 80 milhões de Kg.

Incomparavelmente mais importante é a influência das correntes marinhas no clima. Parece tão natural que uma corrente, quente ou fria, exerça uma influência correspondente no clima da terra firme por ela banhada, e particularmente na zona costeira, que poucas vezes se obtém uma resposta exata à pergunta de como se exerce esta influência.

As correntes têm uma importância climatológica somente quando o ar frio ou quente, suspendido na corrente, é levado para o interior dos continentes.

A Corrente do Golfo, de inestimáveis efeitos para a Europa, de nada nos serviria se os ventos SW e W, que predominam nestas latitudes, não levassem o ar quente da dita corrente para o interior da Europa Ocidental. A melhor prova desta afirmação está na costa oriental dos EUA no inverno; a Corrente do Golfo, que, todavia, passa muito perto da costa, é incapaz de amenizar o frígido inverno, pois a direção predominante dos ventos é o NW.

A costa da Noruega teria o clima frigidíssimo que reina na Suécia e na Rússia, se em lugar dos ventos W, predominassem os de E. Provavelmente a Corrente do Golfo afastar-se-ia ligeiramente da costa se predominassem estes ventos, tal como acontece na costa oriental da América do Norte.

Oslo tem, geralmente, um inverno rigoroso, com neves e gelos, porque está mais no interior da península da Escandinávia. Ao contrário, Bergen, apesar de se situar mais a norte, tem no inverno um tempo geralmente chuvoso, com ventos temperados e nuvens abundantes, porque os ventos de oeste levam o ar tépido da corrente do Golfo.

No entanto, pode passar uma corrente fria junto de uma costa sem exercer influência no clima, desde que soprem ventos terrestres que impeçam o acesso do ar frio marítimo aos continentes. Na realidade, o vento continental trás como consequência fazer subir até à superfície do mar a água fria do fundo, a qual, apesar de tudo, faz diminuir consideravelmente a temperatura do ar nas costas dos continentes.

De qualquer forma, devem-se estudar os casos particulares com maior detenção, quando se trata da influência climatológica, das correntes marinhas, porque estas não podem exercer em quaisquer circunstâncias um efeito na região costeira correspondente ao seu próprio carácter térmico.

Note-se, todavia, que os efeitos das correntes marinhas são mais notórios e marcantes ao nível do clima das regiões costeiras, na navegação e na localização das zonas de pesca.

A maioria das correntes é lenta e não se desloca mais de algumas milhas por dia, existindo, contudo, excepções, que são os casos da Corrente do Golfo e do Kuroshio cujas velocidades são comparadas às de um rio regularmente rápido.

José Alberto Afonso Alexandre

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Fonte: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra