Alameda do Colégio Quinze de Novembro - Garanhuns -PE
Essas
árvores são testemunhas silenciosas do tempo em que o Colégio Quinze de
Novembro ficava com suas portas abertas para a população. Menino pobre e
sem pertencer a alguma família de nome proeminente na cidade
arriscava-me a freqüentar o ambiente do colégio nas horas vagas.
Nessa
época morávamos na travessa Silvino Macedo, por trás do Colégio
Estadual. Passar uma manhã ou uma tarde no ambiente do Colégio Quinze
era uma aventura. Jogos de futebol de salão, basquete, vôlei e outros
esportes, campeonatos, intercâmbios com times da capital faziam parte de
sua dinâmica de atuação esportiva. Melhor ainda quando a Marinha
Brasileira com seus atletas participavam de jogos com os atletas do
Quinze uma vez por ano.
Estilingue
(na época o nome era: peteca) pendurado no pescoço, vestido com calças
curtas acima dos joelhos, descalço e despenteado (a molecada até certa
idade não dá o mínimo para aparência) lá estava eu querendo ver tudo e
saber de tudo que estava acontecendo. Usei calças curtas tanto tempo que
ganhei o apelido de “escoteiro” . Falava com minha mãe para mandar
fazer calças compridas para mim e ela não me dava ouvidos. O problema é
que seria necessário o dobro do tecido para tal intento. A grana era
curta.
Haja gracejos da molecada: escoteiro! Que sufoco.
Depois
de ir de um lugar para outro querendo ver tudo ao mesmo tempo, cansado,
nem sobrava tempo para a caçada de calangros, lagartixas e passarinhos
do sítio do colégio. O passeio só estaria completo se colhesse alguma
fruta para repor as energias:um caju, uma goiaba, uma manga...
Em
relação aos outros colégios da cidade, o Quinze - como era conhecido
por todos - tinha uma postura amena quanto ao acesso de meninos pobres
em seu ambiente. Nesse tempo andar bem vestido e com calçado nos pés não
era para todos.
Lembro
que minha mãe só podia comprar roupas novas no final de cada ano. Eram
as roupas para o Natal e o Ano Novo. Durante a semana eram usadas as
roupas velhas, às vezes remendadas. Via de regra, nada nos pés. A maior
parte do tempo ficávamos descalços. Os sapatos novos comprados no final
de cada ano – quando era possível comprar – só deviam ser usados aos
domingos para passear no Pau Pombo, ir à matinê no cinema e ir à missa
no final da tarde.
Por
conta de andar sempre descalço meus pés apresentavam um aspecto horrível:
sujos e machucados. Muitas vezes levava “topadas” que arrancavam pedaços
dos dedos dos pés.As unhas sofriam com machucados.Era uma “via dolorosa”
quase todos os dias.Espinhos, pregos,cacos de vidro e outros
são os “vilões” dos pés desprotegidos.
Com os pés machucados, como calçar os sapatos no final de semana?
Os pés, tão desacostumados com os sapatos, sofriam também com os calos que surgiam após as caminhadas domingueiras.
Que sacrifício.
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