CAPÍTULO 4
O EMPUXO HISTÓRICO
E CULTURAL
Os chineses sentem que têm contas a acertar com o
seu passado, e isso torna sua ascensão mais obstinada, sua tolerância por
sacrifícios maior e sua determinação de voltar a rivalizar com as potências
coloniais que humilharam a China ainda mais sólida.
A escola de pequim Cuja diretora nunca faltou em 32 anos de trabalho.
No meu terceiro dia na China, nosso taxista estava
ouvindo um programa de rádio que, pelo tom lento e voz pausada do narrador, me
chamou atenção. Perguntei à tradutora do que se tratava e ela me disse que era
uma aula de história sobre a dinastia Ming (1368-1644). Imagino que a China
seja o único país do mundo em que essa cena possa acontecer. É um país
completamente embebido em sua longuíssima história. Quando
a dinastia Ming começou, o Brasil ainda era mata virgem e a Europa era uma
colcha de principados feudais na Idade das Trevas, mas a China já era um
império unificado havia 1 500
anos, já tendo passado por dois períodos de apogeu — as dinastias Han (206 a.C.
a 220) e Tang (618-907) — e inventado a pólvora, o papel-moeda e a impressão
por prensa móvel.. Ajuda muito, portanto, um passado de glórias
intelectuais e de apreço pelo estudo e pela disciplina. Graças a seus sábios
oficiais, os mandarins, a China foi uma potência mundial, muito superior aos
povos vizinhos, que tratava como bárbaros ou súditos, jamais como rivais.
Voltar a ser uma potência pelo poder do estudo e do intelecto é para a China
apenas uma volta ao passado glorioso.
CAPÍTULO 5
AS POLÍTICAS PÚBLICAS
Sob Mao Tsé-tung, o estado chinês tentou sufocar o
pensamento, a técnica e o saber. Chamaram essa loucura de Revolução Cultural.
Agora o esforço é todo na direção correta.
O baixo custo relativo é o maior contraste do
caso brasileiro com a arrancada chinesa rumo a uma educação que leve o país ao
posto de potência mundial de primeira linha. Em 2009, o governo chinês gastou
3,6% do PIB em educação. O setor educacional público brasileiro aumentou seu gasto
de 4,1% para 5,3 % do PIB nos últimos sete anos e, mesmo com a qualidade do
ensino não tendo melhorado em nível remotamente semelhante, a propaganda
oficial continua aferrada a esses números como a um triunfo definitivo. Não é.
O limite da profundidade do nosso debate sobre educação parece se esgotar
na discussão da meta de gastos. Estaremos gastando 7% ou 10% do PIB
em educação daqui a dez anos?
A China sacrifica as ideologias sempre que elas
conflitam com a busca de resultado. Na educação, isso se expressa na definição
do papel do professor. A China se deu conta de que precisava de professores
bons e em grande quantidade. Dadas suas carências, montou um sistema em que o
professor sai da faculdade mediano, e então é constantemente trabalhado e ajudado
para que consiga ministrar aulas excepcionais. Um sistema em que os bons
professores e as boas escolas subjugam os maus mestres das escolas ruins. Os
chineses entenderam que é melhor ter quarenta alunos com um bom professor do
que duas turmas de vinte, uma bem ensinada e outra sob a batuta de um incapaz.
O professor é o centro gravitacional de todo o sistema. Pragmatismo,
meritocracia, professores bem formados e premiados com dinheiro pelo bom
desempenho, estudantes disciplinados e motivados por suas famílias. Essa é a
fórmula do combustível da arma secreta chinesa para conquistar o mundo: a
educação.
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