Capítulo
2
A SALA DE
AULA
A escola
tem de ser limpa, silenciosa, simples e eficiente
Três
grandes diferenças saltam aos olhos em relação às salas de aula do Brasil. A primeira
é que, tanto em Xangai quanto em Pequim, há uma bandeira nacional sobre todo
quadro-negro. A segunda é o uso constante do soft-ware de apresentação Power
Point. A terceira é a vassoura e a pá no fundo de todas as salas. Antes de irem
para casa, os alunos têm de deixar a sala de aula limpa. Equipes de limpeza só
agem nas áreas comuns.
Acompanhei
várias aulas de diversas séries. A liturgia é a mesma. A professora nunca
se atrasa, nem os alunos. A professora, de pé, se inclina em direção à classe e
diz: “Bom dia, alunos”. Os alunos, então, se levantam, se inclinam em direção à
professora e, em uníssono, respondem: “Bom dia, professora”. Não há “turma do
fundão”, conversas paralelas nem problemas de disciplina. Para quem está
acostumado com salas de aula em que uma minoria presta atenção e vários outros
grupelhos paralelos se formam, cada qual falando sobre o seu assunto, é um
espanto ver uma sala de aula com rigor chinês. No Brasil ainda se confunde
ordem com autoritarismo e a desordem é confundida com liberalidade. Dessa
confusão mental dificilmente sai uma aula que preste.
Também
não há chamada nas aulas chinesas. Cada turma tem um professor
encarregado do contato aprofundado com os alunos e sua família. Uma vez
por dia, em horário aleatório, o professor responsável passa pela turma. Se
nota uma ausência, ele telefona para os pais do faltante. É um detalhe simples,
mas pense em seu efeito. Se um professor tem oito períodos por dia e gasta,
digamos, três minutos fazendo a chamada, quase meia hora de aula do dia terá
sido desperdiçada com a verificação de presença.
CAPÍTULO 3
OS PROFESSORES
São todos adeptos do gênio Albert Einstein: o
sucesso vem de 1% de inspiração e de 99% de transpiração
Fotos: AFP e Imagine China
Fábricas da lenovo e da apple na
china
Em trinta anos uma nação agrária e sem tradição
industrial tornou-se um forte polo de tecnologia digital do mais alto grau de
excelência. A meta é superar a fase da manufatura e ombrear com os Estados
Unidos em software e conteúdo
Se raramente um aluno falta, um professor, nunca.
Cui Minghua, 55 anos, diretora de escola em Pequim, contou-me estar na carreira
há 32 anos, dos quais mais de vinte como professora. Em todo esse tempo, tirou
uma única licença médica para se submeter a uma operação. Fora isso, jamais
deixou de cumprir seu dever diário de educar.
Não há nada de especial na carreira de professor em
Xangai.O
salário não é exatamente atraente. Nos três primeiros anos de carreira, fica
entre 30 000 e 40 000 iuanes por ano, ou algo entre 400 e 500
dólares por mês, quase metade da renda média salarial da região. Nessa fase,
muitos professores recorrem a outros trabalhos para complementar a renda. Os
melhores podem até dobrá-la dando aulas particulares ou em escolas de reforço.
Os professores de nível médio recebem 72 000 iuanes por ano. Os melhores entre eles
ganham 90 000. Os bônus por desempenho acima da média
podem chegar a 40% do valor do salário. Mas lá, assim como cá, ninguém se torna
professor pelo salário. . Mas lá, assim como cá,
ninguém se torna professor pelo salário.
As diferenças com o Brasil começam na formação do
professor. São três grandes diferenças. A primeira é que, na China, a prática
de sala de aula se faz muito mais presente do que no Brasil. Ela começa já no
segundo ano do curso, quando o futuro professor acompanha aulas em escolas
regulares duas vezes por semana durante oito semanas e depois faz estágio de
meio ano no penúltimo semestre do curso. A segunda é que as escolas chinesas
são mais pragmáticas e diversificadas na escolha de seus pensadores
pedagógicos. Há um esforço constante de se abrir ao mundo e ver o que funciona,
e pinçar de cada lugar as melhores idéias. O Brasil ainda é dominado quase
inteiramente pelo construtivismo. A terceira, e mais decisiva, é a ideologia.
Nas escolas chinesas os estudantes têm seu momento diário patriótico e de
louvação do Partido Comunista, mas, findo esse ritual, a ideologia sai de cena.
No Brasil, os professores são formados em universidades tisnadas por ideologias
de esquerda e instados a nunca ser “neutros”, nem nas aulas de matemática ou de
física. E eles acreditam nisso. É o desastre costumeiro.
As universidades chinesas entregam professores
competentes ao mercado, mas o que os torna excepcionais é o ritmo intenso e
colaborativo de trabalho ao qual se submetem quando chegam às escolas. Aí eles
passam a integrar um “grupo de estudos dos professores”, que é sem dúvida a
inovação mais importante da educação chinesa. Cada professor faz parte de três
grupos de estudo. Um com os colegas que ensinam a mesma matéria para a mesma
série, que se encontra uma vez por semana para preparar as aulas. O segundo
grupo é formado pelos colegas de disciplina de todas as séries da mesma escola.
Esse se encontra duas vezes ao mês. O terceiro é formado pelos professores da
mesma disciplina e série do seu bairro, que também se encontra duas vezes por
mês. Nesses dois últimos grupos, o objetivo é compartilhar práticas de ensino
de sucesso. Somando os três grupos, é um regime exigente: são duas reuniões por
semana, toda semana. A maioria desses encontros leva entre duas e três horas.
O papel desses grupos é fundamental. Faz com que as
melhores técnicas sejam rapidamente compartilhadas em toda a rede, cria uma
saudável competição entre professores (os portadores das melhores práticas
recebem bônus) e ao mesmo tempo provê uma rede de apoio e compartilhamento para
todos os professores, ao contrário do isolamento e do desamparo que vitimam
seus colegas brasileiros.
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