O samba-do-criolo-doido da nova ortografia da língua portuguesa está tocando faz tempo.O novo acordo ortográfico elaborado e aprovado pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa, desde 1990, ainda vai dar muito o que falar.
Tanto no Brasil quanto em Portugal há muita resistência ao novo acordo.Gosto de escrever idéia, com acento agudo e eloqüencia com trema.As pontuações e os acentos dão mais força a expressão e ao pensamento.Penso assim. Veja o texto abaixo:
Tanto no Brasil quanto em Portugal há muita resistência ao novo acordo.Gosto de escrever idéia, com acento agudo e eloqüencia com trema.As pontuações e os acentos dão mais força a expressão e ao pensamento.Penso assim. Veja o texto abaixo:
Senado quer fazer quiproquó com o acordo ortográfico
Às vésperas de regras vigorarem de forma definitiva, senadores querem revisar acordo que unificou ortografia nos países de língua portuguesa
Thais Arbex
Em dezembro deste ano, será decretado, definitivamente, o fim do trema.
Nenhum qüiproquó, por mais generalizado que seja, será mais aceito com
os dois pontos em cima da letra u. Nenhuma idéia, por mais esdrúxula que
seja, terá acento agudo na letra e. Vôo e enjôo deixam para trás, de
uma vez por todas, seus acentos circunflexos. E o alfabeto passará a ter
26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y".
As regras não são novas. Estão em vigor desde janeiro de 2009, quando o
Brasil e todos os países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP) - Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
São Tomé e Príncipe e Timor Leste - assinaram o acordo ortográfico. Os
brasileiros tiveram quatro anos para se adequar às novas regras. Durante
esse período, tanto a grafia anterior como a nova foram aceitas
oficialmente. Mas a partir de 1º de janeiro de 2013, as regras antigas
deixam de ter validade e passa a vigorar, então, a nova ortografia da
Língua Portuguesa – cujas normas foram organizadas pela Academia
Brasileira de Letras (ABL) na quinta edição do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa (VOLP).
No entanto, a confusão em torno do acordo ortográfico, elaborado para
uniformizar a grafia das palavras dos países lusófonos, ou seja, os que
têm o português como língua oficial, está longe do fim. E se depender do
Senado Federal, o qüiproquó vai continuar. E carregando seu trema por
muito mais tempo.
Acusação - Há um mês, os senadores Ana Amélia Lemos
(PP-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Cyro Miranda (PSDB-GO) e Paulo
Bauer (PSDB-SC) promoveram uma audiência pública na Comissão de
Educação, Cultura e Esporte do Senado para discutir a revisão da reforma
ortográfica. Também participaram do debate os professores Pasquale
Cipro Neto e Ernani Pimentel, idealizador do Movimento Acordar Melhor.
Ele acusa a ABL de fazer alterações no texto do acordo ortográfico após a
assinatura dos países membros da CPLP.
Segundo Pimentel, a Casa de Machado de Assis teria publicado na quinta
edição do VOLP normas que não foram acordadas entre os oito países. “A
ABL mexeu em vários pontos do acordo sem autorização. O que está sendo
implantando é ilegal. O VOLP desrespeita e altera o texto original”,
acusa Pimentel.
Autoridade máxima no Brasil quando o assunto é novo acordo ortográfico,
o gramático e imortal Evanildo Bechara, afirma, no entanto, que as
acusações “não condizem com a verdade”. De acordo com ele, que é autor
da Moderna Gramática Portuguesa, a Academia Brasileira de Letras adaptou
a quinta edição do VOLP “ao que ficou acertado no texto do acordo”.
“Em 2008, estávamos com a quarta edição do VOLP esgotada. Quando
partimos para a quinta edição, estava em plena efervescência a discussão
sobre a implantação do novo acordo. Por isso, acreditamos aqui na
Academia que havia chegado o momento de implantarmos o acordo na quinta
edição do VOLP”, diz.
Audiência Pública - Autora da
requisição da audiência pública, a senadora Ana Amélia passou a defender
a revisão das novas regras logo depois que foi procurada por Pimentel,
em dezembro do ano passado. Foi ela quem sugeriu aos colegas que a
Academia Brasileira de Letras fosse convidada para ir ao Senado explicar
o novo acordo ortográfico. “Eu, assim como o professor Pimentel,
defendo a redução e o aperfeiçoamento do acordo. E também queremos
tratar disso de forma diplomática e política”, afirma.
Bechara, responsável pela produção da quinta edição do VOLP, com as
novas regras da ortografia, foi de fato convidado a participar da
discussão que aconteceu no dia 4 de abril. Mas diz que não pode
comparecer à reunião por estar em um congresso fora do país que se
estendeu até o dia 17 de abril. Nas palavras de Ana Amélia, no entanto,
ao não comparecer à audiência, a ABL “mostrou falta de vontade de
debater o assunto".
Bechara disse ao site de VEJA que pediu ao Senado para que a data do
encontro fosse adiada, mas que seu pedido não foi atendido. “Logo que
fui chamado a compor a mesa, informei ao Senado a impossibilidade de
comparecer à reunião. Apresentei duas possibilidades: de a reunião ser
transferida para outra data e a outra possibilidade de marcar uma nova
reunião para eu prestar esclarecimentos aos senadores”, diz.
Como a data da audiência não foi alterada, assim que voltou ao Brasil,
no dia 18 de abril, Bechara enviou uma carta ao Senado colocando-se à
disposição dos senadores para ir à Brasília. O gramático pretende
apresentar aos parlamentares um histórico do acordo. “Vou mostrar as
sem-razões das críticas. Vamos fazer o histórico do acordo, onde e em
quais fatos o acordo se baseia”, afirma Bechara.
Até agora, no entanto, o Senado não enviou resposta ao imortal.
Como surgiu o acordo - As regras do novo acordo estão
prontas desde 1990, quando o texto foi elaborado e aprovado pelos
representantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Naquele
ano, o que se pretendeu fazer foi um acordo que unificaria a ortografia
em todos os países de língua portuguesa. Até então, Portugal se regia
pelo acordo de 1945 e o Brasil, pelo de 1943.
O texto de 1990 tratou apenas das divergências entre os acordos de 1945
e o de 1943. Tudo o que era comum nos dois sistemas não entrou em
discussão na redação do novo acordo. “Porque se já era comum, já estava
previamente acordado entre os dois países”, justifica Bechara.
“Começaram a dizer que a Academia inovou, que a Academia fugiu do
acordo. Mas a pessoa que faz a crítica não entende que o acordo de 1990
é, em 90% dos casos, uma reedição do acordo português de 1945. Por isso,
nós brasileiros tivemos que abrir mão de muitos mais fatos do que os
portugueses”, afirma o imortal, que ocupa a cadeira 33 da Academia
Brasileira de Letras.
De fato, em números, as mudanças para os brasileiros são quase
insignificantes: a norma escrita teve 0,43% de suas palavras mudadas. Em
Portugal, 1,42%. Até julho de 2004, era preciso que todos os países
membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
ratificassem as novas normas para que elas entrassem, de fato, em vigor.
Mas um acordo feito naquele ano estabeleceu que pelo menos três países
ratificassem os termos da proposta, o que ocorreu somente em 2006. O
Congresso brasileiro aprovou as mudanças em 1995, seguido de Cabo Verde,
em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro daquele mesmo
ano.
De acordo com a Divisão de Promoção da Língua Portuguesa do Itamaraty,
dos oito países membros da CPLP, apenas Angola e Moçambique ainda não
ratificaram o acordo.
Os próximos passos do Senado - Agora,
os senadores se articulam para criar, nos próximos dias, um grupo de
trabalho na Comissão de Educação, Cultura e Esporte da Casa para
acompanhar o assunto. A proposta do senador Cristovam Buarque é que o
grupo seja misto, formado por senadores e deputados. “Para nós, ficou
claro que existiu pressa na implantação do acordo. E precipitação sempre
dá errado. Nosso objetivo é melhorar o acordo e não impedir que ele
entre em vigor”, afirma.
Um dos objetivos dos parlamentares, de acordo com o senador Paulo
Bauer, é realizar uma série de reuniões para que sejam esclarecidas as
confusões em torno das novas normas. “Precisamos descobrir se os
problemas têm soluções, se podemos fazer mudanças sem ferir o acordo e a
nossa língua. Por enquanto, as novas regras estão afrontando a língua”,
diz.
Mas, de acordo com a senadora Ana Amélia, o pedido de anulação do
acordo não está descartado, já que a partir do próximo ano, nos livros
didáticos, vestibulares e concursos públicos as novas normas passam a
ser obrigatórias. “Podemos tomar uma posição mais firme em relação ao
acordo, como propor o fim do acordo ou pedir o adiamento dele, para que
não entre em vigor a partir de janeiro de 2013”.
Derrubar o acordo ortográfico, ressalte-se, seria jogar dinheiro
público fora. Antes de decidir se seguirá por caminho tão radical, diz
Ana Amélia, o Senado quer acompanhar como está a discussão a respeito do
acordo nos outros países. Durante a audiência pública, além do
adiamento da implantação do acordo, foi proposta também uma nova reunião
internacional, com representantes da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa para todos os pontos do novo texto sejam rediscutidos.
O desacordo em Portugal - Portugal tem até dezembro de
2014 para concluir o processo de implantação da nova grafia. Mas lá o
acordo ortográfico ainda enfrenta muita resistência. Tanto que os alunos
portugueses só começaram a aprender as novas regras neste ano - três
anos depois de as novas regras terem sido acordadas.
Apesar de se dizer a favor do acordo, o secretário de estado da Cultura
do país, o escritor Francisco José Viegas, tem defendido mudanças no
texto assinado em 2009. Em recente entrevista, ele afirmou que é preciso
promover pequenas alterações pontuais, “sobre o que é pronúncia culta,
pronúncia corrente e a sua correspondente ortografia”.
A controvérsia sobre o acordo voltou à tona em Portugal depois que o
poeta Vasco Graça Moura, ao assumir, em fevereiro, o cargo de diretor do
Centro Cultural de Belém - de uma das mais importantes instituições
culturais do país, determinou que fosse suspensa a aplicação do acordo
ortográfico nos serviços sob sua tutela. Circula também na internet uma
petição para que o parlamento português vote o fim do acordo.
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