Censo 2010
IBGE mostra a persistência de dois "Brasis"
Taxa de
analfabetismo cai, mas é superior a 25% em 1.310 municípios. Proporção de
pessoas pardas ou negras que não sabe ler caiu pela metade desde 1991, mas é o
dobro da registrada entre brancos
Lucila Soares e Rafael Lemos
Moradora do
Morro dos Macacos, na Vila Isabel (Apu Gomes/Folhapress)
Um país urbano, com taxas de crescimento
populacional próximas das nações desenvolvidas, avanços sociais notáveis e
desigualdades flagrantes, que mantêm atual a idéia da coexistência de dois
"Brasis". Este é o Brasil retratado pelo Censo Demográfico de 2010,
que teve mais uma etapa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. O conjunto de informações divulgado
consolida as características da população e dos domicílios
brasileiros levantadas em visitas a 67,5 milhões de domicílios, nos 5.565
municípios das 27 unidades da federação.
A
taxa de analfabetismo é um dos indicadores em que a existência de dois Brasis
se revela com mais vigor. Entre 2000 e 2010, o número de analfabetos com 15
anos de idade ou mais recuou de 13,63% para 9,6%. Mas as diferenças regionais
são gritantes, e nas cidades pequenas, de até 50 mil
habitantes, a situação é de calamidade educacional. No
Nordeste, a taxa dessas cidades chega a 28%. Em todo o Brasil, existem 1.304 municípios
com taxas de analfabetismo iguais ou superiores a 25%. Entre as
crianças de 10 anos de idade, a proporção caiu de 11,4% para 6,5% na média
brasileira, mas chega a 16,4% no Maranhão e a 13,7% no Piauí.
A chaga da desigualdade revela-se ainda mais
impressionante quando se observam as taxas de analfabetismo associadas à cor.
Enquanto na população branca existem 5,9% de analfabetos com 15 anos ou mais,
entre os negros a proporção é de 14,4%, e entre os pardos, de 13%. Nas cidades
pequenas, com até 5.000 habitantes, o analfabetismo entre os negros atinge
27,1%.
A essa diferença de oportunidades na educação
pode-se atribuir boa parte da diferença de rendimentos constatada pelo IBGE. Os dados de rendimento ainda são preliminares, e mostram
que a população brasileira é pobre. O
rendimento médio mensal é de 668 reais, mas 25% dos brasileiros recebem até 188
reais, e metade da população recebia no ano passado até 375 reais, valor
inferior ao salário mínimo vigente, de 510 reais. Quando se
cruzam os dados de rendimento com os de cor, constata-se que negros e pardos
ganham cerca de metade do que ganham os brancos. Na média brasileira, pretos
recebem 834 reais por mês, e pardos 845 reais, contra 1.538 reais de brancos.
As maiores disparidades acontecem nas cidades com
mais de 500 mil habitantes. Em Salvador, brancos ganham 3,2 vezes mais que
pretos. Na comparação entre brancos e pardos, São Paulo aparece no topo da
lista da desigualdade, com rendimentos 2,7 vezes maior.
Mulheres – A
disparidade entre os rendimentos de homens e mulheres é outra distorção que
persiste, embora com tendência à redução. No censo de 2000, os homens tinham
rendimentos 53,33% maiores que os das mulheres. No censo de 2010, a diferença
caiu para 42%.
A desigualdade entre os rendimentos de homens e
mulheres reduziu-se em todas as regiões do país, exceto no Nordeste, onde essa
relação ficou estável. Em 2010, metade dos homens ganhava até 765 reais,
enquanto metade das mulheres recebia até 510 reais. Nos municípios com até 50
mil habitantes, os homens recebiam, em média, 47% a mais que as mulheres: 903
reais contra 615 reais. Nos municípios com mais de 500 mil habitantes, os homens
recebiam, em média, 1.985 reais e as mulheres, 1.417 reais, uma diferença de
cerca de 40%.
Outros destaques do Censo:
A população brasileira atingiu 190.755.799
habitantes em 1º de agosto de 2010.
Destes, 84,4% viviam em cidades, e 15,6% em áreas rurais,
consolidando um dos mais avassaladores processos de urbanização já ocorridos no
mundo. Em 1950, 63,8% da população viviam no campo; em 20 anos a proporção se
inverteu, e no censo de 1970 67,6% dos brasileiros já habitavam cidades.
Nos últimos 20 anos, a taxa de crescimento da
população caiu a menos da metade. Entre 1991 e 2000, a população cresceu à
razão de 1,64% ao ano; na década seguinte, a taxa foi de 1,17%;
A idade média do brasileiro aumentou 26,5 anos para
32,1 anos entre 1991 e 2010. O Rio Grande do Sul é o estado mais velho da
federação, com idade média de 34,9 anos.
O saneamento básico melhorou, mas continua
precário. 32,9% dos domicílios não estão ligados a rede geral de esgoto ou
fossa séptica. No Nordeste, a proporção é de 54,8%.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ibge-mostra-a-persistencia-de-dois-brasis
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