IMIGRANTES RUMO À EUROPA
Há um sentimento comum entre os milhares de imigrantes que se sujeitam às condições subumanas e se amontoam em embarcações obsoletas para chegar ao continente Europeu através do Mar Mediterrâneo. Poucos estariam ali se essa não fosse a última alternativa. Além da miséria crônica dos países subsaarianos, os conflitos que se espalharam por Síria, Líbia e Iêmen nos últimos anos esfacelaram governos e amplificaram perseguições raciais e religiosas no norte da África e no Oriente Médio.
Há um sentimento comum entre os milhares de imigrantes que se sujeitam às condições subumanas e se amontoam em embarcações obsoletas para chegar ao continente Europeu através do Mar Mediterrâneo. Poucos estariam ali se essa não fosse a última alternativa. Além da miséria crônica dos países subsaarianos, os conflitos que se espalharam por Síria, Líbia e Iêmen nos últimos anos esfacelaram governos e amplificaram perseguições raciais e religiosas no norte da África e no Oriente Médio.
Dados da Anistia Internacional mostram que metade dos
imigrantes ilegais que realizaram a travessia era composta por
refugiados de guerra. Os demais tinham objetivo de se asilar na Europa
ou arrumar um emprego para fornecer uma vida melhor para suas famílias.
Com relação à nacionalidade, 46% dos imigrantes eram provenientes da
Síria e Eritreia. Malianos, líbios, nigerianos, etíopes e somalis também
são flagrados com frequência na região.
A Líbia se transformou no maior 'hub' de embarque clandestino. O país
está destroçado por uma guerra civil desde o fim da revolta que
liquidou o ditador Muamar Kadafi, em 2011. Milícias fundamentalistas
ganharam terreno no ano passado e conquistaram o controle de importantes
cidades, incluindo a capital Trípoli e Bengasi. O governo que conta com
o respaldo da comunidade internacional encontra-se acuado no leste do
país e, sem poder, chegou a buscar refúgio em uma embarcação
ancorada em Tobruk. Como o Exército nacional foi dizimado e os postos
de controle das fronteiras encontram-se abandonados, o fluxo de
imigrantes é intenso no país. É neste cenário que redes de traficantes
de humanos, muitas vezes aliadas a grupos armados, conseguem coagir
pessoas a abrir mão de suas últimas economias em troca de uma viagem só
de ida para a Europa.
Em relato ao jornal britânico The Guardian, um imigrante
nigeriano contou que, ao chegar a uma praia da Líbia, se deparou com
centenas de pessoas acampadas e aguardando a ordem dos traficantes para
viajar. Uma vez dentro do barco, os criminosos permitem que milícias
armadas subam a bordo para roubar os últimos pertences dos imigrantes.
As pessoas, então, são dividas com base em critérios raciais e de
gênero. Por terem a pele mais clara e condições de pagar maiores
quantias em dinheiro (a 'passagem' custa entre 600 e 2.000 euros ou
1.800 e 6.000 reais), os sírios são autorizados a ficar no convés das
embarcações, onde teoricamente seria mais seguro. Refugiados de pele
mais escura vindos da África Subsaariana são trancados nos porões dos
barcos, assim como mulheres e crianças - consideradas 'barulhentas
demais'. Qualquer ação que os traficantes venham a considerar uma
desobediência é passível de torturas, castigos físicos e até morte,
empurrando as pessoas ao mar.
As viagens, que deveriam durar de três a quatro dias, transformam-se
num pesadelo pela precariedade das embarcações. Os pesqueiros
clandestinos não têm estrutura necessária para permanecer estabilizados
no oceano e são atirados para diferentes direções conforme a força das
ondas. Os próprios traficantes costumam guiar os barcos e, por não terem
experiência suficiente, se perdem com frequência nas águas do
Mediterrâneo. A comida e água potável disponível também não demoram a
acabar, o que provoca agitações entre os imigrantes. O desespero é
tamanho que os naufrágios na região costumam ocorrer devido ao excesso
de pessoas que se aglomeram em uma única área do pesqueiro após um barco
estrangeiro ser avistado ao horizonte. A grande maioria dos imigrantes
não sabe nadar e se afoga imediatamente após cair na água.
Caso sejam resgatados com vida ou consigam cumprir a viagem até águas
controladas por países europeus, os imigrantes enfrentam um burocrático
processo até serem autorizados a reconstruir suas vidas. Muitas vezes
eles permanecem por tempo indeterminado em centros de acolhimento
superlotados. "De acordo com as regulamentações da União Europeia, os
imigrantes precisam ser identificados no primeiro país ao qual eles
chegam e, se quiserem pedir asilo, devem fazer isso no primeiro país em
que aportam. Como muitos querem se deslocar para outros lugares da
Europa, eles permanecem em situação ilegal. Isso torna impossível o
encaminhamento de solicitações para trabalhar. E muitos acabam apelando
para os empregos irregulares", explica a pesquisadora Elisa De Pieri, da
organização Anistia Internacional.
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/rumo-a-europa-imigrantes-enfrentam-racismo-tortura-e-afogamento
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