A importância de cada plâncton
Edição especial da revista científica Science traz os resultados da expedição ‘Tara Oceans’, que estudou o conjunto de micro-organismos marinhos responsáveis pela produção de metade do oxigênio da Terra.
Os cientistas catalogaram 35 mil tipos de bactérias marinhas, cerca de 80% dos quais eram, até então, ignoradas e identificaram mais de 5 000 tipos de vírus, dos quais apenas 39 eram conhecidos(Thinkstock/VEJA)
Em setembro de 2009, um veleiro saiu da Bretanha francesa para o que seria a primeira expedição científica global para estudar o plâncton, organismos microscópicos fundamentais para o equilíbrio marinho. Por pouco mais de quatro anos, os cientistas da Tara Oceans enfrentaram ameaças de piratas, ventos e tempestades para recolher 35 000 amostras de 210 regiões em todos os oceanos da Terra. Os resultados das análises revelaram, em cinco estudos publicados na quinta-feira (21) na revista Science, que esses organismos são mais diversos, variados e importantes para o ecossistema do que se imaginava. Descobriu-se, por exemplo, que, em sua maior parte unicelulares e invisíveis a olho nu, os minúsculos plânctons, antes pouquíssimos conhecidos pela ciência, são responsáveis por produzir metade do oxigênio encontrado na Terra.
"Descobrimos um mundo novo. Sabíamos que o plâncton era parte
fundamental da máquina que move o planeta, atuando em ciclos essenciais,
como o do carbono e o do nitrogênio. No entanto, não conhecíamos a
diversidade e real relevância desses seres",
Microbioma marinho - Durante os 1 140 dias da
expedição, o veleiro levou 160 cientistas a 35 países para recolher
amostras da superfície dos mares a até 900 metros de profundidade. Entre
os resultados mais importantes das análises estão o catálogo genético
de 35 000 tipos de bactérias marinhas, cerca de 80% dos quais eram, até
então, ignoradas, e a identificação de mais de 5 000 tipos de vírus, dos
quais apenas 39 eram conhecidos. Além disso, foi comprovado que a
temperatura oceânica é o principal fator para o equilíbrio do plâncton.
Qualquer mínima variação é capaz de comprometer a harmonia dos
micro-organismos.
Sarmento e uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui
cientistas do Universidade Sorbonne, na França, do Molecular Biology
Laboratory, na Alemanha, e do Vlaams Instituut voor Biotechnologie, na
Bélgica, elaborou um mapa de biodiversidade de vírus, bactérias e
protistas e explorou suas interações e impacto. As análises de 7,2
trilhões de pares de bases de DNA revelaram uma diversidade jamais
imaginada pelos cientistas.
"Acreditávamos que existissem dezenas ou centenas de tipos desses
micro-organismos, mas encontramos entre 2 000 e 4 000 tipos diferentes
de plâncton. Em 1 mililitro de água do mar há 1 milhão de bactérias e 10
milhões de vírus. Os oceanos são os lugares onde habita a maior parte
das formas de vida do planeta", disse Sarmento.
Nova tecnologia - Isso só foi possível pela
tecnologia atual, que tornou rápido e simples o sequenciamento de DNA
dos seres vivos. O volume atingido pelos cientistas é mil vezes superior
a qualquer estudo prévio de diversidade marinha. Com as novas técnicas e
a expedição foi possível estudar as criaturas em seu ambiente, o que
revelou a imensa variedade.
Além disso, os cientistas descobriram que cada região tem sua própria
comunidade de micro-organismos. Ela varia de acordo com o local, a
temperatura da água e os componentes encontrados na água. Há vírus e
bactérias específicos para o Atlântico ou Pacífico e o que os separa são
os redemoinhos oceânicos.
Origem da vida - O plâncton é formado por organismos
microscópicos: vírus, bactérias, protistas e pequenos organismos
multicelulares que, além de produzirem metade do oxigênio do planeta por
meio da fotossíntese, atuam como sumidouros de carbono, influenciam no
clima e formam a base da cadeia alimentar de peixes e mamíferos
marítimos.
Foram eles os responsáveis pelo surgimento do oxigênio no planeta.
Esses micróbios produziram o gás que saiu dos oceanos, migrou para a
atmosfera e tornou possível a saída das primeiras formas de vida da água
para ganharem a superfície da Terra. Além disso, todas as reservas de
petróleo têm origem nesses micro-organismos, pois o combustível é o
resultado da sedimentação de antigos mares e oceanos.
Por enquanto, os cientistas analisaram apenas 579 das 35 000 amostras
coletadas, o que significa que novas descobertas devem surgir nos
próximos anos. Além disso, os dados serão complementados com os
resultados da expedição Malaspina, liderada pelo Instituto de
Ciências do Mar (ICM-CSIC) de Barcelona, na Espanha, que recolheu
amostras do oceano mais profundo, de até 4 000 metros de profundidade
A expedição Tara Oceans é apoiada pelo Centro Nacional de
Pesquisas Científicas da França (CNRS), pelo European Molecular Biology
Laboratory, da Alemanha, e conta com a participação de diversas
instituições públicas e privadas internacionais.
explica o biólogo português
Hugo Sarmento, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
e um dos cientistas envolvidos na concepção e organização da expedição.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-importancia-de-cada-plancton
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