Arqueologia
América
foi inicialmente povoada por três ondas migratórias da Ásia, diz estudo
Durante muito tempo havia dúvida
sobre a origem dos habitantes do continente americano. Segundo os
pesquisadores, este estudo põe fim ao dilema
Os primeiros habitantes da América chegaram ao
continente há mais de 15.000 anos, em três ondas migratórias vindas da Ásia,
segundo o estudo de uma equipe internacional de cientistas publicado nesta
quarta-feira pela revista Nature.
O estudo do genoma de uma ampla seleção de tribos
indígenas americanas, do Canadá à Terra do Fogo (no extremo sul do continente
americano), demonstra que a população procede de pelo menos três ondas
migratórias de habitantes asiáticos que teriam chegado ao novo continente
através do Estreito de Bering, na Sibéria. Durante as eras glaciais — há mais
de 15.000 anos —, o Estreito permaneceu congelado e serviu como ponte entre os
continentes asiático e americano.
Embora os analistas calculem que tenham ocorrido
pelo menos três grandes migrações, a maioria das tribos descende da primeira
delas, conhecida como os 'Primeiros Americanos', já que as outras duas se
limitaram à América do Norte. "Durante anos se debateu se os
habitantes da América procediam de uma ou mais migrações através da Sibéria,
mas nossa pesquisa põe fim a este dilema: os nativos americanos não procedem de
uma só migração", disse o cientista colombiano Andrés Ruiz-Linares, do
University College de Londres, e autor principal do estudo.
De onde vieram os índios?
As teses sobre a ocupação da América
50.000 ANOS
Algumas evidências apontam uma colonização mais
antiga para a América, de até 50.000 anos. Esse é o dado obtido pela brasileira
Niède Guidon na Serra da Capivara, no Piauí. A datação não foi feita com ossos
humanos, mas com carvão vegetal associado ao que a arqueóloga considera antigas
fogueiras. Essa hipótese é aceita por poucos pesquisadores, que acreditam que o
carvão usado na datação pode ser resultado de um incêndio natural. A
pesquisadora também identificou pedras que teriam sido usadas para cortar há
50.000 anos. Data posterior (40.000 anos) foi obtida num sítio do México pela
arqueóloga Silvia González, a partir de cinza vulcânica associada a antigas
pegadas humanas – mas outros pesquisadores, analisando os mesmos dados, dizem
ter havido erro no procedimento. Fonte: Revista Aventuras na História
15.000 ANOS
É a tese defendida pelos autores da pesquisa
descrita nesta reportagem, com base na análise genética dos índios americanos,
do Canadá ao extremo sul do continente. É igual à tese defendida pelo
antropólogo brasileiro Walter Neves, com base no esqueleto de Luzia, de 11.000
a 12.000 anos, encontrada no sítio arqueológico de Lagoa Santa, na Grande Belo
Horizonte, Minas Gerais. Para Neves, Luzia é a evidência de que os antepassados
dos índios vieram pelo Estreito de Bering há 15.000 anos e aos poucos ocuparam
o continente. É a tese mais aceita.
11.400 ANOS
É a data defendida por parte dos arqueólogos
americanos (chamados de Clovistas), com base em objetos como pontas de flechas
e de lanças encontradas em um sítio arqueológico do Novo México. Essa tese
sustenta que houve apenas uma entrada pelo Estreito de Bering.
Maior pesquisa genética — É a maior pesquisa genética de
nativos americanos até o momento, e nela os cientistas analisaram mais de
364.000 variações, detectadas no DNA de 52 tribos indígenas americanas e de 17
grupos siberianos.
A análise foi dificultada pela presença de material
genético procedente de migrações posteriores, principalmente dos europeus e
africanos que chegaram à América a partir de 1492. Por isso, os pesquisadores
se centraram apenas nas seções do genoma que procediam totalmente dos nativos
americanos. "Tecnicamente, o estudo dos povos nativos americanos
representa todo um desafio devido à presença generalizada de traços europeus e
africanos nos grupos nativos", disse Ruiz-Linares.
Em ondas — A primeira onda migratória — os 'Primeiros
Americanos' — teria se deparado com um continente desabitado e seguiu rumo ao
sul pela costa do Pacífico, deixando povoações em sua passagem, um processo que
teria durado cerca de mil anos e cujas linhagens podem ser rastreadas no
presente.
No entanto, o DNA de quatro tribos da América do
Norte demonstra que houve pelo menos duas outras ondas migratórias: a segunda
percorreu a costa do Ártico até a Groenlândia, e a terceira se dirigiu rumo às
Montanhas Rochosas. Essas duas levas teriam sido protagonizadas por
indivíduos mais próximos à etnia han, predominante na China, do que os
'Primeiros Americanos'.
Ao avaliar o material genético da tribo dos aleútes
e dos inuítes, habitantes do leste e oeste da Groenlândia, os pesquisadores
constataram que metade de seu DNA procedia dos integrantes da segunda migração.
No caso dos membros da tribo canadense chipewyan,
que viviam entre as Montanhas Rochosas e a baía de Hudson, os especialistas
descobriram que tinham 10% do material genético em comum com os protagonistas
da terceira leva migratória.
O DNA dessas quatro tribos do Norte – aleútes,
inuítes do leste, inuítes do oeste e chipewyan – contém material das
três ondas migratórias, mas a maior parte corresponde à primeira. Isso
significa que os habitantes asiáticos da segunda e terceira ondas teriam se
relacionado com os primeiros que chegaram à América.
Segundo Ruiz-Linares, isso fica demonstrado pela
menor diversidade genética dos nativos da América do Sul, cujo DNA é mais
próximo ao dos 'Primeiros Americanos'. "O povoamento do México rumo ao sul
parece ter sido relativamente simples, com poucas misturas após a separação dos
povos (até a chegada dos europeus em 1492)", disse o pesquisador.
(Com Agência EFE)
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