domingo, 31 de maio de 2015

CRISE DE IMIGRAÇÃO

IMIGRANTES RUMO À EUROPA



Há um sentimento comum entre os milhares de imigrantes que se sujeitam às condições subumanas e se amontoam em embarcações obsoletas para chegar ao continente Europeu através do Mar Mediterrâneo. Poucos estariam ali se essa não fosse a última alternativa. Além da miséria crônica dos países subsaarianos, os conflitos que se espalharam por Síria, Líbia e Iêmen nos últimos anos esfacelaram governos e amplificaram perseguições raciais e religiosas no norte da África e no Oriente Médio.


Dados da Anistia Internacional mostram que metade dos imigrantes ilegais que realizaram a travessia era composta por refugiados de guerra. Os demais tinham objetivo de se asilar na Europa ou arrumar um emprego para fornecer uma vida melhor para suas famílias. Com relação à nacionalidade, 46% dos imigrantes eram provenientes da Síria e Eritreia. Malianos, líbios, nigerianos, etíopes e somalis também são flagrados com frequência na região.

A Líbia se transformou no maior 'hub' de embarque clandestino. O país está destroçado por uma guerra civil desde o fim da revolta que liquidou o ditador Muamar Kadafi, em 2011. Milícias fundamentalistas ganharam terreno no ano passado e conquistaram o controle de importantes cidades, incluindo a capital Trípoli e Bengasi. O governo que conta com o respaldo da comunidade internacional encontra-se acuado no leste do país e, sem poder, chegou  a buscar refúgio em uma embarcação ancorada em Tobruk. Como o Exército nacional foi dizimado e os postos de controle das fronteiras encontram-se abandonados, o fluxo de imigrantes é intenso no país. É neste cenário que redes de traficantes de humanos, muitas vezes aliadas a grupos armados, conseguem coagir pessoas a abrir mão de suas últimas economias em troca de uma viagem só de ida para a Europa.
Em relato ao jornal britânico The Guardian, um imigrante nigeriano contou que, ao chegar a uma praia da Líbia, se deparou com centenas de pessoas acampadas e aguardando a ordem dos traficantes para viajar. Uma vez dentro do barco, os criminosos permitem que milícias armadas subam a bordo para roubar os últimos pertences dos imigrantes. As pessoas, então, são dividas com base em critérios raciais e de gênero. Por terem a pele mais clara e condições de pagar maiores quantias em dinheiro (a 'passagem' custa entre 600 e 2.000 euros ou 1.800 e 6.000 reais), os sírios são autorizados a ficar no convés das embarcações, onde teoricamente seria mais seguro. Refugiados de pele mais escura vindos da África Subsaariana são trancados nos porões dos barcos, assim como mulheres e crianças - consideradas 'barulhentas demais'. Qualquer ação que os traficantes venham a considerar uma desobediência é passível de torturas, castigos físicos e até morte, empurrando as pessoas ao mar.
As viagens, que deveriam durar de três a quatro dias, transformam-se num pesadelo pela precariedade das embarcações. Os pesqueiros clandestinos não têm estrutura necessária para permanecer estabilizados no oceano e são atirados para diferentes direções conforme a força das ondas. Os próprios traficantes costumam guiar os barcos e, por não terem experiência suficiente, se perdem com frequência nas águas do Mediterrâneo. A comida e água potável disponível também não demoram a acabar, o que provoca agitações entre os imigrantes. O desespero é tamanho que os naufrágios na região costumam ocorrer devido ao excesso de pessoas que se aglomeram em uma única área do pesqueiro após um barco estrangeiro ser avistado ao horizonte. A grande maioria dos imigrantes não sabe nadar e se afoga imediatamente após cair na água.
Caso sejam resgatados com vida ou consigam cumprir a viagem até águas controladas por países europeus, os imigrantes enfrentam um burocrático processo até serem autorizados a reconstruir suas vidas. Muitas vezes eles permanecem por tempo indeterminado em centros de acolhimento superlotados. "De acordo com as regulamentações da União Europeia, os imigrantes precisam ser identificados no primeiro país ao qual eles chegam e, se quiserem pedir asilo, devem fazer isso no primeiro país em que aportam. Como muitos querem se deslocar para outros lugares da Europa, eles permanecem em situação ilegal. Isso torna impossível o encaminhamento de solicitações para trabalhar. E muitos acabam apelando para os empregos irregulares", explica a pesquisadora Elisa De Pieri, da organização Anistia Internacional.
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/rumo-a-europa-imigrantes-enfrentam-racismo-tortura-e-afogamento


sexta-feira, 22 de maio de 2015

OS PLÂNCTONS

A importância de cada plâncton

Edição especial da revista científica Science traz os resultados da expedição ‘Tara Oceans’, que estudou o conjunto de micro-organismos marinhos responsáveis pela produção de metade do oxigênio da Terra.

oceano Os cientistas catalogaram 35 mil tipos de bactérias marinhas, cerca de 80% dos quais eram, até então, ignoradas e identificaram mais de 5 000 tipos de vírus, dos quais apenas 39 eram conhecidos(Thinkstock/VEJA) 

Em setembro de 2009, um veleiro saiu da Bretanha francesa para o que seria a primeira expedição científica global para estudar o plâncton, organismos microscópicos fundamentais para o equilíbrio marinho. Por pouco mais de quatro anos, os cientistas da Tara Oceans enfrentaram ameaças de piratas, ventos e tempestades para recolher 35 000 amostras de 210 regiões em todos os oceanos da Terra. Os resultados das análises revelaram, em cinco estudos publicados na quinta-feira (21) na revista Science, que esses organismos são mais diversos, variados e importantes para o ecossistema do que se imaginava. Descobriu-se, por exemplo, que, em sua maior parte unicelulares e invisíveis a olho nu, os minúsculos plânctons, antes pouquíssimos conhecidos pela ciência, são responsáveis por produzir metade do oxigênio encontrado na Terra.

"Descobrimos um mundo novo. Sabíamos que o plâncton era parte fundamental da máquina que move o planeta, atuando em ciclos essenciais, como o do carbono e o do nitrogênio. No entanto, não conhecíamos a diversidade e real relevância desses seres",
Microbioma marinho - Durante os 1 140 dias da expedição, o veleiro levou 160 cientistas a 35 países para recolher amostras da superfície dos mares a até 900 metros de profundidade. Entre os resultados mais importantes das análises estão o catálogo genético de 35 000 tipos de bactérias marinhas, cerca de 80% dos quais eram, até então, ignoradas, e a identificação de mais de 5 000 tipos de vírus, dos quais apenas 39 eram conhecidos. Além disso, foi comprovado que a temperatura oceânica é o principal fator para o equilíbrio do plâncton. Qualquer mínima variação é capaz de comprometer a harmonia dos micro-organismos.
Sarmento e uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui cientistas do Universidade Sorbonne, na França, do Molecular Biology Laboratory, na Alemanha, e do Vlaams Instituut voor Biotechnologie, na Bélgica, elaborou um mapa de biodiversidade de vírus, bactérias e protistas e explorou suas interações e impacto. As análises de 7,2 trilhões de pares de bases de DNA revelaram uma diversidade jamais imaginada pelos cientistas.
"Acreditávamos que existissem dezenas ou centenas de tipos desses micro-organismos, mas encontramos entre 2 000 e 4 000 tipos diferentes de plâncton. Em 1 mililitro de água do mar há 1 milhão de bactérias e 10 milhões de vírus. Os oceanos são os lugares onde habita a maior parte das formas de vida do planeta", disse Sarmento.
Nova tecnologia - Isso só foi possível pela tecnologia atual, que tornou rápido e simples o sequenciamento de DNA dos seres vivos. O volume atingido pelos cientistas é mil vezes superior a qualquer estudo prévio de diversidade marinha. Com as novas técnicas e a expedição foi possível estudar as criaturas em seu ambiente, o que revelou a imensa variedade.
Além disso, os cientistas descobriram que cada região tem sua própria comunidade de micro-organismos. Ela varia de acordo com o local, a temperatura da água e os componentes encontrados na água. Há vírus e bactérias específicos para o Atlântico ou Pacífico e o que os separa são os redemoinhos oceânicos.
Origem da vida - O plâncton é formado por organismos microscópicos: vírus, bactérias, protistas e pequenos organismos multicelulares que, além de produzirem metade do oxigênio do planeta por meio da fotossíntese, atuam como sumidouros de carbono, influenciam no clima e formam a base da cadeia alimentar de peixes e mamíferos marítimos.
Foram eles os responsáveis pelo surgimento do oxigênio no planeta. Esses micróbios produziram o gás que saiu dos oceanos, migrou para a atmosfera e tornou possível a saída das primeiras formas de vida da água para ganharem a superfície da Terra. Além disso, todas as reservas de petróleo têm origem nesses micro-organismos, pois o combustível é o resultado da sedimentação de antigos mares e oceanos.
Por enquanto, os cientistas analisaram apenas 579 das 35 000 amostras coletadas, o que significa que novas descobertas devem surgir nos próximos anos. Além disso, os dados serão complementados com os resultados da expedição Malaspina, liderada pelo Instituto de Ciências do Mar (ICM-CSIC) de Barcelona, na Espanha, que recolheu amostras do oceano mais profundo, de até 4 000 metros de profundidade
A expedição Tara Oceans é apoiada pelo Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS), pelo European Molecular Biology Laboratory, da Alemanha, e conta com a participação de diversas instituições públicas e privadas internacionais.
explica o biólogo português Hugo Sarmento, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e um dos cientistas envolvidos na concepção e organização da expedição.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-importancia-de-cada-plancton