Origem seria um acidente durante uma arriscada operação de
reprocessamento de combustível nuclear em Mayak
Em Outubro de 2017 cientistas de um laboratório italiano
detectaram a presença do elemento radioativo Rutênio-106 no ar da cidade de
Milão. O elemento é um subproduto da fissão do Urânio-235, usado como
combustível em usinas nucleares. A última vez em que ele foi detectado na
atmosfera foi em 1986, após o desastre nuclear em Chernobyl. Ou seja, sua
presença era um indicador de que em algum lugar, um acidente nuclear havia
ocorrido.
O Instituto Francês para Proteção Radiológica e Segurança
Nuclear (IRSN) realizou uma investigação e determinou que o material veio da
região dos Montes Urais, na Rússia, e era fruto de esforços para
reprocessamento de combustível nuclear “gasto” em uma usina. Nesta região só há
uma instalação de reprocessamento de combustível: Mayak.
A Rosatom, agência do governo russo responsável pelo setor
nuclear no país, negou que qualquer acidente tivesse ocorrido, inicialmente
dizendo que o material radioativo teria vindo de um satélite que queimou na
atmosfera, e depois alegando que teria vindo de um acidente nuclear na Romênia.
Mas um novo estudo realizado em conjunto por mais de 60
autores em 50 instituições em toda a Europa confirma que Mayak foi a fonte do
material radioativo, classificando o evento como um “acidente nuclear não
declarado”. Além disso, agora sabemos de onde o material veio, e porque estava
sendo manipulado.
O estudo confirma uma suposição do IRSN de que os russos
estavam tentando criar uma fonte altamente compacta e altamente radioativa de
material que pudesse emitir uma grande quantidade de neutrinos, que seria usada
em um experimento italiano chamado SOX. O material usado nesta fonte seria o
cério-114, e para obtê-lo a usina estava reprocessando de combustível nuclear
“muito jovem”, com menos de 2 anos de idade.
Tal reprocessamento é extremamente arriscado, não só pelos
níveis de radioatividade emitidos pelo combustível como pela possibilidade da
geração de compostos extremamente voláteis, como o tetróxido de rutênio. Este
composto pode ter sido o responsável por uma explosão ou vazamento que resultou
na liberação de material radioativo na atmosfera.
Não foi a primeira vez que o governo russo tentou encobrir
um acidente nuclear. Em 29 de Setembro de 1957 uma explosão em um tanque de
armazenamento de lixo nuclear líquido espalhou uma nuvem de material radioativo
que cobriu uma área de até 20.000 Km2. O local? Mayak.
Fonte: Wired
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