Dimas Cunha
Antigo Terminal Rodoviário de Garanhuns-PE.Foto Dimas Cunha/ 2013
Construído
na década de 1960, o antigo terminal rodoviário de Garanhuns veio atender aos
anseios da população que se ressentia de um local apropriado para o embarque e
desembarque de passageiros que seguiam para diversos destinos rumo à capital
(Recife) ao interior, cidades e capitais de outros estados.
Desde
que Alfredo Leite Cavalcanti formou a primeira frota de ônibus urbanos da
cidade - na década de 1930 - e João Tude de Melo iniciou o transporte de
passageiros do interior para capital através da Auto Viação Progresso, o
embarque e desembarque de passageiros eram feitos, até esse tempo, em frente ao
antigo Cine Glória (atual Loja Balangandã) e no Edifício Tude (atual G. Araújo).
O
prédio da antiga rodoviária de Garanhuns foi construído pelo inglês
– dono da White Martins e presidente do Santa Cruz Futebol Clube, na época James Thorp. O
terminal foi construído com os recursos de seu proprietário. Nenhum recurso público foi destinado
para sua construção. Logo, o prédio da antiga rodoviária de Garanhuns é de
propriedade particular. Nele, não há nenhuma placa indicando ser uma obra
pública. A Prefeitura Municipal de Garanhuns, na gestão do prefeito Amílcar da Mota Valença, doou o terreno para construção do primeiro terminal rodoviário de
Garanhuns com a aprovação da Câmara de Vereadores. O edifício recebeu o nome de
Terminal Rodoviário Aloísio Souto Pinto, em homenagem ao ex-deputado e
ex-prefeito de Garanhuns.
Atualmente
o imóvel, cujas dependências já serviram de banheiro público por muitos anos
devido ao abandono, encontra-se no centro de uma disputa judicial entre os
herdeiros, os atuais donos e a Prefeitura do Município. Na gestão do prefeito Silvino Andrade Duarte
(1997-2000), quando da construção da Esplanada Guadalajara, o referido imóvel
serviu de pedra de tropeço que impediu o embelezamento daquele espaço em toda a
sua extensão. Não houve proposta de indenização por parte da prefeitura para os
atuais proprietários. Esse fato gerou um impasse nas negociações.
Hoje,
o edifício forma um hiato entre o que resta da obra arquitetônica mais moderna
e arrojada entre as praças e logradouros públicos construídos na cidade.
Tenho
muitas lembranças da Rodoviária de Garanhuns do meu tempo de estudante do
Colégio Diocesano de Garanhuns – curso noturno - e do Colégio Municipal Padre
Agobar Valença. Morava com minha mãe na atual travessa Silvino Macedo. Na
verdade é um beco sem saída ou “condomínio fechado” dos menos favorecidos.
Ao
saírem do colégio à noite depois das aulas muitos estudantes dirigiam-se à
rodoviária. Esta, ficava localizada no caminho para casa de muitos jovens.
Entre eles, eu lá estava. Era o local mais movimentado e convidativo para onde afluíam
muitos em busca de novidades ou quem sabe de uma “aventura”. Era o nosso ponto
de encontro. Havia um bar e lanchonete na parte posterior do prédio que tinha
algo especial. Era um rádio Transglob, de nove faixas de ondas que estava sempre
sintonizado na Rádio Globo do Rio de Janeiro. Quem quisesse ouvir uma boa
música, principalmente as músicas dos Festivais de MPB, Bossa Nova, sucessos de
trilha sonora de filmes norte-americanos e outros gêneros tinha que fazer
plantão nesse local. Nesse tempo, fazer serenata (voz e violão em acústico no
silêncio da noite) era certeza de um tremendo sucesso e aceitação popular. Uma forma
romântica de cortejar a mulher amada para conquistar seu coração.
O
seresteiro, naturalmente, tinha que ser eclético para poder alcançar sucesso
junto ao seu público. Público de gosto refinado. As canções mais ouvidas e
cantadas pelos jovens e adultos na época eram de origem francesa, inglesa,
italiana e espanhola.
Haja
talento para aprender os idiomas e cantar com boa pronúncia. “J’avais dessiné sur le sable, Son doux
visage qui me souriat...(Aline);
La festa appena cominciata è giá finita IL cielo non è piu com noi...( Canzone
per te); Mujer, se puedes tu com Dios ablar...( Perfídia); When somebody
loves you, it’s no good unless she loves you... (All
the way). Para nostalgia: Nelson Gonçalves, Orlando
Silva, Moacir Franco entre outros.
Uma
noite, no referido bar e lanchonete da rodoviária, ouvi uma canção se destacou
entre as demais. Era uma melodia envolvente e uma voz que sussurrava um
lamento. Foi a primeira vez que ouvi Azul da Cor do Mar, na voz de Tim maia.” Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir,
tenho muito p’ra contar...Dizer que aprendi...” Influenciado pela música
negra americana, Tim Maia trouxe algo novo para a música brasileira da época,
tão marcada pela Bossa Nova e músicas de protesto dos festivais.Era o soul, oriundo das igrejas protestantes
do Sul dos Estados Unidos.Tive a influência musical de Tim Maia por um bom
tempo. Tim Maia era um misto de talento, originalidade e rebeldia.
Devido
à facilidade que possuía para memorizar as letras das músicas ao ouvir pelo
menos duas vezes seguidas e transitar entre os sucessos da velha guarda, da
música jovem e sucessos internacionais - muito
na moda na época - fui muito requisitado com intérprete para diversas
serenatas e rodas de violão. Tinha apenas 16 anos quando fui “descoberto” como
“cantor” de seresta.
Pessoas
de todas as idades ficavam surpresas com o acervo de letras e melodias que
estavam na minha memória. Sabia todas de cor sem errar uma só palavra. Minha
vantagem entre os demais era ter trabalhado junto com minha mãe no Bar e
Restaurante Sayonara, que ficava localizado no início da Rua Severiano Peixoto,
mais conhecida como Rua do Cajueiro.
No
Sayonara, só tocava sucesso musical para um público cada vez mais exigente.
Um
romantismo na sua forma mais ingênua e singela me acometia dia e noite. Um dos
mais entusiasmados seresteiros arranjou-me logo um emprego como auxiliar de
ourives. Gostavam de me ouvir cantar e admiravam-se de como tão jovem gostasse
tanto de música de qualquer tempo ou época. Enquanto dava acabamento e
polimento nas jóias de ouro e prata na oficina, minha mente relacionava as
canções que fariam parte do repertório do próximo sarau e recital de poesias.
Chão de estrelas...
era a música mais solicitada em todas as serestas e rodas de violão.Consagrada
na voz de Sílvio Caldas, essa música fazia parte do acervo cultural da
sociedade da época.
Eu
caprichava em cada interpretação. Faziam silêncio para me ouvir cantar essa
música. Depois de cantá-la, aplausos e tapinhas nas costas: muito bem,rapaz. Isso me deixava feliz
pelo incentivo e aprovação dos
violonistas e do público presente, formado por adultos, pessoas de meia idade e
até idosos.
Às
vezes – na minha mente - volto ao passado e escuto o som dos violões, a
harmonia das notas musicais e a minha voz cantando... ”Minha vida era um palco iluminado,eu vivia vestido de dourado, palhaço
das perdidas ilusões...Cheio dos risos falsos e da alegria andei cantando a
minha fantasia entre as palmas febris
dos corações...”
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