sábado, 14 de julho de 2012

DE ONDE VIERAM OS ÍNDIOS?


Arqueologia
América foi inicialmente povoada por três ondas migratórias da Ásia, diz estudo
Durante muito tempo havia dúvida sobre a origem dos habitantes do continente americano. Segundo os pesquisadores, este estudo põe fim ao dilema

Índia Aharaibus, norte do Rio Negro, Amazonas – 1971: seus antepassados chegaram à América pelo Estreito de Bering, há 15.000 anos (Claudia Andujar)

Os primeiros habitantes da América chegaram ao continente há mais de 15.000 anos, em três ondas migratórias vindas da Ásia, segundo o estudo de uma equipe internacional de cientistas publicado nesta quarta-feira pela revista Nature.
O estudo do genoma de uma ampla seleção de tribos indígenas americanas, do Canadá à Terra do Fogo (no extremo sul do continente americano), demonstra que a população procede de pelo menos três ondas migratórias de habitantes asiáticos que teriam chegado ao novo continente através do Estreito de Bering, na Sibéria. Durante as eras glaciais — há mais de 15.000 anos —, o Estreito permaneceu congelado e serviu como ponte entre os continentes asiático e americano.
Embora os analistas calculem que tenham ocorrido pelo menos três grandes migrações, a maioria das tribos descende da primeira delas, conhecida como os 'Primeiros Americanos', já que as outras duas se limitaram à América do Norte. "Durante anos se debateu se os habitantes da América procediam de uma ou mais migrações através da Sibéria, mas nossa pesquisa põe fim a este dilema: os nativos americanos não procedem de uma só migração", disse o cientista colombiano Andrés Ruiz-Linares, do University College de Londres, e autor principal do estudo. 

De onde vieram os índios?

As teses sobre a ocupação da América

50.000 ANOS

Algumas evidências apontam uma colonização mais antiga para a América, de até 50.000 anos. Esse é o dado obtido pela brasileira Niède Guidon na Serra da Capivara, no Piauí. A datação não foi feita com ossos humanos, mas com carvão vegetal associado ao que a arqueóloga considera antigas fogueiras. Essa hipótese é aceita por poucos pesquisadores, que acreditam que o carvão usado na datação pode ser resultado de um incêndio natural. A pesquisadora também identificou pedras que teriam sido usadas para cortar há 50.000 anos. Data posterior (40.000 anos) foi obtida num sítio do México pela arqueóloga Silvia González, a partir de cinza vulcânica associada a antigas pegadas humanas – mas outros pesquisadores, analisando os mesmos dados, dizem ter havido erro no procedimento. Fonte: Revista Aventuras na História

15.000 ANOS

É a tese defendida pelos autores da pesquisa descrita nesta reportagem, com base na análise genética dos índios americanos, do Canadá ao extremo sul do continente. É igual à tese defendida pelo antropólogo brasileiro Walter Neves, com base no esqueleto de Luzia, de 11.000 a 12.000 anos, encontrada no sítio arqueológico de Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, Minas Gerais. Para Neves, Luzia é a evidência de que os antepassados dos índios vieram pelo Estreito de Bering há 15.000 anos e aos poucos ocuparam o continente. É a tese mais aceita.

11.400 ANOS

É a data defendida por parte dos arqueólogos americanos (chamados de Clovistas), com base em objetos como pontas de flechas e de lanças encontradas em um sítio arqueológico do Novo México. Essa tese sustenta que houve apenas uma entrada pelo Estreito de Bering.
Maior pesquisa genética É a maior pesquisa genética de nativos americanos até o momento, e nela os cientistas analisaram mais de 364.000 variações, detectadas no DNA de 52 tribos indígenas americanas e de 17 grupos siberianos.
A análise foi dificultada pela presença de material genético procedente de migrações posteriores, principalmente dos europeus e africanos que chegaram à América a partir de 1492. Por isso, os pesquisadores se centraram apenas nas seções do genoma que procediam totalmente dos nativos americanos. "Tecnicamente, o estudo dos povos nativos americanos representa todo um desafio devido à presença generalizada de traços europeus e africanos nos grupos nativos", disse Ruiz-Linares.

Em ondasA primeira onda migratória — os 'Primeiros Americanos' — teria se deparado com um continente desabitado e seguiu rumo ao sul pela costa do Pacífico, deixando povoações em sua passagem, um processo que teria durado cerca de mil anos e cujas linhagens podem ser rastreadas no presente.
No entanto, o DNA de quatro tribos da América do Norte demonstra que houve pelo menos duas outras ondas migratórias: a segunda percorreu a costa do Ártico até a Groenlândia, e a terceira se dirigiu rumo às Montanhas Rochosas. Essas duas levas teriam sido protagonizadas por indivíduos mais próximos à etnia han, predominante na China, do que os 'Primeiros Americanos'.

Ao avaliar o material genético da tribo dos aleútes e dos inuítes, habitantes do leste e oeste da Groenlândia, os pesquisadores constataram que metade de seu DNA procedia dos integrantes da segunda migração.
No caso dos membros da tribo canadense chipewyan, que viviam entre as Montanhas Rochosas e a baía de Hudson, os especialistas descobriram que tinham 10% do material genético em comum com os protagonistas da terceira leva migratória.
O DNA dessas quatro tribos do Norte – aleútes, inuítes do leste, inuítes do oeste e chipewyan – contém material das três ondas migratórias, mas a maior parte corresponde à primeira. Isso significa que os habitantes asiáticos da segunda e terceira ondas teriam se relacionado com os primeiros que chegaram à América.

Segundo Ruiz-Linares, isso fica demonstrado pela menor diversidade genética dos nativos da América do Sul, cujo DNA é mais próximo ao dos 'Primeiros Americanos'. "O povoamento do México rumo ao sul parece ter sido relativamente simples, com poucas misturas após a separação dos povos (até a chegada dos europeus em 1492)", disse o pesquisador.
(Com Agência EFE)

EXPLOSÕES SOLARES


NASA CAPTA IMAGENS DE EXPLOSÕES SOLARES


CAMPOS MAGNÉTICOS PODEM ATINGIR A TERRA

Essa imagem mostra como estava o Sol logo após o início da explosão solar. Nela é possível observar gigantescos redemoinhos de material solar e campos magnéticos onde a explosão começou (NASA/SDO/AIA)

Imagens de explosões solares foram captadas pela Nasa (agência nacional americana) nesta quinta-feira. Elas mostram a ejeção de massa da coroa solar (CME, pela sigla em inglês), que são "nuvens" de partículas atômicas aceleradas a altas velocidades.

EXPLOSÃO SOLAR

É uma intensa explosão de radiação que libera a energia magnética associada às manchas solares. Essas erupções são os maiores eventos explosivos do Sistema Solar. São vistas como áreas brilhantes sobre o Sol e podem durar minutos ou até horas.

CME

Sigla em inglês para “Coral Mass Ejection”, ou ejeção de massa da coroa solar. A coroa solar é feita, basicamente, de campos magnéticos. Às vezes essas massas estão confinadas e podem, de repente, liberar bolhas de campos magnéticos, chamadas de CME. Uma grande CME pode conter bilhões de toneladas de matéria que viajam a milhões de quilômetros por hora.

As explosões são provocadas pela grande atividade do Sol. Elas não podem ser vistas a olho nu, mas aparecem nas imagens de satélite como manchas brancas no sol, que podem durar minutos ou até horas. Coloridas artificialmente, essas imagens mostram grandes redemoinhos de material solar onde houve a explosão.

A que ocorreu nesta quinta-feira foi tão grande que liberou uma massa de partículas atômicas no espaço a uma velocidade de 1.360 quilômetros por segundo no espaço, de acordo com a Nasa – e elas podem atingir a Terra nesta sexta-feira.


A radiação liberada em explosões como essa pode afetar o sistema de comunicação terrestre, como radares e sinais de rádio. A que ocorreu nesta quinta não é tão forte quanto a tempestade registrada no início deste ano.

sábado, 7 de julho de 2012

CIENTISTAS AFIRMAM TER ENCONTRADO A "PARTÍCULA DE DEUS"

O bóson de Higgs é a unidade fundamental de um mecanismo que explica como as partículas ganham massa (Hemera/Thinkstock)

A confirmação da existência de uma partícula que tem grandes chances de ser o bóson de Higgs nesta quarta-feira representa o ápice de uma longa saga científica. Mais do que completar um complexo quebra-cabeças teórico proposto no início da década de 1970, o anúncio dessa misteriosa partícula coroa os esforços de milhares de cientistas ao redor do mundo que dedicaram suas vidas a entender como o maquinário fundamental do universo funciona. A verificação experimental do bóson de Higgs não trará a cura da aids nem resolverá o problema da fome do mundo, mas não deixa de ser uma vitória do homem sobre a natureza. É bom que a civilização tenha espaço para esse tipo de empreendimento.

MODELO PADRÃO

O Modelo Padrão é a melhor descrição do mundo subatômico. Existem outras, mas nenhuma que tenha tido tanto sucesso em experimentos para prever e descrever as partículas e as forças de suas interações. O Modelo Padrão oferece ferramentas teóricas para o avanço de tecnologias. A cura do câncer ou a construção de uma nave interestelar passam, em última análise, pelo sucesso de um modelo que descreva o comportamento da natureza no mais fundamental dos níveis.

BÓSON DE HIGGS

O bóson de Higgs é uma partícula subatômica prevista há quase 50 anos. Após décadas de procura, os físicos ainda não conseguiram nenhuma prova de que ela exista. O Higgs é importante porque a existência dele provaria que existe um campo invisível que permeia o universo. Sem o campo, ou algo parecido, nada do que conhecemos existiria. Os cientistas não esperavam detectar o campo, mas sim uma pequena deformação nele, chamada bóson de Higgs.

LHC

O Grande Colisor de Hádrons (do inglês Large Hadron Collider, LHC) é o maior acelerador de partículas do mundo, com 27 quilômetros de circunferência. Ele pertence ao CERN, o centro europeu de pesquisas nucleares e está instalado na fronteira franco-suíça. Em seu interior, partículas são aceleradas até 99,9% da velocidade da luz. Os experimentos ajudam a responder questões sobre a criação do universo, a natureza da matéria e fenômenos exóticos observados no espaço.

Sempre foi uma obsessão da ciência encontrar uma única teoria que explicasse todos os fenômenos da natureza, desde a constituição das partículas da matéria até as forças que as relacionam. Não porque isso pudesse resolver os problemas imediatos da humanidade, mas pelo desafio do conhecimento.

Até o início da década de 1970, o conhecimento humano do mundo subatômico era uma baderna. Havia muitas teorias – modelo quark, teoria Regge, de Calibre, Matriz-S, entre outras –, prevendo centenas de partículas e complexas relações entre elas. Mas elas só conseguiam explicar pequenos pedaços da realidade. "Não estava claro qual modelo era o correto", escreveu o físico britânico Stephen Wolfram na revista americana Wired. "Algumas teorias pareciam vazias, outras eram profundas e filosóficas. Algumas eram sofisticadas, e outras, entediantes."

As peças do modelo — No início da década de 1970, contudo, uma teoria se destacou. Nessa época os cientistas confirmaram a existência dos quarks, partículas que constituem os prótons e os nêutrons, elementos que formam o núcleo dos átomos. Essa descoberta deu força a uma teoria que viria a ser conhecida como Modelo Padrão da Física de Partículas — que previa a existência de 12 tipos de partículas elementares, suportadas por um campo que confere massa a algumas delas (como o elétron), mas não a outras (como o fóton).

O pontapé inicial para a confecção do Modelo Padrão foi dado em 1960, quando o físico americano Sheldon Glashow descobriu uma forma de combinar a força eletromagnética e as interações fracas dos átomos, duas das quatro forças fundamentais (as outras são as interações fortes dos átomos e a gravidade).

Sete anos mais tarde, Steven Weinberg e Abdus Salam afundiram as ideias de Glashow às do físico escocês Peter Higgs. Em 1964, Higgs propôs a existência de um campo com o qual as partículas interagem. Essa interação confere massa às partículas. As que não interagem com o campo de Higgs não possuem massa e estão fadadas a viajar para sempre na velocidade da luz, como os fótons, a unidade básica da luz. A unidade básica desse campo foi batizada com o nome do físico: bóson (nome dado às partículas que ‘transportam’ energia) de Higgs.

Entre 1974 e 1974 experimentos confirmaram a teoria da interação forte entre as partículas (mais uma das quatro forças fundamentais). A descoberta deu ao Modelo Padrão sua forma atual e valeu a Glashow, Salam e Weinberg o Nobel de Física de 1979.

A teoria de 'quase tudo' — Os cientistas usaram o Modelo Padrão para prever a existência de várias partículas que ainda não haviam sido verificadas na prática, e ele não decepcionou. A um custo de bilhões de dólares, foram construídos aceleradores de partículas, como o Fermilab, nos Estados Unidos e o LHC, na fronteira franco-suíça. A descoberta do quark bottom em 1977, o quark top em 1995 e o tau neutrino em 2000 deram ainda mais crédito ao Modelo Padrão, fazendo dele a melhor teoria para explicar ‘quase tudo’. Com ele, é possível explicar com sucesso uma grande variedade de resultados experimentais, exceção feita ao comportamento da gravidade, da matéria e da energia escuras e da antimatéria.

David Noir/Reuters

A partícula derradeira — De todas as partículas previstas pelo Modelo Padrão, apenas uma não havia sido verificada em experimentos: o bóson de Higgs. Sua verificação tornou-se, portanto, uma questão de honra para os teóricos. Mas não foi fácil. Os primeiros aceleradores de partícula não foram capazes de encontrá-lo. Nem os de segunda geração. Foi preciso investir 10 bilhões de dólares para a construção do Large Hadron Collider, um gigantesco anel de 27 quilômetros de diâmetro na fronteira franco-suíça, potente o suficiente para esmagar prótons a uma velocidade próxima a da luz e oferecer as condições para procurar o bóson de Higgs em regiões energéticas desconhecidas até então pela ciência. Embora não fosse seu único objetivo, a busca pelo bóson de Higgs é a principal vitrine do LHC e o principal argumento para convencer governos a gastar dinheiro público em um empreendimento de ambições puramente teóricas.

A próxima jornada – A longa espera chegou ao fim nesta quarta-feira. Isso explica o entusiasmo com que cientistas ao redor do planeta programaram encontros festivos para receber o anúncio do pesquisadores do LHC. O próprio Peter Higgs foi convidado para o anúncio. Após os resultados, disse aliviado. “Acho que o encontramos”. Em uma coletiva de imprensa na Escócia, nessa sexta-feira, disse algo que estava engasgado há mais de 40 anos. “É muito bom estar certo.”

No Brasil, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) organizou uma espécie de 'café da madrugada', com suco e salgadinhos para professores, estudantes e jornalistas na sala de computação do campus da Barra Funda, em São Paulo. Um telão exibia ao vivo o anúncio dos cientistas do LHC. Físicos brasileiros, como Sérgio Novaes e Hélio Takai, um em Genebra e outro em Nova York, vibraram com os resultados. "É, sem dúvida, o resultado mais importante dos últimos 30 anos na Física de Partículas", disse Novaes, emocionado, por teleconferência. Líder de um grupo de pesquisa da Unesp, Novaes trabalha em um dos experimentos que detectaram o bóson de Higgs e publicou — no início da década de 1980 — um dos primeiros artigos que descreviam como encontrar a partícula.

A verificação experimental do bóson de Higgs não significa a vitória completa da ciência sobre a natureza, ainda. Embora o Modelo Padrão seja a melhor descrição do mundo subatômico, ele diz respeito a apenas 4% do universo visível. O restante (96%) corresponde à matéria escura e à energia escura. Alguns cientistas ainda consideram o modelo pouco elegante por omitir a natureza da gravidade, considerada uma das forças fundamentais. São questões que ocuparam e ocupam as mentes dos mais brilhantes cientistas, como Albert Einstein, que perseguiu uma teoria unificadora até o fim de seus dias, e Stephen Hawking, que ainda luta pelo mesmo objetivo a despeito de sua condição física paralisante. Talvez o Modelo Padrão seja parte de um modelo ainda maior que inclui uma física ainda desconhecida, como propõe a Teoria de Cordas, escondida no mundo subatômico ou nos remotos e obscuros confins do universo. A incrível saga do bóson de Higgs parece ter chegado ao fim. Mas a jornada científica para entender os outros 96% do universo ainda está longe de acabar.

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-incrivel-saga-do-boson-de-higgs.Acesso em 07.07.2012