Geofísica
Temperatura
no centro da Terra chega a 6.000 graus Celsius
Estimativa supera em mil graus
cálculos de experimentos anteriores
Os
pesquisadores já sabiam que a Terra era dividida em quatro camadas: crosta,
manto, núcleo líquido e núcleo sólido. Agora, eles conseguiram estimar a
temperatura de cada uma delas (Thinkstock
Pesquisadores conseguiram determinar que a
temperatura da Terra perto de seu centro é de 6.000 graus Celsius, mil graus
mais quente do que experimentos anteriores haviam mostrado. Esses cálculos
também confirmam modelos geofísicos que previam que, para explicar a formação
do campo magnético terrestre, a diferença entre a temperatura do núcleo e do
manto terrestre deveria ser de 1.500 graus. O resultado foi publicado nesta
quinta-feira na revista Science.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Melting of Iron at Earth’s Inner Core Boundary Based on Fast X-ray Diffraction
Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: S. Anzellini, A. Dewaele, M. Mezouar, P. Loubeyre, G. Morard
Instituição: Comissão Francesa de Energia Atômica e Energias Alternativas
Dados de amostragem: Amostras de ferro, submetidas a diferentes valores de temperatura e pressão
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, se submetido à pressão de 2,2 milhões de atmosferas, o ponto de fusão do ferro é de 4.8000 graus Celcius. Cálculos matemáticos mostraram que a temperatura do núcleo sólido do planeta, onde a pressão é de 3,3 atmosferas, pode chegar 6.000 graus.
Título original: Melting of Iron at Earth’s Inner Core Boundary Based on Fast X-ray Diffraction
Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: S. Anzellini, A. Dewaele, M. Mezouar, P. Loubeyre, G. Morard
Instituição: Comissão Francesa de Energia Atômica e Energias Alternativas
Dados de amostragem: Amostras de ferro, submetidas a diferentes valores de temperatura e pressão
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, se submetido à pressão de 2,2 milhões de atmosferas, o ponto de fusão do ferro é de 4.8000 graus Celcius. Cálculos matemáticos mostraram que a temperatura do núcleo sólido do planeta, onde a pressão é de 3,3 atmosferas, pode chegar 6.000 graus.
O núcleo da Terra é formado, em sua maior parte,
por uma esfera de ferro líquido com temperaturas superiores a 4.000 graus
Celsius e pressão equivalente à de 1,3 milhão de atmosferas. Sob essas
condições, o ferro se torna tão líquido quanto a água dos oceanos. É apenas no
centro dessa esfera, onde as temperaturas e pressão são ainda maiores, que o
ferro volta a se solidificar.
Os pesquisadores conhecem a maior parte dessas
características a partir da análise do movimento das ondas sísmicas — causadas
por terremotos — entre essas camadas. Essas ondas, no entanto, não são capazes
de mostrar a temperatura nessas regiões, o que deixa de fora informações
importantes para os cientistas compreenderem os movimentos dos materiais que
compõem o centro da Terra. Por exemplo, a diferença entre as temperaturas do
núcleo e do manto é um dos fatores responsáveis, junto com a rotação do
planeta, por gerar o campo magnético da Terra.
Para descobrir a temperatura dessas camadas, os
cientistas analisaram a temperatura de fusão do ferro em diferentes pressões,
usando equipamentos feitos de diamante para comprimir pequenas partículas de
ferro a pressões que são milhões de vezes superiores à exercida pela atmosfera.
Nessas condições, os pesquisadores dispararam poderosos raios laser nas
amostras, que são capazes de esquentar o material a até quase 5.000 graus Celsius.
“Na prática, tivemos de superar muitos desafios experimentais, uma vez que as
amostras precisam ser termicamente isoladas e não podem interagir quimicamente
com o ambiente. Além disso, mesmo que uma amostra alcance temperatura e pressão
extremas como as do centro da Terra, isso só vai acontecer por alguns segundos
— período muito curto para determinar se o material começou a derreter ou
continua sólido”, Agnès Dewaele, pesquisadora da Comissão Francesa de Energia
Atômica e Energias Alternativas, responsável pela pesquisa.
A fim de superar esse problema, os pesquisadores
utilizaram raios-X como ferramenta para analisar as amostras de ferro. “Nós
desenvolvemos uma nova técnica onde raios-X intensos podem atingir uma amostra
e deduzir se ela está sólida, liquida ou parcialmente derretida, em períodos
curtos de tempo, de até um segundo. Isso é rápido o suficiente para que a
temperatura e pressão das amostras sejam mantidas constantes”, disse Mohamed
Mezouar, pesquisador do Laboratório Europeu de Radiação Síncrotron, um dos
autores do estudo.
Assim, eles conseguiram determinaram
experimentalmente que o ponto de fusão do ferro é de 4.800 graus a uma pressão
de 2,2 milhões de atmosferas — os limites do equipamento. Utilizando modelos
matemáticos, os pesquisadores calcularam o mesmo ponto de fusão para uma
pressão de 3,3 atmosferas, equivalente à sentida na fronteira entre o núcleo
sólido e o liquido. O resultado foi 6.000 graus Celsius.
Os pesquisadores também descobriram por que as
pesquisas anteriores haviam calculado essa temperatura de forma errada. Segundo
os cientistas, a partir dos 2.400 graus, um processo químico conhecido como
recristalização acontece na superfície do ferro, levando a mudanças em sua
estrutura. A pesquisa anterior havia usado técnicas ópticas para determinar se
as amostras estavam sólidas ou líquidas, e é possível que os pesquisadores
tenham interpretado a recristalização na superfície da amostra como um sinal de
seu derretimento.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/temperatura-no-centro-da-terra-chega-a-6-000-graus-celsius