quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA APERTADINHO


A PCH fica a 30 quilômetros da cidade de Vilhena, próxima à confluência dos rios Pimenta Bueno e Comemoração. A PCH, com capacidade de 30 MW, é de propriedade da Centrais Elétricas Belém, sociedade de propósito específico da Serra da Carioca Companhia Energética. Cidades vizinhas: Vilhena, Cerejeiras, Pimenteiras do Oeste Coordenadas: 12°30'8"S 60°19'16"W. Clique no canto superior da imagem para navegar no Google Map.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

PROGRAMA FAZENDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA



O que é o Programa Fazendo Educação Ambiental na Escola?

É um programa de âmbito educacional e cultural composto por um conjunto de ações e projetos de Educação Ambiental desenvolvidos pela Coordenação de Projetos de Meio Ambiente da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Zilda da Frota Uchôa, Vilhena, Rondônia.

Objetivo

Promover o ensino-aprendizagem de Educação Ambiental no ambiente escolar e fora dele visando construir valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências para a preservação do Meio Ambiente e a construção de sociedades sustentáveis.

Há quanto tempo a E.E.E.F.M Zilda da Frota Uchôa faz Educação Ambiental?

Desde o ano 2000 quando foi formada uma parceria entre os universitários do Curso de Letras da Universidade Federal de Rondônia e os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental da unidade escolar, no Projeto de Revitalização e Preservação do Rio Pires de Sá, em Vilhena.

Marco conceitual de Educação Ambiental

De acordo com o artigo 1º da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental, “Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

Projetos Pedagógicos do Programa

·         Projeto de Revitalização e Preservação do Rio Pires de Sá
·         Projeto Água, Escola e Ambiente
·         Projeto Reciclar no Presente para Viver no Futuro
·         Projeto Verde que te Quero Verde

Parcerias

Ministério Público de Rondônia
ITAÚ SOCIAL – Banco Itaú S/A
UNIR- Universidade Federal de Rondônia
SEMED – Secretaria Municipal de Educação
SEMMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente
CPA - Central de Produção de Alimentos
ITC – Instituto Técnico de Colorado
Studio Ein Gedi Produções

Por Dimas Cunha, 14 de outubro de 2013

GENOMAS DIVERSOS EM UM MESMO CORPO

Genética

Mesmo corpo, vários genomas

Estudos publicados nos últimos três anos revelam que um mesmo indivíduo pode ter em seu corpo células com DNAs diferentes. Conhecer o padrão dessas "mosaicos genéticos" pode ajudar no tratamento e diagnóstico de doenças e até em investigações policiais

Enquanto o corpo humano cresce e se desenvolve, pequenas falhas no processo de replicação das células podem dar origem a mutações no DNA que as constitui. Uma pesquisa recente analisou as células da pele de sete indivíduos e descobriu que 30% delas apresentavam genomas diferentes do resto do corpo (Thinkstock)

Desde que os biólogos James Watson e Francis Crick descobriram a estrutura do DNA em 1953, os cientistas supunham que todas as células do corpo de um indivíduo saudável possuíam o mesmo genoma, uma cópia exata da receita original, presente no embrião. Eventuais mutações, acreditavam, teriam consequências drásticas, como o surgimento de tumores. Descobertas feitas nos últimos anos, no entanto,revelam que uma pessoa pode normalmente carregar vários DNAs espalhados pelo seu corpo, resultado de mudanças sem fim em seu código genético. Pesquisadores já encontraram essas mutações em diversos tecidos do corpo humano, como cérebro, pele, sangue e rins. Conhecer o padrão desse mosaico genético pode ajudar no diagnóstico e tratamento de doenças e até em investigações policiais.
Todo animal nasce a partir do encontro de um óvulo com um espermatozoide, de que resulta seu DNA original.Até a última década, os pesquisadores reconheciam apenas um DNA por indivíduo, replicado com perfeição — nucleotídeo por nucleotídeo — por todo o corpo. “As apostilas de genética deixavam claro que todas as células deveriam ter o mesmo genoma. Podia haver algumas poucas exceções, como as células reprodutivas e algumas do sistema imunológico, mas a história terminava aí”, afirma Alexander Urban, professor de psiquiatria e genética na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e autor de algumas das principais pesquisas sobre a variação no DNA humano. Uma das exceções conhecidas pelos pesquisadores desde os anos 1950 é o quimerismo, que ocorre quando dois embriões que dariam origem a gêmeos se fundem no útero materno, gerando um único indivíduo com dois DNAs diferentes espalhados pelo corpo.
Nos últimos cinco anos, no entanto, os pesquisadores descobriram que variações do DNA não são incomuns, nem necessariamente danosas. “Quase todas as pessoas possuem algumas dessas variações espalhadas pelo corpo. Ainda não podemos afirmar categoricamente o número de mutações ou de pessoas que as carregam, mas as temos encontrado na maioria dos estudos que fazemos. Deve levar entre cinco a dez anos para que tenhamos dados mais precisos”, afirma Urban.
Embora seja um campo de estudo relativamente novo — os estudos mais robustos não possuem mais do que três anos —, os pesquisadores já foram capazes de catalogar uma série dessas variações. Em um dos estudos que contaram com a participação de Urban, os cientistas valeram-se da autópsia de seis indivíduos para mapear a variedade genética de seus órgãos. Em cinco dos seis corpos foram encontradas mutações. “Isso não quer dizer que os genomas dos órgãos sejam completamente diferentes. Em um dos casos, por exemplo, nós encontramos alterações em apenas cinco pares de bases que compõem o DNA dos rins e do fígado. Perto dos três bilhões de pares que compõem todo o genoma, é muito pouco”, diz Urban.

Mosaicos humanos — O número de pesquisas sobre o tema tem crescido aceleradamente. Para tanto, os cientistas contam com o avanço da tecnologia de análise genética, que permite exames cada vez mais rápidos, baratos e precisos. “Há uma década, um grupo de centenas de milhares de cientistas levou cerca de treze anos para sequenciar o primeiro genoma humano, a um custo de 3 bilhões de dólares. Hoje, aqui em nosso laboratório, podemos sequenciar três ou quatro genomas por semana, cada um custando milhares de dólares. Ficou muito mais fácil — e rápido— fazer experimentos e testar hipóteses”, diz Urban.
Com isso, os cientistas puderam não só comparar as diferenças dos genomas entre diferentes pessoas, mas também entre os diferentes tecidos do mesmo indivíduo. Descobriram assim, novas formas de quimerismo, como filhos que carregavam em seu sangue algumas células maternas, que absorveram quando estavam ainda estavam no útero, ou mães que tinham, em diversos tecidos de seu corpo, restos de células com o DNA dos filhos.
Mas o que mais surpreendeu os cientistas foram as análises genéticas que mostraram que as células de um mesmo indivíduo podiam começar a sofrer mutações espontâneas durante seu desenvolvimento, gerando tecidos com DNAs diferentes. Esse fenômeno — que recebeu o nome de mosaicismo, como se o indivíduo fosse formado a partir de um mosaico de genomas diferentes — se mostrou muito mais comum do que se suspeitava. Uma pesquisa realizada por Alexander Urban, por exemplo, analisou e comparou o DNA das células da pele de sete indivíduos. Como resultado, descobriu que 30% das células estudadas apresentavam pequenas variações genéticas que as diferenciavam do resto do corpo.
Os pesquisadores querem agora saber em que momento do desenvolvimento corporal essa mutações acontecem. “Se uma mutação acontece no começo do desenvolvimento cerebral, por exemplo, ela estará em todos os neurônios do cérebro”, diz Urban. Se só acontecer mais tarde, estará muito menos presentes — e será muito mais difícil achá-la.

Mutações e doenças Os cientistas ainda não são capazes de afirmar com certeza quais são os efeitos de todas essas mutações para a saúde humana. “O que podemos afirmar é que a maioria dessas variações não é muito maligna”, diz Urban. "Ou estaríamos todos mortos."
Uma minoria dessas mutações, no entanto, tem efeitos perversos para a saúde da população. Essas variações são as mais fáceis de descobrir, pois os indivíduos que as carregam adoecem, procuram os médicos e eventualmente têm seu DNA analisado. Foi assim que os cientistas conseguiram ligar o mosaicismo a uma série de doenças raras, como as síndromes de McCune–Albright, de Pallister–Killian e de Proteus, que têm sintomas semelhantes, gerando deformações nos ossos, mudanças na pigmentação da pele e no desenvolvimento corporal.
Uma pesquisa publicada por cientistas da Universidade da Califórnia no ano passado, por exemplo, mostrou que mutações nas células do cérebro são responsáveis pela megaloencefalia, uma condição na qual metade do órgão cresce mais do que a outra e causa severas convulsões. O laboratório de Alexander Urban está, neste momento, pesquisando se existe alguma relação entre mudanças no DNA das células cerebrais e doenças mais comuns, como autismo e esquizofrenia.
As doenças mais conhecidas por surgirem a partir de mutações no DNA são os cânceres. Eles surgem a partir de mudanças grandes nos genomas — podendo atingir alguns milhares de pares de base — que fazem com que as células passem a se reproduzir descontroladamente.
Com os avanços na área, os cientistas estão começando a entender que tipos de mutações são as mais perigosas. Uma pesquisa publicada este mês na revista Science, por exemplo, comparou as variações genéticas encontradas naturalmente no genoma humano com aquelas que aparecem nos tumores. Como resultado, mapeou as regiões do DNA que são mais vulneráveis a alterações malignas, que podem dar início ao câncer. “Nós classificamos essa regiões como sensíveis ou ultrassensíveis, pois estão mais suscetíveis a esse tipo de mutação”, diz Mark Gerstein, pesquisador de bioinformática na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e autor do estudo, em entrevista ao site de VEJA.
A pesquisa de Mark Gerstein é um exemplo do rumo que podem tomar as novas pesquisas na área da genética. Ao descobrir que as variações no DNA são muito mais comuns do que se pensava, e ao mapear quais delas podem dar origens a doenças, os cientistas estão dando início a uma nova etapa da medicina personalizada. “Ao caracterizar completamente um tumor, por exemplo, nós podemos administrar drogas desenvolvidas para aquele tipo de câncer, com suas mutações específicas”, afirma Gerstein.

Investigação policial – Outra área que deve sofrer consequências a partir desses estudos é a ciência forense, em particular o uso de teste genéticos para identificar criminosos. “O mosaicismo não pode levar a uma falsa acusação. É impossível que alguém vá preso porque uma mutação em seu DNA o torna parecido com o de um criminoso — o DNA é grande demais para isso. Mas é possível, embora muito improvável, que algum criminoso não seja encontrado porque as marcas que deixou não correspondem ao DNA do resto de seu corpo”, diz Urban. O mesmo tipo de problema pode ser apontado em outros testes genéticos, como os que examinam a paternidade.
O pesquisador diz que, para resolver esse impasse, bastariam algumas mudanças nos testes. Esses exames não costumam cobrir todo o genoma do indivíduo, mas alguns marcadores específicos que se encontram ao longo do DNA. Se os pesquisadores descobrirem os trechos mais suscetíveis às mutações, ou os testes passarem a analisar um número maior de marcadores, os erros tendem as ser evitados. "São mudanças pequenas, que não exigem o abandono dos exames. Essa é uma área muito nova de pesquisas, mas, por enquanto, nada do que descobrimos justifica grandes preocupações", afirma.

Saiba mais

QUIMERISMO
Quimera é um organismo que possui células descendentes de dois zigotos diferentes. Ele pode surgir, por exemplo, a partir da fusão, ainda no útero materno, dos embriões de dois gêmeos não-idênticos. Nesse caso, os DNAs encontrados em sua célula serão bastante diferentes, indicando a mistura de dois indivíduos.
MOSAICISMO
Quando um indivíduo possui células com DNAs diferentes, mas que descendem do mesmo zigoto. Ele pode surgir a partir de mutações que as células sofrem conforme o corpo se desenvolve. No mosaicismo, as diferenças genéticas entre as células costumam ser muito pequenas, atingindo poucos pares de base em meio aos bilhões que existem no DNA..

EPIGENÉTICA
O mosaicismo não é a única forma pela qual os genes podem mudar sua forma de atuação durante a vida de um indivíduo. Nos últimos anos, uma série de pesquisas tem mostrado a importância da epigenética, uma alteração que acontece no modo como os genes se expressam, sem acarretar, no entanto, em alteração do código genético.
Ela é diferente da mutação que acontece no mosaicismo. Em uma mutação, o próprio código genético é alterado em algum momento do desenvolvimento do indivíduo. Já a mudança epigenética só altera a forma como o gene funciona — o DNA continua o mesmo, mas já não atua do mesmo modo. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais, como poluição ou a prática de exercícios, e pode ser passada para as gerações seguintes.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

COMETA ATINGIU O EGITO HÁ 28 MILHÕES DE ANOS

Astronomia


Pesquisadores encontram fragmento de cometa que atingiu a Terra há 28 milhões de anos


Queda do cometa no sudoeste do Egito devastou a região e transformou o solo do deserto em vidro 

A onda de fogo causada pelo impacto do cometa atingiu em cheio o deserto egípcio. O calor foi tanto que a areia virou vidro (Terry Bakk

Há 28 milhões de anos, um cometa adentrou a atmosfera terrestre, acima da região que viria a ser conhecida como Egito. Ao entrar em contato com o ar, o cometa explodiu, espalhando uma enorme onda de fogo que destruiu todas as formas de vida em seu caminho. O calor produzido foi tão alto que transformou o solo do deserto em vidro. Nesta quinta-feira, pesquisadores da Universidade de Witts, na África do Sul, anunciaram em uma palestra que identificaram um pedaço do cometa responsável por toda essa destruição.
O pequeno pedaço de rocha preta é a primeira prova material encontrada por cientistas de um cometa que atingiu a Terra. Formados em regiões distantes do Sistema Solar, a partir de gelo e poeira, eles normalmente se desintegram quando entram em contato com a atmosfera. “Os cometas são bolas de neve sujas de poeira que sempre passam pelos nossos céus, mas nunca havíamos encontrado o material de que eles são feitos na superfície terrestre", afirma David Block, pesquisador da Universidade de Wits e um dos responsáveis pela descoberta.
Em seu estudo, os pesquisadores realizaram uma análise das propriedades químicas e físicas de uma pequena e brilhante rocha negra que havia sido encontrada por geólogos no sudoeste do Egito. Dura e angular, a pedra foi nomeada pelos cientistas de Hipátia, em homenagem à mais antiga filósofa, astrônoma e matemática de que se tem notícia: Hipátia de Alexandria.
A análise dos pesquisadores mostrou que ela era composta principalmente por carbono, com diamantes microscópicos espalhados ao longo de sua massa. "Os diamantes são produzidos a partir do carbono. Normalmente eles se formam no fundo da terra, onde a pressão é muito alta, mas também podem ser gerados a partir de um impacto muito forte", afirma Jan Kramers, pesquisador da Universidade de Joanesburgo.
As análises dos isótopos encontrados na rocha mostraram que o material deveria ter origem extraterrestre, possivelmente fazendo parte do núcleo de um cometa. A pesquisa descrevendo a análise será publicada em novembro na revista Earth and Planetary Science Letters.


Um dos fragmentos de vidro produzidos pelo impacto do cometa foi parar em um broche utilizado pelo faraó Tutancamon


Jóias e segredos — Um dos fatores que levou os cientistas a relacionar o pedaço de rocha extraterrestre com o cometa que atingiu o Egito há 28 milhões de anos foi o local onde a pedra estava, no meio de uma área de 6.000 quilômetros quadrados no deserto do Saara. Nesse lugar são encontrados, desde os tempos antigos,  pequenos fragmentos de vidro amarelado.
Segundo os pesquisadores, esses fragmentos foram produzidos justamente pelo impacto do cometa, quando o calor de até 2.000 graus Célsius transformou a areia que cobria o solo em vidro. Um desses pedaços — polido — foi parar em um pingente utilizado por Tutankhamon há mais de 3.000 anos.
Os cientistas afirmam que é extremamente raro encontrar material de cometas na superfície da Terra. Os únicos fragmentos descobertos até agora eram microscópicos, achados em meio à poeira flutuando na alta atmosfera ou no gelo antártico. A Hipátia só não teve o mesmo destino porque seu impacto com a Terra teria resultado na formação de um material mais resistente às intempéries.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Unique chemistry of a diamond-bearing pebble from the Libyan Desert Glass strewnfield, SW Egypt: Evidence for a shocked comet fragment

Onde foi divulgada: periódico Earth and Planetary Science Letters

Quem fez: David Block, entre outros pesquisadores

Instituição: Universidade de Wits, na África do Sul; entre outras

Dados de amostragem: Um pedaço de rocha negra, encontrado no deserto egípcio

Resultado: Análises dos isótopos de carbono encontrados no fragmento reveleram que ele tinha origem extraterrestre. Segundo os cientistas, a rocha faria parte de um cometa que atingiu a Terra há 28 milhões de anos

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisadores-encontram-nucleo-de-cometa-que-atingiu-a-terra-ha-28-milhoes-de-anos

O HOMEM NA AMÉRICA

O homem na América. De onde veio? Quando? Como?
Por Cristiane Delfina
10/10/2013
Na busca por mais elementos para compor o grande quebra-cabeças que é a origem da presença humana na Terra e seus movimentos migratórios, arqueólogos, biólogos, geólogos e outros cientistas se abastecem de recursos técnicos, metodologias, destreza e paciência para escavar e investigar os vestígios materiais de grupos humanos pré-históricos. Em muitos casos, o que encontram gera mais perguntas do que respostas e, em outros, a insistência em se impor uma resposta pode limitar as possibilidades de novas descobertas.
O geólogo e doutor em geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ernesto Luiz Lavina, em artigo publicado em 2010 na Revista Brasileira de Geociências, retoma a efervescência de teorias em diversos campos da ciência nos séculos XIX e XX, destacando especialmente uma: em 1912, numa conferência da Associação Geológica da Alemanha, Alfred Lothar Wegener apresentou a polêmica teoria de que, há centenas de milhões de anos, os continentes eram um só. Essa proposição movimentou várias áreas da ciência, pois invalidaria os pensamentos e pesquisas anteriores de muitos campos, especialmente da geologia.
A chamada Teoria da Deriva dos Continentes explicaria a similaridade e correspondência dos contornos continentais e a presença de animais e plantas da mesma espécie em continentes diferentes separados por oceanos. Essas questões, até então, eram explicadas por uma suposição de que existiam pontes de terra intercontinentais contínuas e estreitas que teriam sido depois submersas.
Antes de ser aceito – somente 50 anos após ser apresentado como hipótese científica –, o grande continente, Pangeia, foi rejeitado, estudado, questionado e revisto até a formulação da teoria conhecida como “Tectônica de placas”, proposta por Robert Dietz e Harry Hess no final dos anos 1960, e que viria explicar cientificamente que a camada mais superficial da crosta terrestre é formada por placas que se movem sobre o magma interno e quente, resultando na separação dos continentes que conhecemos hoje, os quais continuam em movimento. A América do Sul, por exemplo, se afasta da África cerca de 2 centímetros por ano.
Muito tempo se passou, desde a separação dos continentes, até que nossa espécie, o Homo sapiens (o homem moderno), se fizesse presente na Terra. Em artigo na Revista USP, em 1997, a paleoantropóloga da Universidade de Cambridge, Marta Mirazón Lahr, aponta que os primeiros homens surgiram no continente africano entre 200 mil e 100 mil anos atrás, afirmações que levam em conta a ausência de evidências mais antigas do homem moderno fora da África. A partir dessa “origem” tem-se formulado hipóteses de migração para os outros continentes. No caso da América, a teoria mais aceita é a de que, há aproximadamente 12 mil anos, os primeiros homens, após saírem da África para a Ásia, teriam atravessado da Sibéria para o Alasca pelo estreito de Bering, uma faixa de 90 quilômetros que, na última glaciação (período muito frio ocorrido entre 80.000 e 12.000 anos atrás) tornou-se um caminho viável. Essa teoria foi sustentada a partir de 1986 por Joseph Greenberg, Christy Turner II e Stephen Zegura, analisando as semelhanças genéticas, linguísticas e dentárias dos ameríndios com os mongolóides, após a escavação de vários sítios na América do Norte, sendo o mais antigo encontrado até aquele momento, o da cidade de Clóvis, no Novo México, com datação em aproximadamente 11 mil anos.
Até aqui, tudo parece se encaixar. Mas as coisas não são tão simples assim. Todas essas explicações são hipotéticas, sujeitas a questionamentos e correções e não foram as únicas nem as primeiras teorias formuladas. Talvez tenham sido somente as mais aceitas, por motivos que vão além de questões meramente científicas, como a hegemonia norte-americana e da língua inglesa em vários campos, entre eles o das pesquisas e publicações.
Com as crescentes pesquisas arqueológicas no Brasil e em outros países da América do Sul, evidências e vestígios mais antigos de presença humana começaram a ser encontrados por aqui. E assim começaram nossas próprias controvérsias sobre a chegada dos primeiros Homo sapiens ao nosso continente.
Os homens sul-americanos
“Estabelecer o início da ocupação de uma área em tempo geológico, seja por grupos animais ou por pessoas, depende de provar a ausência de tal ocupação no período precedente, e ausência de evidência não é a mesma coisa que evidência de ausência. Isso deixa sempre em aberto a possibilidade de restos mais antigos virem a ser achados, embora essa possibilidade diminua à medida que a evidência negativa aumenta”, afirmou Lahr no artigo publicado em 1997.
Assegurada no país como carreira acadêmica na década de 1950 (apesar de ser de interesse nacional desde o Império), ainda não existe uma prática em arqueologia que seja totalmente brasileira. As técnicas usadas aqui são oriundas de lugares com mais tradição em escavações, como Estados Unidos e França, que antes de 1950 já possuíam especialistas com diferentes visões e práticas.
Os primeiros norte-americanos a pesquisarem no país foram Betty Meggers e Clifford Evans, vindo através do Smithsonian Institution pesquisar a cultura Marajoara na Amazônia nos anos 1940. Da França, vieram pesquisadores convidados por Paulo Duarte, jornalista, arqueólogo e revolucionário, que no exílio, após participar da revolução de 1932, conheceu intelectuais humanistas do Musée de L'homme, em Paris, e em seu retorno, na abertura política de 1945, trouxe-os para transformar a arqueologia numa carreira acadêmica no Brasil. Em resumo, as práticas do casal americano e dos pioneiros franceses a pesquisar no país – Joseph e Annette Laming ‑ Emperaire – diferenciam-se pelo caráter mais descritivo dos americanos e humanista dos franceses.
A raiz do aprendizado das práticas em arqueologia é somente um dos fatores que trouxeram diferentes visões sobre vestígios e contextos estudados no Brasil e que originaram diversas controvérsias entre arqueólogos, principalmente nos anos 1980.
Ao mesmo tempo que surgia a teoria “clovista” de 11 mil anos de ocupação humana no Novo México, datações em carbono 14 (método de datação que mede a quantidade deste elemento em matérias orgânicas) indicavam vestígios materiais de 48 mil anos encontrados no interior do Piauí. Em Lagoa Santa, Minas Gerais, na década de 1970, um crânio com traços negroides era escavado e datado em 11.500 anos. Chile, Argentina e Venezuela também já possuíam datações mais recuadas que 11 mil anos na mesma época em que as evidências norte-americanas eram publicadas. A arqueóloga Maria da Conceição Beltrão estudou camadas de terra contendo artefatos líticos e fogueiras com características antrópicas (ou seja, feitos pelo homem), no interior da Bahia, e através do método Urânio-Tório (uma relação matemática entre a proporção desses elementos e a própria idade da amostra) detectou que eles tinham mais de 200 mil anos. Ela também levantou a possível presença do Homo erectus (anterior ao Homo sapiens, mas também existem controvérsias sobre se há descendência direta entre eles) em nosso solo, contestando, portanto, até mesmo a origem do homem na África.
As características do crânio encontrado em Minas Gerais por Emperaire e apelidado de Luzia já representavam um mistério aos pesquisadores, pois os ameríndios eram vistos como descedentes dos mongolóides asiáticos. A partir das diferenças observadas, em estudos e na reconstituição facial do crânio, Walter Neves, biólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo (USP), formulou a teoria de que grupos humanos advindos da Austrália ou da África teriam atravessado o estreito de Bering antes dos asiáticos. Paul Rivet, humanista francês, considerando semelhanças linguísticas e físicas entre povos da Patagônia e da Austrália, defendia a possibilidade de travessias em embarcações pelo oceano Pacífico.
Métodos diversos, resultados divergentes
Em artigo publicado na revista Ciência e Cultura, Pedro Paulo Funari, professor do Departamento de História e pesquisador do Núcleo de Pesquisas Ambientais (Nepam), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), traz um panorama do cenário político e intelectual no Brasil dos anos 1970, quando tantas hipóteses eram formuladas.
“As controvérsias podem se dar tanto na coleta do material, na análise, no método usado para analisar e na interpretação. E isso é normal na ciência, não é algo que ocorra só na arqueologia. Mas eu acho que a arqueologia tem um potencial de controvérsias muito grande. Primeiro, pelo fato de que você tem diversos métodos que são físicos, químicos, biológicos. Você tem uma série de métodos e de teorias que estão tratando do objeto. Você tem uma série, inclusive, de ciências (envolvidas). Então, o potencial de haver barulho de comunicação, de haver divergências é muito maior até do que em outras áreas”, avalia. Essa observação de Funari, além de salientar a forte tendência da arqueologia a controvérsias, enumera os passos do processo de pesquisa arqueológica, que, especialmente em estudos da pré-história, conta com a prospecção, a sondagem, escavação, análise e publicação dos resultados de pesquisa.
A prospecção de terrenos consiste na busca pelas áreas que poderiam abrigar ocupações humanas. Essa etapa já está sujeita aos conceitos seguidos por cada profissional. Um exemplo disso: pesquisadores adeptos da arqueologia processual ou new archeology (conceito criado por Lewis Binford na década de 1960, que considerava regularidades no comportamento humano), buscarão áreas próximas a rios e fontes de água, já que faz parte de seu entendimento que os grupos tendem sempre a otimizar seus esforços. Já os pesquisadores que estudam pinturas rupestres consideram que toda a área onde são encontradas pinturas pode conter também outros vestígios, como fogueiras.
Após a prospecção vem a sondagem, uma análise do terreno que determina quais recursos e métodos serão utilizados para a realização do trabalho. Diferentes terrenos envolvem diferentes ferramentas, expectativas, tempo de trabalho e olhares. Em seguida, vem a escavação, processo prático de coleta dos materiais. Nesse momento, surge uma forte característica no estilo de trabalho influenciado por arqueólogos franceses, que desenvolveram as chamadas escavações de ampla superfície: delimita-se grandes áreas para serem escavadas, camada por camada, ao invés de se fazer um corte profundo em uma área menor.
Cada sistema prioriza diferentes objetivos. No caso das escavações de ampla superfície, consegue-se observar um contexto maior de interação entre os possíveis ocupantes daquelas áreas, com chances também ampliadas de se encontrar vestígios humanos, mas é um processo mais demorado e trabalhoso. Já nos cortes mais profundos em áreas pequenas (praticados nos Estados Unidos e em muitos outros países), pode-se chegar rapidamente a camadas mais antigas, mas o entendimento do local pode tornar-se mais limitado.
Após todas essas etapas, vem a análise, que inclui a limpeza, datação e junção de todas as observações feitas no sítio para finalmente se formular teorias e hipóteses que levam à publicação de trabalhos em revistas especializadas. Essas hipóteses, por sua vez, deverão se sustentar nas evidências encontradas e irão reforçar, refutar ou ignorar teorias anteriores que explicam a ocupação dos continentes.
Para o pesquisador italiano Fábio Parenti, que analisou em seu doutorado, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, uma jazida paleolítica (concentração de elementos pré-históricos) contendo artefatos líticos (rochosos) e fogueiras no sítio da Pedra Furada, localizada na Serra da Capivara, interior do Piauí, a teoria “é um conjunto de afirmações logicamente conectadas que tem uma base que seja possível verificar ou falsificar. No caso da arqueologia, que imita as ciências sem poder ser completamente científica, as teorias têm muito a ver com as visões da história e dos processos evolutivos”.
Parenti é arqueólogo pré-histórico com estudos na Itália e na França. Atualmente, preside o Istituto Italiano di Paleontologia Umana e é professor visitante da Universidade de São Paulo (USP). Sua tese, orientada por Niède Guidon, afirma, mediante análise de artefatos líticos e datações em carbono 14 de pedaços de carvão oriundos das fogueiras, que a presença humana na região da Serra da Capivara data de mais de 48 mil anos (recuou para 60 mil após sua defesa), o que refuta a teoria mais aceita de ocupação do continente americano, que considera a chegada humana à América há cerca de 11 mil anos. A tese do pesquisador, concluída em 1993 e publicada na Editions Recherches sur les Civilisations em 2001, detalha as condições e características em que as fogueiras e os artefatos líticos foram encontrados, descreve experimentos com mais de mil seixos da área para compará-los às características que indicariam ações humanas.
O que se tornou motivo de controvérsia no Brasil e nos Estados Unidos é a procedência dos artefatos líticos e dos carvões datados, já que os primeiros passaram por movimentações naturais antes de serem analisados. Seriam essas peças resultados de ações humanas ou de intempéries da natureza? Se os homens não vieram pelo estreito de Bering, do continente asiático para a América do Norte, antes de migrarem para o Sul, teriam vindo navegando pelo Pacífico ou Atlântico. Mas onde estão as evidências dessas navegações há 50 mil anos? Também outros arqueólogos, como os norte-americanos David Meltzer, James Adovasio e Tom Dillehay (este último responsável por escavações em Monte Verde, no Chile), consideraram em 1996 os seixos analisados por Parenti sem interferências humanas, afirmando, portanto, que os lascamentos seriam naturais.
Em depoimento para o livro O paraíso é no Piauí, a descoberta da arqueóloga Niède Guidon, lançado em 2010 pela jornalista Solange Bastos, o pesquisador e chefe da atual Missão Franco-Brasileira Éric Boëda, professor na Universidade Nanterre especialista em tecnologia lítica, diz que os artefatos são, sim, antrópicos (sofreram ações humanas): “Só esses elementos trazidos por Parenti me bastariam, mas ainda entrou a experimentação. Vemos que esses elementos precisam de uma cadeia operatória complexa, com gestos que deveriam se suceder de uma determinada forma. Às vezes, implicam em 60 gestos numa determinada ordem. Na natureza seria impossível uma sequência de 60 gestos, muito menos reproduzida na mesma ordem”, descreve o pesquisador sobre o processo de manuseio e de lascamento de uma rocha.
Na época em que as afirmações sobre o sítio foram a público, um forte crítico das metodologias usadas e dos resultados obtidos nas primeiras escavações da Pedra Furada foi o arqueólogo André Prous, professor da USP e autor de importantes estudos sobre arqueologia no Brasil. Em artigo publicado em 1997 (antes da tese de Fábio Parenti sair como livro, mas após a publicação das datações na revista Nature, por Niède Guidon e Georgette Delibrias, em 1986), Prous lança questionamentos justamente acerca das conclusões sobre os artefatos e fogueiras, alegando que as condições das peças não permitiam conclusões precisas.
Essa já é uma discussão antiga, que gerou não só controvérsias acadêmicas, mas levou a conflitos pessoais e jurídicos entre profissionais da área. O fato é que surgem cada vez mais evidências e estudos que distanciam a chegada do Homo sapiens à América dos 11 mil anos.
Um artigo recente, publicado este ano no periódico Journal of Archaeological Science por Christelle Lahaye e outros autores, também traz datações de um sítio na Serra da Capivara, a Toca da Tira Peia, (sítio que o texto aponta estar com a integridade “fora de questionamentos”), com camadas de sedimentos contendo vestígios humanos que foram expostos ao método de termoluminescência. O método consiste na liberação de elétrons ionizados presentes em defeitos da amostra. Esses elétrons se acumulam com o tempo e, quando aquecida, a amostra produz uma iluminação cuja intensidade pode indicar o tempo passado desde seu último aquecimento. O resultado da análise mostrou que os vestígios eram de aproximadamente 20 mil anos atrás. O mesmo artigo aponta os sítios Monte Verde, no Chile, e Taima Taima, na Venezuela, como fortes contestadores da teoria “clovista”, mas que também são alvos de controvérsias por diferentes razões.
As evidências de que a ocupação na América do Sul é anterior a 12 mil anos não significa que não houve a passagem pelo Alasca, mas que outros trajetos também podem ter sido percorridos. Como, então, responder a essas questões que nos remetem a um passado que o próprio tempo muitas vezes apaga?
Trabalhando da forma como aprenderam e como confiam para enfrentar os desafios que encontram, cabe aos profissionais da arqueologia conciliar técnicas e interpretações para a formulação de hipóteses que podem só vir a se confirmar muitos anos após serem concebidas. Essas confirmações seriam o encontro de evidências livres de margens para dúvidas, elementos combinados que expliquem questões sobre o ambiente, as ferramentas e interações, como a presença de fósseis humanos nas mesmas camadas que outros vestígios, por exemplo. Sabe-se porém, que não são todos os ambientes que conseguem conservar matéria orgânica por muito tempo. Acidez do solo, erosão e mudanças climáticas são somente alguns dos fatores destruidores dos vestígios; e quanto mais antigos, mais frágeis esses vestígios. Faz-se necessário sempre buscar novas tecnologias e métodos que viabilizem o acesso ao máximo de elementos que, juntos, remontem aos tempos passados.
Questionamentos na ciência sempre surgirão e empurram as pesquisas para aperfeiçoamentos e preenchimento de lacunas. O único consenso entre os pesquisadores é que, para se criticar qualquer pesquisa, é preciso ler a fundo e conhecê-la bem, especialmente na arqueologia, que é um trabalho investigativo onde cada detalhe é muito importante.