domingo, 30 de setembro de 2012

INDÍGENAS DE MATO GROSSO E RONDÔNIA

Índios da Aldeia Mamaindê-Cabixi da etnia Nambiquara, Mato Grosso-MT .Foto Dimas Cunha/2012

Nambiquara
Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da Costa

Etnia que vive atualmente em parte do oeste de Mato Grosso e sul de Rondônia, na faixa de terras compreendida entre as cabeceiras dos rios Juruena e Guaporé. Esse território é circundado ao norte pelos Rikbaktsa, Enauenê-Nauê (Salumã), Menkü e outros; ao sul e a leste pelos índios Haliti (Paresi); e a oeste pelos Aikanã e Cinta-Larga, em Rondônia. A etnia Nambiquara é constituída de vários grupos que ocupam espaços ecologicamente distintos, como a Serra do Norte, o Vale do Guaporé e a Chapada dos Parecis, cada qual com hábitos culturais diferenciados.
A denominação dos grupos pode estar relacionada à sua região de ocupação tradicional, ao nome de chefe do grupo ou a uma atividade em que o grupo se sobressai em relação aos demais. A família lingüística Nambiquara é independente, sem ligação com quaisquer outras da América do Sul e constitui-se de três línguas faladas: a Nambiquara do Sul (dos grupos do Vale do Guaporé e Chapada dos Parecis), a Sabanê e a Nambiquara do Norte (dos grupos Nambiquara da Serra do Norte). Apesar da diversidade dialetal presente na língua, todos os grupos que constituem a etnia Nambiquara constituem uma unidade maior e até homogênea, apesar das diferenças regionais. As primeiras referências sobre esse povo, hoje conhecido por Nambiquara, datam do século XVIII, quando as bandeiras paulistas atingiram o oeste mato-grossense.
 Os grupos da Serra do Norte e da Chapada dos Parecis, no início do século XX entraram em contato com os integrantes da Comissão Rondon que objetivou a ligação do Estado de Mato Grosso ao Amazonas através da Linha Telegráfica que cruzou os divisores das águas das bacias Platina e Amazônica, Juruena e Guaporé. Entre os anos de 1907 e 1915, a Comissão Rondon instalou em território Nambiquara várias estações telegráficas: as de Pontes e Lacerda, Nambikwára, Utiariti, Juruena (Major Amarante) e Pyreneus de Souza, em Mato Grosso; e, em Rondônia, as de Vilhena e José Bonifácio. Alguns grupos Nambiquara, principalmente os da Serra do Norte, receberam assistência do Serviço de Proteção ao Índio, que procurou discipliná-los para os trabalhos agro-pastoris, desconhecendo e desconsiderando por completo sua organização social. Diversas instituições religiosas católicas e protestantes tiveram contato com os grupos Nambiquara, a fim de catequizá-los.
Mesmo que algumas delas tenham permanecido durante décadas em terras Nambiquara, suas intenções missionárias foram infrutíferas. No início do século XX, segundo estimativas de Cândido Mariano da Silva Rondon, a população Nambiquara era composta de 20.000. As doenças infecto-contagiosas, principalmente o sarampo e a tuberculose, e o contato desenfreado com os agentes de contato contribuíram drasticamente para a redução da população. Somente do final da década de 1960 é que a Fundação Nacional do Índio inicia o processo demarcatório das terras Nambiquara. Processo esse até hoje não definido. Do imenso território tradicional com áreas contíguas que outrora abrigava todos os grupos Nambiquara, alguns deles hoje extintos, o pouco que resta está agora dividido em nove áreas, algumas não contíguas: Terra Indígena Nambikuara, Vale do Guaporé, Pyreneus de Souza, Lagoa dos Brincos, Taihãtesu, Pequizal, Sararé, Tirecatinga, Tubarão-Latundê.
http://www.matogrossoeseusmunicipios.com.br/NG/

terça-feira, 25 de setembro de 2012

VENTOS NA ESTRATOSFERA


Atmosfera

VENTOS NA ESTRATOSFERA INFLUENCIAM TEMPERATURA DO OCEANO

Cientistas descobrem que fenômeno climático a dezenas de quilômetros de altitude têm impacto nas correntes marítimas



A interferência da estratosfera sobre os oceanos só é possível pela existência, no Atlântico Norte, de uma área extremamente sensível às mudanças de temperatura, batizada pelo pesquisador de "calcanhar de Aquiles" (iStockphoto)

Um fenômeno climático que ocorre na estratosfera (entre 24 e 48 quilômetros de altitude) define o comportamento de correntes marítimas nas profundezas do oceano. Já se sabia que a troposfera (a parte da atmosfera que vai da superfície até 9,6 quilômetros de altura) é influenciada pela estratosfera e pelas correntes marinhas. Agora, pela primeira vez, cientistas da universidade americana de Utah estabeleceram a relação entre os dois extremos, separados por dezenas de quilômetros.

O mais interessante, de acordo com o cientista Thomas Reichler, autor do estudo publicado neste domingo no jornal científico Nature Geoscience, é que essa interferência só é possível porque se dá sobre uma região específica e extremamente sensível dos oceanos, ao sul da Groenlândia, batizada por esta razão de "calcanhar de Aquiles" do Atlântico Norte.


A equipe de Reichler percebeu, após diversas simulações, uma correlação entre os padrões de ventos estratosféricos conhecidos como vórtice polar (polar vortex em inglês; veja ilustração ao lado) e do comportamento das correntes marítimas. Periodicamente, os ventos da estratosfera enfraquecem ou até mesmo mudam de direção, influenciando a troposfera, que, por sua vez, impacta os mares. 
Thomaz Pinheiro



A mudança de temperatura na troposfera atua diretamente sobre o Atlântico norte, sobretudo na região ao sul da Groelândia. Ali, a baixa temperatura e a ocorrência de grandes quantidades de sal aumentam a densidade da água, formando uma coluna gelada, sensível às mudanças atmosféricas. Como efeito, todas as correntes marítimas são afetadas e sofrem alterações de temperatura.
Observando um padrão histórico de 30 anos, os cientistas conseguiram identificar uma relação entre as mudanças de comportamento nos ventos estratosférico e as alterações nas correntes no Atlântico norte.
Ação humana – Ao site de VEJA, Thomas Reichler disse que a descoberta pode influenciar nas previsões do aumento de temperatura causada pelo aquecimento global. Mas ainda é cedo para saber os efeitos de um fenômeno sobre o outro no longo prazo. "Os ventos da estratosfera podem agir para um lado ou para o outro, para o aquecimento ou para o resfriamento da temperatura", diz. "A ação humana, por outro lado, sempre causará o aquecimento, porque sempre jogará mais CO2 na atmosfera." 

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/ventos-na-estratosfera-influenciam-temperatura-do-oceano-diz-estudo.





segunda-feira, 10 de setembro de 2012

RIO ROOSEVELT, O RIO DA DUVIDA

EQUIPE DE PROFESSORES ENCONTRA O LOCAL DA NASCENTE DO RIO ROOSEVELT EM VILHENA

Por Dimas Cunha



Theodore Roosevelt, Cândido Rondon, o naturalista norte-americano George Cherrie, Kermit Roosevelt e demais membros da expedição científica que explorou o Rio da Dúvida posam para a foto histórica em 1914 ao concluir o penoso e exaustivo trabalho.


A HISTÓRIA

         O Rio Roosevelt, antes denominado Rio da Dúvida por Rondon, é o único rio brasileiro que leva o nome de um ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, um dos presidentes mais populares que o país já teve. O nome se deu em homenagem ao ilustre convidado pelo governo brasileiro que, junto com Rondon, empreendeu o trabalho de exploração e mapeamento do rio desconhecido entre 1913 e 1914. A Expedição Científica Roosevelt-Rondon teve parte de seu financiamento patrocinado pelo Museu de História Natural Americano. As notícias sobre a expedição ocuparam as manchetes da imprensa internacional e projetou o nome de Rondon como naturalista brasileiro no mundo inteiro. Durante a expedição foram coletadas várias  novas espécies de animais e insetos   que fazem parte do acervo do museu em Washington e Nova York. A Expedição Científica Roosevelt-Rondon também foi registrada em milhares de fotografias, mapas e em dois filmes que fazem parte do acervo cinematográfico da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
         A jornalista norte-americana Candice Millard (2010), redatora e editora da revista National Geographic em seu livro publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras sob o título O Rio da Dúvida – A sombria viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia fez uma abordagem histórica sobre o evento num relato excepcional dessa aventura singular pelas selvas brasileiras.

O PROJETO

O Rio Roosevelt é um formador da Bacia Amazônica tem sua nascente no município de Vilhena e seu estudo faz parte do Projeto de Educação Ambiental Água, Escola e Ambiente da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Zilda da Frota Uchôa. A Coordenação de Projetos de Educação Ambiental da referida escola - dando prosseguimento aos trabalhos de mapeamento das nascentes dos rios localizados no município de Vilhena incluídos no Projeto Água, Escola e Ambiente - realizou, nos dias 10, 12 e 16 de julho de 2012, três expedições para reconhecimento do local da nascente do Rio Roosevelt. Alunos da unidade escolar e professores envolvidos no referido projeto só participam das expedições científicas às nascentes dos rios propostos depois do reconhecimento antecipado do local e do acesso ao curso d’água que seja objeto de pesquisa. Para isso, a escola conta com uma equipe especializada que faz o reconhecimento do local a ser estudado e viabiliza junto às instituições que apóiam o empreendimento as condições necessárias para o sucesso da expedição. São parceiros do projeto Prefeitura Municipal de Vilhena, 3º Grupamento de Bombeiros IBAMA e ONG/Millennium.

O OBJETIVO

O estudo do Rio Roosevelt - tendo como base a Expedição Científica à sua nascente - oferece aos alunos a oportunidade de interagir com o espaço estudado em sala de aula permitindo a confirmação ou não das hipóteses levantadas durante as aulas teóricas. A coleta de dados na atividade de campo fortalece o vínculo entre estudo e pesquisa oportunizando o trabalho em equipe e a auto-estima. O rio pesquisado nessa oportunidade tem como pano de fundo a história de um empreendimento científico sócio-econômico e político que envolveu o governo brasileiro e o norte-americano. As questões transculturais entre duas equipes de participantes estiveram em choque ao longo de 60 dias - período do mapeamento e pesquisa do curso d’água até então desconhecido pelos naturalistas e geógrafos brasileiros.

EM BUSCA DA NASCENTE 

A primeira expedição visando à localização da nascente do Rio Roosevelt foi realizada no dia 10 de julho de 2012, terça-feira. A equipe formada pelos professores Claudionor Ferreira de Moraes, Sinézio Bispo dos Santos, Ana Nere Paula Assis, Carlos Antonio Táglia, funcionário da SEDAM e o motorista do IDARON Fábio Rodrigues Franco, apesar de várias tentativas por diversos caminhos, não obteve êxito na busca pelo local da nascente.

 A segunda expedição foi realizada em 12 de julho de 2012, quinta-feira. 

Uma nova equipe formada pelos professores Claudionor Ferreira de Moraes, Sinézio Bispo dos Santos, Ana Nere Paula Assis, Neura A. de Oliveira e o professor convidado, Cícero Dimas da Silva Cunha, representando a ONG/Millennium, com base nas informações fornecidas pela SEDAM e munida de equipamento de GPS partiu em direção ao local da nascente. A equipe seguiu de carro pela BR-174 e à altura do Secador entrou à esquerda continuando por uma estrada vicinal até chegar num trecho da estrada onde - segundo informações repassadas à equipe - havia uma ponte e o suposto local da nascente. Chegando ao ponto indicado a equipe de professores constatou que não havia ponte e não encontrou nenhum sinal de água que pudesse identificar um afloramento de algum lençol subterrâneo. No local só havia areia depositada pelas enxurradas do mais recente período chuvoso. 

Com essa constatação a equipe decidiu entrar na mata através de uma trilha já aberta por madeireiros para encontrar o caminho que possibilitasse encontrar a nascente do rio. Foi uma caminhada de mais de três horas. Ao longo do caminho a equipe encontrou macacos que saltavam nas copas das árvores com seus gritos característicos assustados com os intrusos. Muitos pássaros cantaram alertando os habitantes da floresta que estavam recebendo visitas. O que mais se destacou entre os demais foi o pássaro seringueiro com seu canto forte e agudo.

 A equipe caminhou a passos rápidos mata adentro ansiosa para encontrar o local da nascente. Nenhuma pista. Nenhum sinal. Nada. 
Mais adiante, depois de um longo tempo de caminhada, a equipe desceu por dentro da mata fechada e encontrou um vale raso, cerca de uns cem metros à esquerda da trilha. Nem sinal de água. Fazendo uma última tentativa indo por fora da mata, seguindo pela estrada, a equipe encontrou a cerca de três quilômetros abaixo do local do primeiro acesso (trilha) ,dentro da reserva indígena, um trecho do Rio Roosevelt com certo volume de água.

A LOCALIZAÇÃO

No dia 16 de julho de 2012, segunda–feira, a equipe voltou ao local, e, com as orientações fornecidas pelo administrador da Fazenda Independência conseguiu finalmente descobrir a nascente e fazer a localização por GPS determinando as coordenadas geográficas. A nascente do Rio Roosevelt fica dentro da propriedade no local onde ainda existe parte da mata preservada.

Antes da localização da nascente, o momento mais difícil foi o encontro inesperado dos membros da expedição com um bando de porcos selvagens que, alertados pelo barulho da equipe, saiu em debandada por dentro da mata fazendo um tremendo barulho deixando todos preocupados com o que poderia acontecer. Os porcos selvagens são agressivos e seu ataque é fatal. A equipe de professores verificou que habitat dos porcos selvagens é o entorno da nascente onde há água e comida em abundância. Os porcos cavam poças para se refrescarem em todo vale e constroem abrigos por baixo dos troncos das árvores caídas.
A OBSERVAÇÃO
 Um fato curioso é que a nascente do Rio Roosevelt não poderia ser encontrada nem pelas informações fornecidas pela SEDAM, nem pelo mapa do IBGE. Ao longo do tempo, com a constante retirada da vegetação nativa, está havendo um deslocamento do local da nascente à jusante do rio à proporção que o manancial subterrâneo deixa de obter recarga durante o período das águas.

 A floresta nativa é extremamente importante para a manutenção do lençol freático. O intrincado sistema radicular da mata funciona como um eficiente mecanismo de retenção das águas pluviais que se acumulam no subsolo, sendo o principal responsável pelo reposição volume de água que abastece as nascentes dos rios. Outra função importante desse sistema é não permitir o carreamento de minerais e matéria orgânica pelos cursos d'água, razão pela qual são cristalinos os ribeirões pelos quais escoa a água excedente.

O MÉRITO

Um fato que merece registro: a equipe de professores envolvida com o Projeto Água, Escola e Ambiente da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Zilda da Frota Uchôa dedicada a proporcionar aos educandos da referida unidade escolar melhores condições de ensino-aprendizagem empreendeu esforços nos seus dias de folga para que os alunos pudessem realizar a pesquisa de campo, contribuindo de modo efetivo com sua formação educacional.